O deslocamento de unidades militares angolanas para L da RD Congo vem sendo rejeitado por José Eduardo dos Santos (JES) por razões entre as quais sobressaem as seguintes:
- A natureza étnica do conflito (tutsis vs hutos) e a dimensão regional do mesmo, como particularidades face às quais é inconveniente um envolvimento directo de apoio a uma das partes.
 - A impopularidade de Angola na população da RD Congo, nomeadamente na região dos Grandes Lagos, Kinshasa e prov do Equador, a qual tem comoprincipal factor o apoio ao regime de Joseph Kabila; o risco de elevar tal impopularidade por via de uma escalada militar.

2 . Em conformidade com actualizados intelligence assessments, Angola tem unidades militares compactas, organizados em Batalhões, c 3.000 h no total, em 3 locais precisos da RD Congo
– todos no Baixo Congo:
 - Matadi (emprego em missões de controlo territorial e vigilância da fronteira comum; desdobramentos para Tshela, na zona de fronteira S de Cabinda). - Kitona (controlo da base militar respectiva e participação em acções de formação e treino de unidades das FARDC).
 - Inga (protecção da barragem e áreas circundantes, incluindo zonas fronteiriças); interesses angolanos (AM 304) no projecto de Inga.

Em Kinshasa estão geralmente estacionadas forças especiais de polícia, PIR, cujo efectivo varia conforme as conjunturas. São comandadas novamente pelo comissário Alfredo Mingas “Panda” (AM 295/311). Em Kinshasa há igualmente uma “residentura” considerada importante do Sinfo/SIE.

3 . A colocação de assessores angolanos em unidades FARDC é uma prática teoricamente destinada a velar pela boa organização das mesmas (entrosamento e coesão interna idem) tendo em vista impedir fenómenos de deserção maciça que vinham ocorrendo quando, depois de formadas em Kitona, eram despachadas para zonas operacionais.

Os assessores angolanos também têm funções de intelligence e alguns estão referenciados como elementos activos de uma rede de fornecimento de material às FARDC, encabeçada por oficiais angolanos de alta patente. O fornecimento de material foi considerado necessário como forma de suprir problemas de organização local.

 4. A política de Angola para a RD Congo lida com o dilema da conveniência de ter emKinshasa um regime fraco, cuja sobrevivência depende crucialmente de apoios geradores de influências; mas, paralelamente, pela inconveniência do ónus que tal acarreta em termos de impopularidade (AM 276). Esta contradição implica que o apoio angolano a J Kabila seja discretamente gerido – um conceito não compatível com apoios militares ostensivos – embora sem prejuízos em termos de eficácia. Os “agentes” mais activos do apoio a J Kabila, que também têma função de o controlar, são de natureza policial e de segurança.

No gabinete de J Kabila, no Governo e em orgãos de defesa e segurança considerados vitais, estão referenciados 3 tipos de indivíduos que Angola emprega para controlar/condicionar a situação geral no país: congoleses considerados afectos ou agenciados; angolanos de origem congolesa (encobertos) ou formalmente nomeados.

O envolvimento de Angola na RD Congo, nos planos militar, policial e de segurança, é coordenado no terreno pelo Gen Nascimento Vaz, Director Nacional da Inteligência Miltar Estratégica, que reporta directamente aos Gen José Maria e M H Vieira Dias “Kopelipa”.

O apoio que Angola presta a J Kabila é contestado pelos países dos Grandes Lagos, mas também por outros como Rep do Congo (AM 236), África do Sul, Gabão e Zâmbia.A principal reserva é o “risco de instabilidade permanente” que decorre da má aceitação interna de J Kabila (falta de prestígio/noção generalizada de que depende de Angola).

Fonte: Africa Monitor