Luanda – Um médico já afirmado no «sector da inseminação artificial» revela que, em 10 anos de trabalho com pacientes angolanas, pelo menos 100 bebés nasceram sob o seu tratamento. Será este o motivo que fez com que as nossas «mamas» com problemas de «alcançar» se tivessem rendido (aquelas que podem, é claro!) ao «encanto» dos recursos brasileiros neste domínio?!

*N. Talapaxi S.e Romão Brandão
Fonte: SA

Três anos depois de ter casado, em 2005, a angolana A.F., hoje quase na idade de Cristo (está com 32 anos), residente em Luanda, achou que alguma coisa estava errada no facto de até então não engravidar. E certamente estava pois ela era uma jovem com pouco mais de vinte anos, isto é, no auge do seu tempo de fertilidade. Ela fez osexames ginecológicos e ficou a saber que tinha apenas um pequeno tumor e nada mais. Mas continuou a não «alcançar».

Quatro anos depois, em 2009, junto com o marido, A.F. rumou para o Brasil em busca de solução para o seu caso. Foi descoberto que abrigava um grande mioma e teria que passar por uma cirurgia para a sua retirada. Feitoisso, com sucesso, voltou ao Brasil em 2011, para tratar da infertilidade. Em Agosto do ano passado deu a luz o seu primogénito.

M.A. é outra angolana em busco do sonho de tornar-se mãe. A sua expectativa já dura 18 anos. Agora conta agora com «trinta e muitos anos» de vida, perto dos quarenta. Diz que descobriu cedo que não poderia ter filhos pois o namoro de cinco anos sem nenhum planeamento familiar não gerou nenhuma gravidez. Mas aos 23 anos conseguiu engravidar para seis meses depois perder o bebé num aborto que não tinha provocado. Aconteceu de repente.

De lá pra cá, M.A. sofreu em silêncio a angústia das probabilidades, afirma que «não falava nada porque estava na esperança de que haveria de engravidar». Mas nada. Até que no ano antepassado, depois de um tratamento satisfatório no Brasil, conseguiu «alcançar», ficou grávida de gêmeos.

Mas a sorte novamente lhe escapou: levou a gravidez para Angola e quando voltou para o Brasil com o intuito de ter os bebés, perdeu-os num outro aborto. Entretanto, ela não esmoreceu. Com a ajuda do marido e de familiares partiu para uma nova tentativa. Está novamente grávida – pela terceira vez. Para não correr mais riscos instalou-se em São Paulo e vai ficar até o fim da gestação, com o acompanhamento do especialista em reprodução humana que a tratou.  

O caso de A.F. é quase o mesmo da maioria das mulheres angolanas que há mais de dez anos costumam ir ao Brasil adejando o sonho de se tornarem mães. E o caso de M.A. retrata um pouco do drama pelo qual muitas dessas senhoras passam até chegarem a tão desejada maternidade.

Não conseguimos obter os números estatísticos referentes a este turismo de reprodução humana que os angolanos vêm configurando a vários anos no Brasil,  mais incidentemente desde que o país reencontrou o estado de paz política.

GRANDE E RICA CLIENTELA

O Dr. Joji Ueno, ginecologista e responsável pelo Setor de Histeroscopia Ambulatorial do Hospital Sírio Libanês em São Paulo, calcula em vinte a trinta pacientes angolanas atendidas nos últimos anos na sua clínica, tendo feito o tratamento de reprodução em pelo menos metade delas.

O mesmo acontece na clínica da Dra Silvana Chedid, que há 17 anos dirige o Centro de EndoscopiaPélvica e Reprodução Humana do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo. Em declarações ao SA a especialista afirma que nos últimos quatro anos atendeu umas trinta angolanas e 50 por cento delas fez o tratamento.

Outro especialista em medicina reprodutiva, e responsável pelo Sector de Reprodução Humana do Hospital Pérola Byington, também em São Paulo, o Professor Dr. Gilberto da Costa Freitas, apresenta números ainda mais promissores, se bem que parecendo proporcionais ao tempo em que declara atender cidadãos angolanos.

Para o Dr. Gilberto não há como precisar um número pois muitos dos seus clientes angolanos já residem no Brasil e não teria como diferenciá-los. Mas presume que a sua clínica tenha mais de 200 casais «muangolês» cadastrados a partir de um atendimento anual que chega a ultrapassar 300 casos. Ainda assim a participação da clientela angolana na clínica desse médico representa poucomenos de um por cento do toral de atendimentos. O Dr. Gilberto Freitas acredita que em 10 anos de trabalho com as angolanas pelo menos 100 bebés angolanos nasceram sob o seu tratamento. 

A grande maioria das angolanas faz o tratamento na cidade de São Paulo onde está concentrada a maior parte das maiores e melhores clínicas dessa especialidade no Brasil. Acrescente-se o facto de a cidade ser, ao lado do Rio de Janeiro, o ponto de desembarque aéreo dos voos vindos de Luanda e aí esta um motivo a mais para que os angolanos prefiram hospedar-se lá.  Entretanto, outras cidades também recebem pacientes de Angola.

O facto é tão proeminente que chamou a atenção da imprensa local: «Fertilização entra na rota do turismo brasileiro;Técnica atrai pacientes de outros locais do mundo». Entre as nacionalidades que buscam o tratamento da infertilidade na «terra do carnaval» estão cidadãos dos países de língua portuguesa e até norte-americanos e europeus – que encontram lá preços mais baratos do que os cobrados pelo mesmo serviço nos seus países. Entretanto, de acordo com as notícias e com as informações dos médicos consultados, estima-se que o número de clientes angolanos dessas clínicas só perde para a clientela dopróprio país.

Segundo o Dr. Nelson Antunes Junior, um dos craques nessa área, com 30 anos de experiência em campo, a média de fertilidade da África negra – e isso inclui Angola, é de 5,3 filhos por casal. Partindo-se dessa estimativa, se depender da vontade de ter filhos das «mamas da banda», e enquanto os recursos em Angola não permitirem, não será tão já que as clínicas tupiniquis vão perder a sua rica clientela.

Vejamos o exemplo da M.A. Ainda nem sequer deu a luz ao primogénito fertilizado «in vitro» e já faz planos para as futuras crias pois pretende ter mais filhos - «Estou a mercê de Deus. Se ele permitir e eu engravidar, muito bem. Se não, voltou ao Brasil para ter o segundo filho», afirma com jeito de promessa.

MAIS IDADE, MAIS RISCOS

A grande maioria das mulheres – angolanas ou não - que procuram pelo serviço de reprodução humana passam dos 35 anos de idade, conforme nos fizeram saber os médicos entrevistados. Particularmente as  pacientes angolanas tem em média 40 anos de idade. Há casos raros - como o da jovem A.F. - com menos de 35 anos. e o de uma senhora de 50 anos, paciente do Dr. Joji Ueno, que ainda quer ter um filho.

A dificuldade de engravidar tende a ser maior quanto mais idade tem a mulher. No que os especialistas deram a conhecer uma mulher de 25 anos leva em média de dois a três meses para engravidar normalmente, já uma de 35 anos pode levar metade de um ano. E as chances ficam menores ainda tratando-se de uma mulher com mais de 40 anos.

Diz o Dr. Gilberto Freitas que, com as angolanas, o tratamente mais frequente é o da fertilização in vitro (bebé de proveta) «pelos mais variados motivos, inclusive por ser o tratamento mais eficiente».  No entanto, como o processo é feito de tentativas as falhas estão previstas no percurso, pelo que deram a entender os médicos.

A Dra Silvana Chedid já teve casos de tentativas que não deram certo. «Nenhum tratamento de fertilização in vitro dá 100% de chance de sucesso. E a chance de sucesso é tanto mais alto quanto mais jovem a mulher. Então as vezes não dá certo na primeira tentativa. Mas poucos casos de angolanas não deram certo», revela.

Diz a médica que com o tempo os óvulos da mulher ficam mais velhos e a sua capacidade de fertilização se torna menor. Por isso o tratamento das mulheres mais velhas depende da doação de óvulos. E quem faz essa doação são mulheres jovens, em idade fértil.

Esse procedimento é raro entre as angolanas. A Dra Silvana, em quatro anos, registou  apenas um caso de uma paciente angolana que precisou de doadora de óvulo. Sabe-se que o mercado tem falta de doadoras de óvulos, de um modo geral. E doadoras negras parece que faltam mais ainda, assim como orientais também.
No caso do homem, a doutora anota que o declínio da fertilidade é insignificante e geralmente ocorre após os 60 anos.

O CUSTO DO TRATAMENTO

Tudo leva a crer que o custo dos tratamento varia dependendo de cada caso. Contudo, há uma variação estabelecida pela qualidade de serviço que cada profissional julga oferecer.De uma forma geral,  para o Dr. Gilberto Freitas, «em um ciclo de fertilização in vitro o casal pode gastar entre 15 e 20 mil reais (mais ou menos 10 mil dólares americanos).

Preste-se atenção ao facto de que o tratamento é feito de tentativas de fertilização. Portanto cada tentativa tem um custo. Desde modo quanto maior o número de tentativas maior é o custo do processo. Pressupõe-se com isso que o custo de tratamento também eleva-se consoante aumenta a idade da paciente já que estas exigem maior número de tantativas para um resultado eficiente.

É de salientar que no conjunto do tratamento, as drogras (remédios) ocupam um gasto considerável, que representa em torno de até 40 por cento do valor total. Significa dizer que um tratamento de 10 mil dólares é capaz de consumir só de remédios algo em torno de quatro mil.

Como já se tornou hábito muitas angolanas instalar-se no território brasileiro enquanto durante o período de gestação, os custos desta destadia eleva mais o valor dos gastos para o dobro.

INSEMINAÇÃO «MADE IN ANGOLA»

Uma iniciativa privada em matéria de reprodução humana, intitulada Projecto Vida, está em curso no país desde 2008, com a ambição de tornar-se pioneira nessa matéria. A parceria estabelecida entre o Centro Médico Santo Antonio, de Luanda, e a Master Medicina Reprodutiva, de São Paulo, poderá trazer para o país o melhor que a tecnologia brasileira tem usado nesse ramo.

Resultado da amizade entre o médico e empresário angolano, Dr. Francisco Cristóvão Vaz, e o Dr. Nelson Antunes Junior, médico brasileiro especializado em Reprodução Humana,  o centro de reprodução humana está sendo erguido no Talatona com o objectivo de abriu com o que há de mais moderno e eficiente, do ponto de vista diagnóstico e terapêutico.

Aquando do lançamento desse Projecto tinha sido anunciado que o custo total da implementação do plano consumiria seis  milhões de dólares. Na ocasião, outro médico brasileiro também perito em repredução humana, o Dr. Newton Eduardo Busso, tinha dito que  aquele montante a investir contemplava os encargos com aquisição do espaço, obras de construção cívil, equipamento e tecnologia, e transferência de pessoal qualificado para treinamento de médicos angolanos.

Em princípio o centro de reprodução tinha a previão de estar pronto depois de um ano que foi apresentado o Projecto Vida, isto é, em 2009, e prometia seria uma referência da especialidade de reprodução na região da Africa subsaariana.

O Semanário Angolense vai envidar esforços para, nas próximas edições trazer mais informações repeitantes ao caso, por meio do Dr. Francisco Cristóvão Vaz, que é o responsável da obra do centro de reprodução humana em construção no Talatona.

Ao mesmo tempo trará uma entrevista feita com os dois médicos brasileiros do Projecto Vida, o Dr. Nelson Antunes Junior e o Dr. Newton Eduardo Busso, onde falam dos programas  que pretendem implementar em Angola e revelam quando poderá nasceu o primeiro bebe de proveta sob o seu tratamento.

IGREJA CATÓLICA DIZ QUE INSEMINAÇÃO É DESRESPEITO A VIDA HUMANA

Os católicos condenam a inseminação artificial pelo facto de considerar essa experiência ser sacrílega - um pecado grave contra a religião e as coisas sagradas. Um autêntico desrespeita já que essa prática de reprodução humana fazer-se acompanhar da masturbação para a colheita do espermatozóide.

O SA esforçou-se para poder trazer aqui a opinião religiosa sobre o tema em causa. Contactamos diferentes instituições, mas apenas os católicos mostraram-se disponíveis a expor o seu ponto de vista.

O frei António Mbuku, destacou que o assunto é pertinente e tem suscitado muito debate, sobretudo em matérias ligadas a bioética, pois esta técnica de reprodução vem dar oportunidade aos que não podem fazer filho, por algum motivo específico. E assim a oportunidade também de dar continuidade a sua família.

«Por mais que estas técnicas que o mundo de hoje nos apresenta tenham um grande valor para o desenvolvimentohumano, não podem ir contra a dignidade humana, já que ferem o objectivo fundamental de Deus na criação do homem – que é a naturalidade. O homem tem que viver com a sua mulher, procriar de forma natural. Mas se este encontra técnicas que o levam a violar este aspecto, é imoral. E a imoralidade é condenada», disse o missionário.

De acordo com o frei, que assegura-se também na defesa do Papa Pio XII, este método de procriação é condenável por realize-se extra-matrimonialmente. O religioso explica que – primeiro: a lei divina exige que a reprodução de uma nova vida não possa ser feita, senão for fruto do matrimónio. Segundo: é igualmente imoral a inseminação artificial no matrimónio com o esperma de um dador (quando este o concede por actos contrários a natureza – a masturbação).

«Fala-se que para se conseguir o espermatozoide recorre-se a masturbação. Para nós, isto é um acto condenável; vai contra amoral religiosa. É um acto feito fora da legalidade natural, pois a masculinidade, no momento próprio (depois de contrair o matrimónio) é representada no acto sexual que marca ou carimba o casamento», realçou. 

Segundo nos fez saber António Mbuku, a Igreja Católica tem um documento que orienta e ajuda a perceber a sua posição nesta matéria, que é a «Instrução Donum Vitae». Reconhecendo o esforço do homem em evoluir tecnologicamente ainda assim alerta que é preciso valorizar a vida do ser humano, pois a vida física não esgota, em si mesma, o valor da pessoa, nem representa o valor supremo do homem.

Para os católicos  a vida humana deve ser respeitada desde a fecundação e nenhum dado experimental é suficiente para provar a existência de uma alma espiritual. «A procriação humana exige uma colaboração responsável dos esposos com o amor fecundo de Deus; o dom da vida humana deve realizar-se no matrimónio, através dos actos específicos e exclusivos dos esposos, segundo as leis inscritas nas suas pessoas e na sua união», lê-se na 5ª Instrução do documento.

A razão da condenação e do juízo moral negativo expresso sobre essas práticas está no facto da Igreja reconhecer como sendo apenas no matrimónio e na sua unidade indissolúvel o único lugar digno de uma procriação verdadeiramente responsável, com base na tradição e na reflexão antropológica.

A «Instrução Donum Vitae» aponta que as práticas heterólogas violam a unidade e a fidelidade que são intrínsecas ao matrimónio e desrespeitam o direito do filho de manter uma relação com as suas origens parentais. Também a «maternidade substitutiva» é ilícita, de acordo com o documento, porque instaura uma divisão entre os elementos físicos, psíquicos e morais que constituem afamília.

O Frei considera que «toda ciência é bem-vinda, mas desde que esteja ao serviço do bem-estar do homem.Paradoxalmente, surge o porquê da condenação se este tipo de acto dá origem a uma nova criatura. O problema está no método usado, como esta criança vai nascer, como se sentirá; o filho não saberá quem é o seu pai. Haverá, por exemplo, uma dispersão do carácter da criança, etc.».
E, finalmente, ele aponta ainda o facto de muitos indivíduos acabarem traumatizados ao ficarem a saber que são frutos de uma inseminação.