Luanda  - Numa entrevista recente com o Canal Televisivo Português, SIC, o Presidente José Eduardo dos Santos manifestou o grande desejo de vir ser recordado como «um bom patriota». De qualquer forma, tendo em consideração o engajamento dele no longo percurso do nacionalismo angolano e do pós-guerra civil, esta pretensão é natural e é lógica.

Fonte: Club-k.net

Neste respeito, a virtude de autoestima é inerente da pessoa humana. O ser humano, na generalidade, mesmo quando estiver diante a diversidade, o seu senso lhe conduz ao entusiasmo de grandeza e à exaltação de espírito, que se convertem num verdadeiro delírio.

A fantasia é o mundo da utopia que se traduz em grandes SONHOS quer reais quer irreais. Logo, quem não souber Sonhar não poderá ser capaz de conquistar o patamar desejado da vida. Por isso, Sonhar não é mal desde que se situe no mundo real, sem enveredar-se por caminhos do abstracionismo metafísico.

No sentido real da palavra, o patriotismo significa o amor, a dedicação e o orgulho pela pátria. Portanto, um patriota é uma pessoa que, acima de tudo, defende com unhas e dentes os interesses vitais dos seus compatriotas, em todos os momentos e em todas as circunstâncias.

Na base disso, não se percebe como seria possível um verdadeiro patriota dar-se ao luxo de desprezar a sua Juventude, ignorar as suas dificuldades enormes e minimizar a indigência em que se encontra mergulhada. Além disso, na qualidade de Chefe de Estado, aplica todos os meios e todos os aparelhos repressivos contra a sua Juventude quando tenta expressar os seus anseios e reivindicar os direitos fundamentais da cidadania.

Em contra partida, ele estima e sobre valoriza a Juventude da antiga potência colonizadora, abrindo todas as portas para ela; oferecendo-lhe melhores postos de trabalho e bons salários; em detrimento absoluto da sua própria Juventude que deambula nas ruas e nos mercados sem o destino fixo e sem eira nem beira. Que patriotismo é esta? 

Umas das virtudes do patriotismo são evidentemente, dentre outras, a fraternidade, a honestidade, o altruísmo, a probidade e sobretudo, a justiça social. Esses valores não são apenas sagrados, mas sim, são atributos que distingue nitidamente um bom patriota, entregue totalmente ao bem-estar do seu povo.

A corrupção e o desvio do erário público, em todas suas vertentes, não coadunam com os valores patrióticos, universalmente reconhecidos. Todos os dados revelam que, o Presidente José Eduardo dos Santos e sua família enriqueceram-se de modo fantástico à custa da guerra e da miséria que grassa a maioria esmagadora do povo angolano.

Como é possível um regime assente no patriotismo deixa mais de 60% da riqueza do país ser usurpada por 60 pessoas, de um punhado de famílias interligadas, no Poder?

Como é concebível um bom patriota, que se aposta na boa governação e na transparência, seja capaz de transformar o tesouro público em propriedade privada, sob o mando do seu filho, que subalterna os titulares das Finanças e do Banco Nacional?

Enfim, a fortuna do Presidente José Eduardo dos Santos e seus filhos está à vista de toda gente, espelhada por todos os cantos do País. A grandeza desta fortuna não permite já ocultá-la. Pois, todos os empreendimentos de realce que se realizam no País são da Dinastia do Presidente e do núcleo interno do Poder. Este grupo, que se transformou numa Oligarquia, exerce o monopólio absoluto sobre a economia do País e não deixa nenhum acesso à outras pessoas que não fazem parte da esfera dinástica ou partidária.

Ai esbarra o desejo ardente do Presidente Angolano na sua pretensão desmedida de Bom Patriota.

Em contraste, a fraternidade é um factor decisivo e determinante do patriotismo, que se reflete na convivência amigável entre os concidadãos, no espírito profundo altruístico; uma relação de união, de afeto e de tolerância mútua. Seja quais forem as divergências existentes entre os irmãos, o espírito patriótico obriga ao diálogo, à concertação, ao compromisso e ao consenso comum.

Porém, o Consulado longevo do Presidente José Eduardo dos Santos tem sido caracterizado por um forte clima de divisão da sociedade angolana, de hostilidades partidárias, de exclusão socioeconómica, de humilhação e de subalternização de outrem.

Na entrevista acima referida, o Presidente José Eduardo dos Santos afirmou taxativamente o facto de que, nunca esteve preparado para dialogar com o Presidente fundador da UNITA, Dr. Jonas Malheiro Savimbi, em busca da paz e da reconciliação nacional.

Esta afirmação foi feita naquilo que ele chamou de episódio, em que o Presidente Botha da África do Sul lhe propunha seguir o exemplo de Nelson Mandela, a partir da prisão, tomara a iniciativa de entabular negociações com o regime minoritário de Apartheid.

Nesta afirmação, o Presidente José Eduardo dos Santos deixou transparecer o facto de que, a paz só passaria obrigatoriamente pela eliminação física do Dr. Jonas Savimbi. O que, decerto, vinha acontecer posteriormente em Fevereiro de 2002, no extremo Leste de Angola, na Província do Moxico, onde ele foi mortalmente atingido.

Este desiderato macabro do Presidente Angolano era do conhecimento absoluto da Direção da UNITA que procurou contornar esta situação delicada com fim de alcançar a paz definitiva. Infelizmente, esta lógica era persistente e inalterável por parte do soberano angolano que apostara, de forma intransigente, na decapitação do Líder da UNITA.

De todas formas, esta postura belicista contraria o espírito honesto de um bom patriota. Pois que, o prolongamento da guerra civil deixou um banho de sangue de filhas e filhos incontáveis desta pátria martirizada. Uma guerra estúpida e absurda que não tinha razão de ser.

Contudo, a Historia de um patriota é sempre escrita por seu próprio povo através dos factos concretos e indubitáveis, que se tornam um Monumento gigante, firme e inabalável. O Presidente Nelson Mandela, por exemplo, é um Homem sensato, reconciliador, congregador, unificador, honesto, modesto, humilde e humano, cuja sabedoria raríssima lhe distinguiu a nível mundial.

Óbvio, foi por este motivo, de modéstia e sabedoria, que fez com que o Madiba tivesse sido a estrela mais brilhante da Era contemporânea que foi capaz de trazer a liberdade, a unidade e a harmonia a todos os povos, as raças e os grupos étnico-cultural da Africa do Sul, que ficaram fortemente polarizados pelo sistema de Apartheid. O Madiba, além de tudo, quebrou o gelo do racismo e a classificação negativa da raça negra como sendo inferior, infernal, rústica, selvática e brutal. 

Infelizmente, a mesquinhez da Liderança angolana inibira o bom senso de agir com o coração aberto no sentido de se aproximar como irmãos da mesma pátria, na igualdade, buscando a fraternidade e o amor entre todos os angolanos. Semeando, desta forma, o ódio, a vingança e o revanchismo que continuam a ceifar as vidas dos angolanos inocentes e esclarecidos que não identificam com a Doutrina antipatriótica e antidemocrática do Regime actual.

Por isso, a História é incontornável e implacável na sua afirmação no tempo e no espaço. Ninguém entre nós, protagonistas da História contemporânea, terá o poder determinante de julgar e classificar o desempenho de cada um de nós. Só a nova geração, que não se envolveu nesta dinâmica conturbada do nosso país, reunirá as melhores condições de o fazer com o alto grau de responsabilidade, objetividade e imparcialidade exigida.

Noutras palavras, este Júri, de cunho apartidário e imparcial, da geração vindoura, saberá situar melhor cada protagonista da nossa História revolucionária no seu lugar merecido. Nisso, tenho a certeza absoluta de que, o nosso Mais Velho, Presidente José Eduardo dos Santos, pela sua Obra bem visível, será tratado com justiça e generosidade.

Porventura não venha ser na base de um bom patriota, mas sim, de uma outra classificação apropriada. A Justiça será feita assim pelo próprio punho.

Luanda, 15 de Junho de 2013

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