Luanda  - De regresso a minha última viagem á South-Africa, a bordo de uma das modernas aeronaves da SAA, o sinal sonoro de que estávamos descendo para a cidade da Kianda, fez-me dividir, algum tempo depois a atenção do vídeo (a Colombiana) que estava a visualizar, e a necessidade de ‘espreitar’ “lá das alturas” para a paisagem majestosa que se oferecia aos olhares de todos quanto se aprestaram a deleitar-se a encantadora natureza das terras de Ngola Kiluanje Kiá Samba.

Fonte: Club-k.net

Peter Breysnnan, ao meu lado, um Sul-Africano de origem Inglesa, que visitava Angola pela primeira vez, fez questão debruçando-se sobre o meu ombro direito, ‘espreitar’ a natureza Angolana, quando a aeronave começou a sobrevoar a zona urbana da capital, PB foi esgrimindo no seu rosto, rugas de preocupação e desapontamento, acentuado a medida que o aparelho sobrevoava ‘mais adentro’ do “espaço aéreo da capital”.


- Afinal onde estamos?! Quando sobrevoaremos Luanda? – Perguntou-me perplexo PB. Assegurei-lhe que estávamos JÀ, sobrevoando Luanda e que deveria neutralizar do seu “disco duro” as imagens de Johannesburg, Cape-Town & Companhia Lda.


- Pois só vejo casebres! Porque tantas pedras e demais artefactos no tecto dos casebres? – Desta feita preferi ‘oferecer-lhe’ o meu ‘preocupado’ silêncio, esboçando as escondidas um sorriso amarelo. “É por causa das fortes ventanias” – retorqui amuado em surdina.


– “Bullshit!” E as árvores?! – Metralhou com uma expressão de asco “o último dos Carcamanos”. – Como um clarão a imagem do desmoronamento do edifício da sede nacional da DNIC e a floresta de Eucaliptos nos arredores, ofuscou-me a mente. “Que fazer!” – Suspirei.


- Onde estão as arvores, Jesus! – Insistiu depois de mui rapidamente ‘scanear’ o espaço abaixo da nave, o “teimoso” PB no papel de Makuta Nkondo, - Luanda, não é a capital do Sudão ou do Níger, tenho a impressão que há mais arvoredo em Cartum ou Niamey do que me é dado a ver aqui, o que vocês fazem com as árvores?! – Persistiu categoricamente PB azedado, contaminando negativamente o meu estado de ânimo.

País Especial

 Angola de facto é um País especial… muito especial mesmo, é dos países da Africa Subsariana com as cidades mais desarborizadas (Windhoek é ‘pelos vistos’ mais arborizada que Luanda… Harare é uma forestown), não há preocupação por parte do clã dirigente do País, com a ‘implantação’ de zonas de lazer ou jardins, Angola é dos países Africanos com mais recursos hídricos, paradoxalmente é o país Africano que mais sofre com “a falta” de água, quando este precioso líquido abunda em tudo quanto é canto.

É um “pecado” o spot publicitário que a nossa TV nos oferece ao publicitar as novas notas do nosso ‘Kwanza’  exibindo ao vivo o magno recurso aquífero que Deus nos brindou “com ele” (“Deus dá nozes a quem não tem dentes”; diz o velho ditado popular), e o povo (de Cabinda ao Cunene do Lobito ao Luau) sofrendo por falta de água. Angola é dos Países ricos, com fome quase permanente, Angola faz uma agricultura de subsistência (da idade da pedra), dependendo 80% das “Chuvas”… até a Luz (electricidade), os ilustres representantes do executivo atribuem a falta de chuvas e ao baixo caudal dos rios, ano-após-ano.

É engraçado, quando a FAO (a cerca de uma dezena de anos atrás) colocou Angola na lista negra de países com fome permanente, ilustres figuras do executivo e do clã, “xinguilando” vieram a ribalta “xingar” a FAO e todos quantos alinharam no diapasão daquela organização da ONU. Qual não foi a minha surpresa, o Jornal de Angola (Voz Oficial do executivo), estampar a poucos dias atras na primeira página, a seguinte noticia; “FAO elogia esforços do executivo na luta contra a desnutrição”. – Sem comentários.

Cidade das acácias rubras

Há dias comentava com um amigo, a preocupação que a administração colonial tinha com o provimento das necessidades básicas como água e luz, as populações de Angola, se bem que este último não estava financeiramente ao alcance da maioria dos autóctones, mas não impedido de o ‘alcançar’. Todos os bairros ou em todas as comunidades existia um ou mais chafarizes para o provimento colectivo do precioso liquido e quem tivesse os meios para tal, poderia requerer a canalização privada para a sua residência, existia de igual modo a par dos chafarizes em todos os bairros ou comunidades, um campo de futebol (ou mais), onde principalmente nos fins-de-semana a comunidade reunia-se a volta do mesmo para ‘apreciar’ uma gratificante partida de futebol, nos dias de semana eram devidamente ‘aproveitados’ pela criançada e a juventude local, contribuindo para o melhoramento da sanidade mental e moral da comunidade.


No que se refere aos jardins, vou mencionar a título de exemplo, a cidade das acácias rubras (assim outrora designado pela intensa arborização desta espécie em toda a extensão da cidade), Benguela, convêm mencionar que de tal desígnio hoje só ‘ficou’ a nostálgica lembrança.


Não foi à-toa que no “tempo de outra Senhora” Benguela foi a “Cidade Jardim” vamos enumerar os itens que fizeram com que assim fosse conhecida;


A Praia morena estava densamente arborizada de Eucaliptos (cortina natural contra as calemas e não só.), Parque Luís Gomes Sambo (hoje ‘feito’ feira), jardim Portugal defronte da CMB, parque de Ténis, jardim junto ao cine-monumental e defronte ao cine (Paraíso dos macacos), jardim junto a Casa Branca (jardim milionário), jardim que ladeia a sede do MPLA e defronte ao referido edifício, jardim defronte ao hotel mombaka (hoje privatizado), jardim entre a rua Aires de Almeida Santos e a Dr. António José de Almeida, jardim junto a radio morena, Parque Alda Lara, Largo da Peça. Podemos medir esta área e compararmos com uma área igual erigida de raiz pelo actual executivo?

Os (nossos) Zangos

Vamos compara-la por exemplo aos Zangos (Luanda) onde estão a ser assentadas uma fasquia importante de gente humilde, não vamos citar os jardins ou largos/zonas de lazer, perguntamos quantas áreas foram consignadas ao desporto, mormente ao desporto-Rei (simplesmente consignar a zona livre), que move e mexe com multidões?

Os Zangos (e não a sumptuosa centralidade do Kilamba) constituem uma oportunidade única e soberana para o executivo mostrar na prática como vai de facto “distribuir melhor”, o executivo deveria começar com a medida mais barata e de grande impacto: a arborização e a implantação de várias e grandes zonas verdes (quem tem duvida que tal tem um grande impacto no melhoramento da qualidade de vida? – por isso a preocupação da administração colonial), e claro tal passa pelo provimento da água com abundancia, o prodigioso rio Kwanza silenciosa e generosamente está localizado a um passo de todos nós, condenando “com a sua majestade” e com propriedade a patética incompetência dos eminentes (pardos) membros do executivo.

Por outro lado, as pessoas “foram atiradas” para este “ditoso canto” sem o executivo dotar primariamente a mesma de infraestruturas sociais, como escolas públicas de todos os níveis e hospitais ou centros médicos, dá a impressão que as gentes pobres não são humanos; se adoecerem que se danem, as mulheres gravidas que se virem, a criançada ‘idem em aspas’. Milhares de crianças não frequentam a escola á dois anos ou mais, por os seus progenitores não terem recursos para as propinas dos chamados colégios/escolas privadas. “Mente desocupada oficina do diabo” – disse alguém amigo.


SANTO DE CASA NÃO FAZ MILAGRES!


Foi no Zango, onde ouvi e vi o colégio “Nossa Senhora das Águas”, pensei com os meus botões, “bem-dito colégio, ditosa padroeira!”, não seria nada mau – já que fundar igreja hoje, é moda - se algum “Santo” fizesse surgir a “Igreja da Nossa Senhora das Águas e da Luz”, porque pelos vistos os “Santos da terra” estão com tristeza e magoa, desconseguindo ‘levar a cabo’ com êxito tal elementar tarefa’. Há alguma localidade, zona ou região de Angola, onde ‘há’ ininterruptamente água e luz?


O principal largo do País – Largo da independência, onde esta localizado a imponente estatua de A. Neto, fundador da Nação, a capital atração do mesmo, a antes magnifica fonte-luminosa, há muito que ‘esmoreceu’ porque?... (o barco afundou!) Por falta de água!..


Jesus Cristo & Nossa Senhora! – Que vexame… o que será (dentro de 2-4 anos) da Baía e da ‘sanidade’ da emblemática centralidade do Kilamba?! Não estará soterrada no lixo e outros nocivos itens – que nos rodeia - próprios da danosa administração do território nacional “que estamos com ela cada dia?” – Estamos Paiados!


Angola País Especial! (Que xatice… Parece Praga!)

Quando retornaremos a País normal a semelhança da vizinha Namíbia?

Isomar Pedro Gomes