Lisboa  - Na sua edição de 01 de Junho, o semanário Agora verteu um oceano de lágrimas pelo facto de empresários nacionais desviarem para Portugal capitais que, em seu entender, deveriam ser empregues em Angola. O jornal, agora detido pela família Madaleno, atribui o investimento angolano na imprensa lusa à falta de “patriotismo” e de “orientação”.

Fonte: Club-k.net

Para o Agora, é anti-patriótico comprar jornais portugueses quando em Angola a Semba Comunicação reduz a programação da TPA 2 por alegada falta de dinheiro.

“Enquanto a TPA 2 vive profundas dificuldades e os seus gestores o maior aperto para assegurar o funcionamento normal do canal público (...), governantes associados a banqueiros compram um dos maiores grupos de média em Portugal, a Controlinveste”.


Tomado por um comovente patriotismo, o jornal conclui: “(...) E como no caso de outros investimentos já realizados, uma vez mais, está a ser injectado dinheiro angolano para que algumas centenas de quadros portugueses não integrem a já longa legião de desempregados, num país que até é hostil ao próprio poder angolano (...)”.


Dois dias depois o Agora perdeu o chão. Na segunda-feira, 03 de Junho, veio a público informação de que a Semba Comunicação tinha acabado de fechar um volumoso negócio em Portugal. A empresa de José Paulino dos Santos adquiriu, em parceria com a Até ao Fim do Mundo, os títulos Lux, Lux Woman e a Revista de Vinhos.


Embora não tenham sido revelados os custos da operação, não é crível que as três publicações tenham mudado de dono a preço da chuva. Ou seja, a Semba Comunicação fez exactamente aquilo que tanto repulsa suscita ao Agora: injectar dinheiro angolano para que algumas centenas de quadros portugueses não integrem a já longa legião de desempregados.


Com a revelação do negócio, ganham legitimidade as suspeitas de que a operação feita pela Semba Comunicação pode ter-lhe diminuído a capacidade de gestão do Canal 2. Como se sabe, recentemente José Paulino dos Santos ameaçou reduzir as horas de emissão do canal por supostas dificuldades financeiras.


A aquisição das três publicações lusas mostra que as dores que atormentam a empresa do filho do Presidente da República não têm origem na tesouraria.


Além de ter ajuizado (mal) em causa que não lhe dizia respeito, o Agora revelou uma preocupante amnésia. Há menos de um mês, exactamente na sua edição de18 de Maio, o mesmíssimo jornal referiu-se ao Canal 2, gerido pela mesmíssima Semba Comunicação, como um covil de alcoólatras e drogados.


Em reacção ao comunicado de José Paulino dos Santos reclamando dívidas nunca verificadas, o Agora escreveu isto: “(...) o único realce foi dar espaço a certo estrato juvenil particularmente ligado a um estilo de vida cada vez mais questionado pela sociedade, justificado até pela ultrajem de valores, da boa educação, da moral, de bons hábitos e costumes, que pratica o uso exagerado de bebidas alcoólicas e, quiçá, de drogas.”


Mais adiante o jornal acrescenta: “por falta de controle e de algum rigor (...) lentamente misturou-se o razoável com o que é mundano, devasso e imoral”.

O Agora resume a sua decepção para com o Canal 2 nesta frase lapidar: “não se deu espaço ao bom”.

A amnésia do Agora atingiu, já, patamares inquietantes na medida em que chega ao ponto de ignorar a existência de vários “irmãos” seus em Portugal.


Esta semana, o Público deu detalhes do estonteante crescimento do chamado Grupo Madaleno na imprensa lusa.


Segundo aquele jornal, os Madalenos, encabeçados pelo banqueiro Álvaro Sobrinho, têm participação em jornais como Correio da Manhã, Jornal de Negócios e na revista Sábado, entre outros títulos. Além disso, gerem a publicidade do diário i.

 

A Newshold, empresa de Álvaro Sobrinho, tem ainda 1,7% da Impresa, proprietária, entre outros meios, da SIC , do semanário líder Expresso e da Visão, além de diversas revistas.
Em Dezembro passado, a Newshold assumiu ser candidata à compra ou concessão da RTP, se fosse esse o plano do Governo, mas a opção do executivo foi, por enquanto, de reestruturar o serviço público de rádio e televisão.


Não será que o dinheiro que Álvaro Sobrinho e sua família injectam em doses industriais em Portugal contribui, também, “para que algumas centenas de quadros portugueses não integrem a já longa legião de desempregados?”.


Lamentavelmente, o semanário Agora não consegue explicar aos seus leitores em que é que o dinheiro que Álvaro Sobrinho e sua família drenam para Portugal difere do de outros investidores angolanos na “tuga”?