Lisboa  - Uma escola que educa para a Paz. A pedagogia moderna, melhor dito as ciências da educação, hoje se preocupam e se interrogam sobre o valor, a qualidade e a ética na educação. Hoje a educação, não se preocupa só em transmitir conhecimentos enciclopédicos, pois o educador desempenha um papel moral, não é um simples reservatório de fórmulas, mas lhe é pedido antes de tudo e para o bem da qualidade educativa ser um educador moral. (moral não é moralismo, mas é um conjunto de qualidades cognitivas, axiológicas e conativas).

Fonte: Club-k.net

O educador deve ser sensível as dimensões morais dos conteúdos que transmite no processo de instrução. Os conteúdos transversais são hoje considerados parte integrante do currículo e são a melhor prova de que um professor/a tomam seriamente o seu papel de educadores em valores. Educar em valores, ocorre individuar e viver aqueles valores absolutos.


Hoje quero falar, de educar para a paz, no rescaldo do dia 4 de Abril dia da Paz. O nosso sistema educativo está imerso dentro dum sistema social caracterizado por violências de suas estruturas. Neste sentido, o sistema educativo participa dessa violência institucionalizada, dessa complexidade encarnada e sem alma e é de alguma forma um aliado transmissor e reprodutor da violência estrutural.


Ate que ponte é viável um trabalho para uma cultura de paz no nosso sistema educativo? Se a escola educar e fomentar valores como a solidariedade, a generosidade, a igualdade de direitos, não estará no fundo no fundo criando, nos seus educandos umas profundas contradições diante das propostas de competitividade, de consumo irracional e de egoísmo, nas quais estão vivendo e vivem fora da escola? Porque exigir e ate culpabilizar a escola, pela carência axiológica que assola a nossa comunidade angolana, se as nossas famílias não estão comprometidas a enveredar pelo mesmo caminho educativo? No passado, quando uma criança era castigada na escola, não esperava outra reacção em casa, que outro castigo igual. Neste tempo havia uma cumplicidade co educadora entre as duas agências socializadoras mais importantes. Hoje, se o aluno for castigado na escola, a reacção dos pais e encarregados de educação, não é outra que correr e fazer “guerra na escola”. Guerra contra a escola, o professor, ou o colega do seu filho. O que estamos ensinando então? Estes dois exemplos, em parte encerram violência. Mas o segundo, educa a violência. Eu como educador, tenho alimentado sempre esta dúvida e desconfiança sobre a viabilidade de um trabalho educativo pacífico e emancipador, numa sociedade violenta e opressora. Este tipo de educação parece ser um beato exercício fora do tempo. Por isso a marginalização da EMC, hoje transformada num cursito de divertimento, para ocupar as duas horas semanais, que talvez restariam vagas. No pior dos casos a educação para a paz até resulta contraproducente porque, é sensato e honesto educar para a paz quando a realidade (famílias, escolas competitivas, corruptas, políticos sem dialogo) nada tem que ver com a paz?


Não estamos educando para a ficção? Teria razão Illich e a corrente anarquista que pede a morte da escola? Ou Marx que a define como reprodutora do status quo? Ou ainda os neomarxistas que a definem como um aparelho ideológico reprodutor das diferenças sociais e culturais da sociedade? Mas diante destes pessimistas e reducionistas, é mester, contra por aqui que os educadores com um credo educativo, utilizando o modelo sociocrático de educação para a paz consideram que com um trabalho cooperativo, podem e devem dar respostas educativas criticas desde educação formal e não formal.


A sociedade angolana possui espaços, como os possui a própria escola, de liberdade, onde é possível um trabalho crítico, um trabalho alternativo. A já desgastada pergunta: sabes quem sou? É um exemplo da inexistência de “nihil” de nada moral dentro de quem recorre a estas perguntas. Sabes quem sou? És nada! És de paz, nada de ético, nada de moral de nada de pessoa e afinal nada de nada. Este é um obstáculo aos espaços de paz e de liberdade, capazes de possibilitar acções humanizadoras, criticas, participativas. Sem estes espaços e com uma sociedade de pessoas que são nada de nada, cairemos na perplexidade, na impotência, na passividade e no conformismo de vermos tudo estando bem assim.


 O ser humano, por mais que o manipulemos e o domestiquemos e também o libertemos, pode entrar em conflito com as instituições, porque elas podem ser criticadas, reformadas enfim transformadas.


Depois de 11 anos de paz, é bom e necessário que a escola seja capaz de traduzir a insatisfação, o descontentamento em acção, numa melhor mudança. Tudo isso deve ser feito, como uma educação de qualidade exige que seja, com humildade, sem cair em nenhum utopismo pedagógico, mas também devemos abandonar o quarto de resignação e de desânimo.


Dentro da escola é factível uma tomada de posição contra determinados anti valores dominantes na nossa sociedade, onde há incomunicabilidade é regra do agir político e familiar; as relações de amizade e de proximidade são transformadas em cinismo, hipocrisia, competitividade despiedada. Muitos sectores da sociedade angolana, estabelecem relações marcadas pela violência, o ódio, a desesperação. Mas todos sonhamos esta sociedade de convivência. O que fazer enquanto esperamos? Mas esta sociedade nunca chegará se nós não fizermos algo para que ela chegue.


A política que rege a nossa reforma, nos seus princípios, nos seus desideratos, nos perfis de saída estabelecidos para os estudantes após a conclusão de cada etapa, encontramos muita referência à maturidade (consoante a idade) em competências sociais, em habilidades de convivência pacífica, paz e em solidariedade. Muitos críticos da reforma, actual, se esquecem de ler a lei de base que prescreve esta reforma. Mas se o projecto político da reforma educativa é prenha de referências democráticas e pacíficas, o currículo peca pela não existência ou presença de métodos, conteúdos em várias disciplinas, que sejam afins aos objectivos duma educação à paz. Para criar uma atmosfera que facilite a interiorização dos valores é necessário um clima educativo propício. O que se pode apreender na reforma é o enfâse a uma educação para a paz transversalmente.


 Ninguém dá o que não tem. Como um professor/a formado/a num clima competitivo, de guerra, de corrupção, intolerância, pode educar os seus alunos a ser pacíficos, tolerantes, cooperativos, etc.?


Educação para a paz é educação a resiliência. É educar a enfrentar os conflitos de modo positivo e através do diálogo interpessoal, intercultural, interétnico e interlinguístico. Os nossos estudantes, em qualquer nível, devem conviver com os conflitos e perceber que o conflito é conatural aos seres humanos, porque o ser humano está permanentemente em situações de oposição ou de luta entre pessoas ou entre coisas. Hoje pululam por aí, tantas religiões e setas que se auto denominam salvadores dos homens de todas as crises. Num mundo de homens e mulheres livres, temos que negar a oferta destes salvadores.


Numa pedagogia para a Paz, o conflito deve ser visto não como uma experiencia negativa mas positiva. Educar os jovens a ter uma perspectiva mais aberta, para sejam capazes de compreender que o conflito é resultado da diversidade; perceber o conflito desta maneira estimulamos os jovens e adultos a uma educação mais construtiva. Devemos mudar a nossa perspectiva de ver e definir os conflitos como resultantes sempre de uma luta entre interesses próprios (pessoais ou de grupo) e os alheios totalmente incompatíveis. Pensar nos conflito desta maneira é erróneo, e induz os jovens a perceber que a outra parte está cheia de cativas intenções e é obstáculo a consecução dos nossos objectivos e o que desejamos. Esta atitude, cria uma resposta guerreira, aos adversários para lhes impedir o que que querem.


Educar para a paz e educar para o espirito crítico são dois processos intrinsecamente unidos. Pois educar para a paz não é educar para a “paz passiva” ou paz negativa”, o que vulgarmente se chama resignação, como ausência ou fuga dos conflitos.


A escola só educa para a paz positiva, que vê no conflito uma possibilidade de buscar através do diálogo uma solução pacífica. Solução pacífica, não é a minha nem a tua mas a nossa! É fruto de concertação, junta através de concessões recíprocas. Neste sentido a paz não é um dia é um processo que se faz vida, no dia-a-dia é um processo que se vai penetrando nos conflitos para os resolver de modo cooperativo, positivo e não violento. Hoje muitas democracias são violentas. As maiorias absolutas são susceptíveis de serem transformados em ditaduras. Um educador católico ou cristão, educa para a paz usando duas linguagens: a linguagem do cidadão e a linguagem do discípulo. Uma escola católica ou cristã, educa para eliminar da mente aquele mecanismo de criação do inimigo eliminado ou fobias. Um cristão não faz no rosto do “inimigo” o espelho onde pode contemplar com nitidez o seu verdadeiro rosto amargurado, mas o outro é imagem dum Deus amor e misericordioso. Uma função primária para o exercício duma formação para a paz é desmascarar (G. Jung) e apear as imagens hostis, as fobias individuais e colectivas. A escola angolana tem que trabalhar sobre estas fobias colectivas se quer ser meio de paz.