Luanda – A cidadã Fátima Sebastião revelou no passado dia 30 de Janeiro, que os funcionários da TAAG e da Ghassit que se encontravam de serviço numa das salas do Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, no dia 16 de Janeiro, por volta das 21horas, terão surripiado mil e 700 dólares que se encontravam na sua bagagem.

Fonte: O País

Segundo ela o roubo terá sido desencadeado 30 minutos depois de ter despachado a bagagem para o avião da companhia área nacional que a levaria a Lisboa para pagar parte da prestação de um imóvel que está a adquirir há 16 anos.

Apesar de ter apresentado queixa à delegação da Direcção Nacional de Investigação Criminal (DNIC) junto daquela instituição aeroportuária no mesmo dia, a nossa interlocutora teme que não consiga reaver o dinheiro pela morosidade que se regista na identificação dos presumíveis autores.

Com o fito de esclarecer os motivos que a levam a tentar usar todos os mecanismos legais para recuperar o dinheiro, Fátima Sebastião explicou que “pode parecer uma soma irrisória para muitos, mas a verdade era tudo o que consegui juntar durante os seis meses que me encontro em Angola, após ter vivido vinte anos no exterior”.

Ao tentar descrever a sua trajectória no dia da ocorrência, contou que depois de fazer o chek-in (despachar a bagagem), foi imediatamente à área dos Serviços de Migração e Estrangeiros (SME), onde depois de verificarem a sua documentação foi autorizada a permanecer na sala de embarque, enquanto aguardava pela chamada para entrar no avião da TAAG que faria o trajecto Luanda – Lisboa.

Fátima Sebastião disse que depois de sete minutos recordou-se que deixara o dinheiro que tinha para honrar os seus compromissos financeiros com um dos bancos lusos no interior da única mala que transportava e que precisava de declará-lo às autoridades para não incorrer em crime.“Fui ter com o agente da Polícia Nacional que se encontrava de serviço e lhe expliquei que, apesar de ter passado a fronteira, necessitava de ir buscar a minha mala para retirar o dinheiro”, recordou.

O agente da Ordem Pública compreendeu prontamente a situação e foi ter com um dos funcionários do balcão da TAAG, tendo-lhe explicado o que se passava. Comovido com a situação, contactou de imediato um dos seus colegas que se encontrava na placa a arrumar as bagagens no avião pelo seu telefone pessoal e pediu-lhe que retirasse a mala 151, porque a passageira pretendia retirar o dinheiro que se encontrava no seu interior.

A nossa interlocutora disse que esperou cerca de 30 minutos que lhe fossem entregues os seus haveres mas como nada disso aconteceu. Voltou então a contactar o referido funcionário que se prontificou a levá-la à área em que se encontrava a mala, designada de Multicaixa.

Ao constatar que a sala onde ficou a sua bagagem antes de ser encaminhada para o porão da aeronave estava equipada com várias câmaras de filmar, Fátima Sebastião, suspirou de alívio julgando que a mesma estaria intacta. Mas, para a sua surpresa, este sentimento foi substituído pelo desespero ao ver o jovem trazer a mala 151 com o cadeado destrancado.“Ao me deparar com aquilo disse a mim mesma: pronto, já fui assaltada.

Levantei o vestido onde estava embrulhado o dinheiro e caiu simplesmente uma nota de 100 dólares”, declarou. Segundo disse foi este o único valor que os supostos assaltantes deixaram. Naquele instante, segundo ela, surgiu um agente da Polícia Nacional que questionou os presentes sobre a razão de terem aberto a mala e, ao ser informado do que se passava, perguntou aos funcionários da TAAG e da Ghassit quem fora buscá-la e quem a acompanhara, como mandam as regras internacionais. Mas estes ter-se-ão limitado a responder que ninguém acompanhara o assunto.

No entender da vítima, se dependesse do referido agente da Polícia conseguiria reaver o dinheiro porque suspeitava que este ainda estivesse na posse de um dos presentes, mas como aquele decidiu reportar o caso ao seu superior para que fosse dado o devido tratamento, o mesmo foi encaminhado para a DNIC.

CÂMARAS AVARIADAS

“Foi ali que o meu trauma começou. Interrogaram todos os suspeitos e eles foram unânimes em afirmar que nenhum deles havia visto nada de anormal e nem sequer sabiam do que se tinha passado com a mala”, disse.

Fátima Sebastião contou ainda que tentaram recorrer às imagens das câmaras de segurança para identificar os supostos infractores e que só depois de alguns constrangimentos e vários minutos de espera foram informados que aquelas não estavam a funcionar plenamente. Mas que nada estaria perdido porque o director de segurança da Ghassit estaria em condições de ajudá-la a desvendar este mistério, cedendo as imagens de outros equipamentos.

Na esperança de que isso fosse concretizado, a nossa interlocutora disse que passou a noite num dos bancos do Aeroporto, aguardando ansiosamente por aquele responsável. Entretanto, assim que o contactou viu as suas expectativas a serem defraudadas, dado que o mesmo lhe disse que não lhe facultaria o contacto com as imagens pelo facto de o caso já se encontrar sob a tutela de dois peritos da DNIC.

Fátima Sebastião conta que, desesperada, voltou novamente a contactar o chefe de escala da TAAG, pois a companhia era a responsável pela sua bagagem, tendo sido orientada a aguardar pelo termo das investigações.

Mostra-se ainda indignada pelo comportamento do técnico do aparelho de Raios X e descreve-o como sendo um dos principais suspeitos, uma vez que a máquina foi concebida para detectar dinheiro, droga e objectos metálicos, entre outros utensílios. Principalmente naqueles casos em que o passageiro leva uma soma monetária sem declará-la, o que constitui crime de fuga ao fisco.

“Pedi ao técnico do Raios X que recuasse um pouco as imagens da máquina, para comprovar que, no momento em que passei por ali tinha o dinheiro, só que ele recusou-se alegando que a sua área não tinha nada a ver aquilo”, contou. “Pelo que percebi, acrescentou, para eles é muito normal haver roubos naquela área e enviam sempre os casos para a DNIC por saberem que a investigação leva muito tempo, principalmente quando não há imagens disponíveis”.

TRAPALHADA NO BILHETE


Como um azar nunca vem só, a passageira foi ainda informada de que deverá pagar mais de 500 dólares de multa por o bilhete de passagem que comprou fazer parte de um pacote promocional que a companhia de bandeira nacional estava a comercializar, por altura da passagem de ano.

“Se na altura em que fui comprar o bilhete de promoção disseram-me que já não havia e por isso tive que desembolsar mil e 290 dólares por um normal, como é que eles vão exigir uma coisa destas?”, questionou. Acrescentando: “não viajei porque fui roubada e eles dizem que tenho que pagar uma taxa por não ter feito o embarque sem viajar e outra por ter ficado em terra, o que faz um total de mais de 500 dólares”, contou.

No seu entender esta penalização não faz sentido dado que, no momento em que ocorreu o crime, contactou um dos funcionários da TAAG no Aeroporto, tendo este lhe assegurado que poderia comunicar ao seu superior hierárquico o que se passara para que não lhe fosse cobrada nenhuma taxa ao utilizar a passagem.

Por orientação de alguns familiares e amigos, recorreu à delegação da Procuradoria Geral da República no Aeroporto na esperança de conseguir ver o seu problema resolvido mas eis que foi informada que nada poderia ser feito porque o caso ainda se encontra sob a responsabilidade dos peritos da DNIC.Questionada sobre a razão de não levar o dinheiro numa bolsa de mão, esclareceu que como pretendia permanecer apenas cerca de três ou quatro dias em terras de Camões, optou por levar simplesmente uma mala de mão, onde guardou os mil e setecentos dólares embrulhados no único vestido que levava, por falta de envelope. Mas que este seu plano inicial foi alterado à última da hora quando lhe pediram que levasse dois pacotes de carne seca a um parente que se encontra em Portugal, tendo optado por uma pasta maior.

Contactado por O PAÍS um funcionário do Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro explicou que a TAAG, na qualidade de transportadora aérea em que a senhora seguia viagem, é responsável pela bagagem dos seus passageiros, de acordo com as regras internacionais.

Por outro lado, considerou ser quase impossível acontecerem casos do género naquela instituição pelo facto de a sala onde ficam os tapetes rolantes ser vigiada por seguranças da WSS, funcionários da Ghassist e da companhia de serviço, no caso a TAAG. Na esperança de obter mais informações sobre o caso, este jornal envidou todos os esforços necessários para ouvir a direcção das duas empresas, no que não teve êxito.