Benguela - O mundo está em constantes mutações, fruto da globalização crescente cuja mola impulsionadora são as tecnologias de informação e comunicação (TIC) que influenciam, de forma acelerada, o “modus vivendi” e “operandi” do homem.

Fonte: Club-k.net

Hoje, as fronteiras geográficas são ilusórias e o alcance da distância intercontinental uma mera questão de um clique do “mouse”... Daí que o paradigma do trabalho do presente século, quase em crise, (crise aqui no dizer de Thomas Kuhn) sofra, igualmente, mutações. Vejamos, a dicotomia “empregador” vs “empregado”, bem como os termos "trabalhador efetivo", “trabalhador eventual” ou "prestador de serviços" têm estado a sofrer transformações, comparativamente ao século passado. Se ontem o lema era, “estuda muito para conseguires um emprego bem pago numa grande empresa”, hoje, o lema parece ser, “saiba mais para fazer muito e melhor”, ou ainda, em outros casos não menos frequentes, o lema é: “saiba menos para te explorar melhor”... Neste particular, o trabalho ao invés de dignificar o homem parece, a priori, danificá-lo, pois, apesar de serem, teoricamente, oito horas laborais, contrariamente às dezasseis anteriores, trabalha-se muito mais e ganha-se, cada vez mais, pouco dinheiro.  Tem-se mais deveres que direitos...


Tal como se deram alterações laborais com a revolução industrial e precisamente, com o surgimento das máquinas, lançando ao desemprego diversos operários cuja mão de obra fora substituída por aquelas, o cenário parece repetir-se mas, desta vez  com a internet. O mundo, hoje, parece tender à autonomização profissional do homem que se quer longe das amarras regulamentares e burocráticas próprias de uma empresa. Há, aqui, portanto,  uma ruptura de paradigma no que diz respeito ao conceito de trabalho, uma vez que, a maneira de organização de dados e de quem os organiza é, completamente, diferente daquela a que o mundo laboral se nos habituou. A internet trouxe outra realidade; outro conceito ligado ao “como”, ao “aonde” e ao “quando” trabalhar.  Uma realidade de difícil regulamentação jurídica em termos de horário laboral e, ipso facto, longe dos olhares do patrão. São, por isso, cada vez mais frequentes os casos de trabalhadores “on-line” sentados em sua poltrona à frente de seu computador, em sua residência, ou onde quer que seja, e em tempo indeterminado, diferentemente, das oito horas convencionais e dos cinco(ou cinco e meio)dias semanais habituais. São, outrossim, cada vez mais frequentes os casos de indivíduos que vão prestando serviços em vários lugares e a várias empresas sem terem um vínculo contratual a tempo indeterminado com o empregador,  aliás, sem terem, em alguns dos casos, um empregador ao qual se subordinem e tendo-o, às vezes, não o conhecem, nem lidam com ele presencialmente. Tudo decorre no âmbito virtual...


Hoje, a ânsia de se ser patrão de si mesmo é cada vez mais patente, sobretudo, nos jovens que não querem mais depender de um patrão “chato”, nem de um ordenado minguado que para o receber é necessário esperar pelos trinta dias; que não querem mais passar oito horas laborais "aturando" a má disposição do chefe. E pior! Existem cada vez mais chefes e cada vez mais, menos líderes. Cada vez mais trabalho e cada vez mais, menos emprego! Enfim, a própria crise económica mundial parece estar também a mudar as relações e os vínculos laborais.


Portanto, ao que tudo indica o paradigma do século XXI tenderá a ser aquele que melhor responder às exigências e à resolução dos problemas imergentes que apoquentam, sobretudo,  a camada mais jovem. Ao que tudo indica este paradigma privilegiará menos a competência isolada; privilegiará menos um único saber desinformado, desactualizado e privilegiará, em grande medida, um saber multifacético, multiactuante, abrangente e científico...


O profissional do século XXI não é mais o licenciado tradicional que engaveta os livros tão logo licenciado, tendo, por conseguinte, uma visão unitária e limitada. Mas o profissional que o mercado de trabalho hoje necessita e, isso tenderá a pior, é alguém que entenda de tudo um pouco e faça de tudo um pouco. É, no fundo, no fundo, o polivalente que saiba dar respostas adequadas e pontuais aos problemas que surgirem dentro e fora do seu âmbito de actuação. É um “tudo-ce” que actua quão bombeiro incansável... A fase hoje é do conhecimento e não mais de títulos académicos... “Vivemos na era do conhecimento, da informação e, com a rapidez com que as coisas mudam, o profissional do futuro tem de estar sempre atualizado, investir na aquisição e competências, quer técnicas, quer nas chamadas “soft skills” – características mais latas como a capacidade de liderança, de inovação, de comunicação, o foco no negócio e a orientação para os resultados”.


Concluindo, o desemprego é um dos maiores dramas mundiais do momento e consequência dessa mudança de paradigma. É cediço que acabar com o desemprego, bem como com a pobreza é uma utopia (podem ser minimizados)... Nenhum governo do mundo os poderá acabar na totalidade, não obstante, haverá, com certeza, mais desemprego sempre que a educação actual não for capaz de munir de instrumentos necessários e eficazes os jovens que anseiem pelo novo emprego. Sempre que os governos mundiais governarem mais para si do que para o povo... Haverá cada vez mais desemprego sempre que o homem parar de investir (bem) em si, deixando de sonhar alto e acreditar, mais do que ninguém, em si e no no seu potencial... Ademais, o desemprego pode ser uma oportunidade para o empreendedorismo e a criatividade dos seus negócios próprios. Mas como ter o capital inicial?! “Trabalhe para aprender e não para ganhar dinheiro. Faça com que o dinheiro trabalhe para sim", Robert Kiyosaki e Sharon Lechter, em sua obra, Rich Dad, Poor Dad.

Fernando Kapetango
Lobito, 01 de Maio de 13