Alemanha  - O obejctivo deste texto é contribuir para a reflexão colectiva que os angolanos têm feito sobre a entrevista do senhor Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos (JES), o 2° líder africano há mais tempo no poder, transmitida pela SIC no dia 06 de junho de 2013.

Fonte: Club-k.net

Durante a sua entrevista, JES afirmou que o Dr. Jonas Savimbi não podia ser comparado a Nelson Mandela, porque este foi um herói nacional que lutou para libertar o seu povo e o Dr. Jonas Savimbi aliou-se ao apartheid para “lutar contra o seu próprio governo”.

Eu acho que esta análise do Presidente da República é incorrecta do ponto de vista político e bastante incompleta do ponto de vista histórico. 

É uma análise incorrecta do ponto de vista político, porque o Dr. Savimbi lutou contra o governo colonial, que não representava o povo de Angola e por isso não tinha legitimidade política para governar Angola. Lutou também contra o governo neocolonial do MPLA, que não foi eleito pelo povo de Angola e, por isso, também não tinha legitimidade para governar Angola. 

Em nenhum momento o Dr. Savimbi lutou contra “o seu próprio governo”, pois não elegeu nenhum deles.
Além disso, o Dr. Savimbi nunca foi reconhecido como cidadão da República Popular de Angola. Por isso, nunca podia ter  lutado “contra o seu próprio governo”, porque não era o governo dele.

Relativamente aos factos históricos, importa recordar que: 

• Foi o Dr. Jonas Savimbi quem promoveu a conferência de Mombaça no Kénia ocorrida de 03 a 05 de Janeiro de 1975, onde participaram os líderes dos três movimentos de libertação, e concordaram estabelecer uma plataforma de entendimento e cooperação criando condições conducentes à negociação com a entidade colonizadora, para a independência de Angola. 
• O resultado desta conferência promovida pelo Dr. Jonas Savimbi foram os Acordos de Alvor, assinados no dia 15 de Janeiro de 1975 pelo Governo português e pelos líderes Holden Roberto (FNLA), Agostinho Neto (MPLA) e o Jonas Savimbi (UNITA).


• Este mesmo Acordo seria o único instrumento político-jurídico de transição do poder do regime colonial português para os angolanos representados pelos três movimentos de libertação: A FNLA, o MPLA e a UNITA. 

• Esta transição passaria por eleições livres em Outubro de 1975 para uma Assembleia Constituinte que iria redigir a Constituição de Angola, antes de as autoridades portuguesas proclamarem a independência de Angola em 11 de Novembro de 1975.

• Muito cedo o MPLA se apercebeu que não tinha o apoio significativo que lhe permitisse governar o país,  iniciou a inviabilização da aplicação dos acordos de Alvor, atacando militarmente as instalações da FNLA e da UNITA, que acabaram por ser expulsas  da cidade capital com a conivência das forças portuguesas. 

• Uma Comissão da União Africana (UA)  que havia feito uma avaliação da elegibilidade de cada movimento chegou a conclusão naquela altura de que a UNITA ganharia as eleições com uma maioria esmagadora. 


“quem quiser consultar os arquivos pode ir a ADIS-ABEBA ainda poderá encontrá-los arquivados na União Africana (UA)”


• O senhor Presidente da República José Eduardo dos Santos, esqueceu-se que o Dr. Jonas Savimbi foi o único dirigente dentre os dirigentes de Movimentos de Libertação Nacional, que se encontrava no interior do país por ocasião do 25 de Abril de 1974. O Dr. Savimbi sempre esteve interessado na unidade entre os movimentos de libertação.

• No dia 25 de Novembro de 1974 em Kinshasa-Zaire, o Dr. Jonas Savimbi assinou a plataforma de cooperação com Holden Roberto lider da FNLA e no dia 18 de Dezembro de 1974, o Dr. Jonas Savimbi assinou ainda a plataforma de cooperação com o Dr. Agostinho Neto, lider do MPLA, no Luso-Moxico, na sequência das conversações que iniciaram na Tanzânia.
• Numa última tentativa para salvar a independência de Angola em paz, o Dr. Jonas Savimbi, promoveu no dia 16 de Junho de 1975, a cimeira de Nakuru (Kénia) entre os dirigentes dos três movimentos; mas infelizmente o MPLA mostrou o seu antipatriotismo violando totalmente os Acordos de Alvor e autoproclamou-se como o único representante do povo angolano e adjectivou os outros movimentos de inimigos, fantaches e lacaios do imperialismo.

• Assim, no dia 11 de Novembro de 1975, o senhor Dr. António Agostinho Neto, proclamou a independência de Angola em nome do Comité Central do MPLA, não mais em nome da FNLA, do MPLA e da UNITA como havia dito quando leu os Acordos de Alvor.
 
• E sem ter esperado mais tempo, o MPLA começou a utilizar os cubanos que já havia introduzido em Brazaville e no país muito antes dos Acordos de Alvor. Recorde-se que a UNITA capturou os primeiros cubanos no Lobito, em Junho de 1975.

Hoje, o senhor José Eduardo dos Santos pretende desvalorizar o papel histórico do Dr. Jonas Savimbi, alegando que Savimbi aliou-se ao ‘apartheid’ para combater o “seu próprio governo”.

Somos jovens, mas temos olhos e ouvidos. Sabemos pesquisar a história e temos capacidade de avaliar os factos narrados sob os mais diversos ângulos para saber onde está a verdade e tirar as nossas próprias conclusões.

Não há nada de errado em combater-se um governo ilegítimo e corrupto, mesmo que seja o ‘nosso próprio governo’.  Aliás, torna-se nosso dever individual e colectivo. Naquela altura, havia a guerra fria e todos os “movimentos de libertação” aliaram-se a forças estrangeiras para combater o colonialismo. O MPLA aliou-se à URSS, a FNLA e a UNITA aliaram-se aos EUA e à maioria dos países africanos.   

Estas alianças foram feitas em linha com as posições ideológicas defendidas pelos movimentos de libertação.

O MPLA defendia a ditadura do proletariado. A UNITA defendia a democracia multipartidária.

O MPLA defendia a economia estatizada. A UNITA defendia a economia dos mercados.
O MPLA defendia o internacionalismo proletário. A UNITA defendia a identidade africana de Angola  e a sua integração regional.

Hoje, a ideia da ditadura do proletariado foi vencida. Os povos do mundo adoptaram a democracia. Logo, o MPLA “foi forçado” a adoptar a democracia.

A teoria da economia estatizada também foi vencida, e em resultado, o MPLA foi forçado a adoptar a economia de mercado.

O internacionalismo proletário também foi vencido. Em resultado, o MPLA foi forçado, mesmo vacilante, a reconhecer a identidade africana de Angola e os benefícios da sua integração regional. 

A história mostrou, portanto, que em termos de aliança, a UNITA estava certa e o MPLA estava e está errado.

Nenhum dos movimentos de libertação aliou-se ao fenómeno do racismo que era praticado no seio dos países aliados (URSS e EUA). Muitos dos seus membros foram vítimas desses racismos.

De tudo o que se diz, nunca ninguém afirmou que a UNITA tenha endossado ou apoiado o racismo sul-africano ou o ‘sistema do desenvolvimento separado das raças’ (‘apartheid’). De facto, a UNITA nunca se aliou ao fenómeno do ‘apartheid’, pois não precisava nem o suportava.

Aliás, foi o Dr, Savimbi o primeiro líder africano a pedir às autoridades sul-africanas a libertação de Nelson Mandela. Fez isso ao discursar no Parlamento sul-africano, na década de 80. 

A UNITA aliou-se à Africa do Sul (não ao apartheid) por razões geográficas e tácticas e por força da sua aliança com os EUA. Eram e são nossos vizinhos, e os vizinhos não se escolhem. Angola tinha de conversar com a África do Sul para resolver o problema da invasão russo-cubana  e da independência da Namíbia. E foi por causa dessa aliança, que JES assinou os Acordos de Nova Yorque, em Dezembro de 1988, com os Governos de Cuba e da África do Sul. E assim se resolveram os conflitos inerentes à guerra fria na África Austral.

Portanto, do ponto de vista dos resultados históricos alcançados pelos dois povos, eu atrevo-me a firmar que a aliança entre a UNITA e a África do Sul foi benéfica na medida em que resultou na libertação do povo sul-africano do apartheid, na libertação do povo Namibiano da colonização e na libertação do povo angolano do espectro do totalitarismo russo-cubano.
Isto é o que importa nas relações internacionais. E se quisermos avaliar hoje o benefício das alianças actuais de JES ou da UNITA para o povo de Angola, teremos de perguntar:

• Quem é que se alia ao estrangeiro para combater o “seu próprio povo” ou para “beneficiar o seu próprio povo”? 

• Quem é que se alia ao governo que oprime o povo palestino para violar os direitos humanos dos angolanos? 

• Quem é que se alia ao Partido Comunista Chinês para roubar os recursos dos angolanos e as oportunidades de empregos e prosperidade para os angolanos? 

• Quem é que se alia às forças económicas de Portugal, do Brasil, etc. para promover a corrupção e roubar os recursos dos angolanos atravês dos ‘paraísos fiscais’, ‘joint ventures’ e outros mecanismos? 

• Quem é que vai buscar genros estrangeiros para casar com as suas filhas, desvia do erário público milhões de dólares e coloca em nome das filhas e dos genros para que o dinheiro roubado tenha outra nacionalidade? 

• Como se chama esta pessoa? 

• Pode esta pessoa ser chamada de “patriota”?

Agora, do patriotismo do Dr. Jonas Savimbi, que deixou o conforto do exterior para vir ao país e combater pelo povo ao lado do povo, comer com o povo, passar sacrifícios com o povo, Nelson Mandela não tem dúvidas!

Do patriotismo do Dr. Jonas Savimbi, que sempre defendeu a identidade africana de Angola e colocou o angolano em primeiro lugar em todas as suas estratégias de luta, a África e o Mundo não têm dúvidas!

Do patriotismo do Dr. Jonas Savimbi, o “Muata da Paz”, o “guerrilheiro do século XX”, que geriu milhões de dólares do seu povo para o benefício do seu povo e não amealhou nem um tostão para os seus, deste patriotismo, a juventude angolana não tem dúvidas. Nelson Mandela também não tem dúvidas! 

Por isso, o recebeu na sua aldeia e manteve excelentes relações de cordialidade e respeito com o Dr. Jonas Malheiro Savimbi.