Venezuela – A verdadeira comoção e a mobilização popular que tomaram as ruas da Venezuela com o anúncio da morte do presidente Hugo Chávez em 5 de Março têm uma raiz profunda nas lutas dos trabalhadores e do povo pela soberania nacional e contra o imperialismo.

Fonte: Club-k.net

A reacção do Presidente dos EUA, Barack Obama, foi dizer que a morte de Chávez “abre um novo capítulo” e que "os Estados Unidos continuarão a sustentar políticas que promovam princípios democráticos”, o que para os povos tem o significado de um alerta, pois na boca do imperialismo tais “princípios” cobrem uma política de ingerência. Essa situação repercute em toda a América Latina.

Afinal, o imperialismo dos EUA, sobre o qual recai o peso da crise do capitalismo mundial, busca retomar posições perdidas no continente, pressionando todos os governos a aplicar medidas em benefício de suas multinacionais, numa ofensiva que se inscreve em sua política global de guerra e exploração para conter a reacção dos povos que, na Europa, como na Tunísia e no Egipto, se negam a pagar a factura da crise do sistema.

As manifestações de solidariedade e simpatia de povos e governos de outros países, em particular da América Latina, ao povo venezuelano reforçam a sua luta pela soberania.  Soberania que se expressa no apego às conquistas que, através de muita luta, o povo venezuelano obteve ao longo dos últimos 14 anos, e que se concretizam numa melhoria de suas condições de vida.

Isso só foi possível porque o governo Chávez - fruto de uma onda de rejeição à política do imperialismo estadunidense que varreu o continente de norte a sul, resultando na eleição de governos que, mesmo tendo diferenças entre si, são apoiados por organizações populares e sindicais (Equador, Bolívia, Brasil, Uruguai) – foi levado, sob pressão da luta de classes, a adoptar medidas, ainda que parciais, de ruptura com a dominação do imperialismo.

A transição em direcção a um regime socialista na Venezuela, todavia, pressupõe o monopólio do comércio exterior e a expropriação das multinacionais presentes em vários ramos da economia, muitas vezes associadas ao capital estatal, assim como de certos grupos de proprietários dos grandes meios de produção.

Independente das contradições do “chavismo” ou “bolivarianismo” (abriga em seu interior setores patronais, a “boliburguesia”, que se beneficiam de negócios com o Estado), as massas populares, por meio de conflitos trabalhistas, greves e manifestações, impuseram uma nova situação.

A QUESTÃO CHAVE: O COMBATE PELA ORGANIZAÇÃO INDEPENDENTE DA CLASSE OPERÁRIA

A 4ª Internacional e suas secções sempre se colocaram incondicionalmente ao lado do povo e do governo venezuelanos, quando o governo Chávez adoptou medidas de ruptura com o imperialismo, por mínimas que fossem, e sempre que ele foi agredido ou ameaçado pelo imperialismo dos EUA.

Ao mesmo tempo, sempre o fizemos com uma posição independente, por considerar que o avanço no processo revolucionário na Venezuela, como em todos os países do mundo, só pode se dar a partir da organização da classe trabalhadora no seu terreno de classe, em oposição ao imperialismo mundial e à burguesia local.

E isso tanto no terreno sindical, na batalha pela consolidação da UNETE, produto directo da resistência operária, em 2002, contra o golpe pro-imperialista de Abril e o lockout da PDVSA, de Dezembro, que levaram à fundação da UNETE, em Abril de 2003; como no terreno político, pela necessária organização de um partido operário independente na Venezuela, lugar que o PSUV está longe de ocupar. Não haverá socialismo sem organização própria e independente da classe operária.

O povo da Venezuela elegerá um novo presidente em 14 de abril. A partir da experiência que viveu nos últimos anos o povo venezuelano está determinado a impedir o retorno ao poder da minoria de lacaios do imperialismo, representada por Capriles, cujas declarações golpistas chamam as Forças Armadas Nacionais a "ignorar a legalidade" em nome de generais supostamente dispostos a apoiá-lo.

O povo tem razão de votar maciçamente em Nicolás Maduro para derrotar a reacção, como confirmam os últimos comícios, sabendo que Maduro não é Chávez e que há interrogantes sobre a evolução da situação no país (por exemplo, o governo acaba de desvalorizar a moeda sem adoptar nenhuma medida de compensação salarial), mas com a férrea vontade de aprofundar o processo de libertação nacional contra o imperialismo. Libertação que incluirá medidas que já se discutem nos meios operários e populares, tais como:

• Aumento de 70% do salário mínimo!
• Novas convenções colectivas, imediatamente!
• Defesa dos direitos dos trabalhadores inscritos na LOT (Lei Orgânica do Trabalho) e revogação dos artigos que ameaçam a independência sindical!
• Direito de greve, não à criminalização dos movimentos sociais, fim das perseguições contra dirigentes sindicais!
• Contratação dos trabalhadores precários! Contratação imediata dos terceirizados da administração pública!
• Reforma agrária!
• Nacionalização dos sectores estratégicos controlados pelas multinacionais, do comércio exterior e dos bancos !

A 4ª Internacional e suas secções não se separam desse movimento profundo do povo trabalhador venezuelano. E com base numa política de frente única anti-imperialista buscarão ajudá-lo com propostas e palavras de ordem na via de avançar a ruptura com o imperialismo para conquistar a soberania nacional plena, no combate por uma União Livre de Nações Soberanas da América Latina e Caribe, em aliança com os trabalhadores e oprimidos dos Estados Unidos e Canadá.
Paris, 5 de Abril de 2013

Secretariado Internacional da 4ª Internacional