Luanda - A cultura política angolana, na sua perspectiva histórica e filosófica, assenta basicamente na alienação mental dos Quadros e na desestabilização constante dos partidos políticos. Esta Doutrina, na sua manifestação prática, opõe-se diametralmente aos princípios básicos da democracia genuína, que busca a representatividade, a participação efectiva, o equilíbrio politico e a alternância democrática do Poder.

Fonte: Club-k.net

Em função disso, o equilíbrio politico e a alternância democrática do Poder só tornam-se viáveis se existir partidos políticos fortes e bem estruturados e que haja igualmente uma elite política competente, capaz, ousada, honesta e independente; imbuída do espirito patriótico e progressista.

A materialização deste desiderato passa necessariamente pela afirmação de um Estado de Direito e Democrático que reconheça e valoriza o estatuto da Oposição e a essência da concorrência eficaz político-partidária, em pé de igualdade.

Na base disso, o Estado interioriza no seu íntimo a cultura democrática, se transforma na sua prática, engaja-se nela e investe efectivamente na construção e na consolidação dos partidos políticos de realce, que tenham capacidades adequadas de competirem-se entre si, em pé de igualdade. Imbuindo, desta forma, do espirito patriótico de servir o povo e a pátria, na unidade, na diferença e na diversidade.

Por sua vez, o suborno, a corrupção e o tráfico de influência são elementos nocivos que corroem os fundamentos do Estado de Direito e Democrático e realça o abuso de autoridade. A corrupção, na sua reflexão interna, tem dois aspectos análogos: De sujeito e de objeto, isto é, de corrompedor e de corrompido.

A acção de corrupção ou de suborno, de uma forma activa ou passiva, têm a mesma dimensão perversa no ponto de vista moral, ético, cívico ou espiritual. Pois, é um acto ilícito reprovável, em todas suas dimensões, e condenado por lei.

Na nossa sociedade angolana, visto por dentro, o Poder estabelecido adoptou a corrupção e o suborno como Doutrina formal do Estado que serve de instrumento mais eficaz de alienação mental da sociedade e da desestabilização do processo da democratização em curso.

Para este efeito, usa o Erário público e as Instituições do Estado para instrumentalizar, corromper, subornar e condicionar as forças vivas da sociedade, tendente a desequilibrar e desestabilizar os pilares principais da democracia efectiva.

Este fenómeno, de aliciamento e corrupção, visando a desestabilização politica e democrática, ganhou raízes muito profundas na sociedade angolana com efeitos destrutivos no seio da classe politica. Tendo a maior incidência sobre as superstruturas dos partidos políticos que são vítimas de manipulação pelo Poder estabelecido, irradiada a partir da Cidade Alta.

Neste fim-de-semana assistiu-se ao drama do Nfuka Muzemba, Secretário-geral da JURA, braço juvenil da UNITA, que tivera sido apanhado com a boca na botija, num acto de corrupção, suborno e de negócios ilícitos com a Cidade Alta, em pleno detrimento do ativismo político, do qual dedicou-se com zelo e coragem.

O jovem politico, Nfuka Muzemba, Deputado da Assembleia Nacional, é um intelectual brilhante que tornara rapidamente num ícone de inspiração da juventude angolana. Nessas circunstâncias em que se encontra actualmente, este jovem carismático, sua dignidade estará comprometida pelo sistema politico que não respeita e nem promove os valores de grande envergadura. Ele é vítima da conspiração e do conluio entre o Poder do Estado e o Poder Partidário.

Voltando um pouco ao passado mais recente, tudo tivera começado com o surgimento do “Grupo de Reflexão,” em 2012, que vinha alterar bruscamente o quadro de relacionamento tenso entre a Cidade Alta e a Superstrutura do Galo Negro, desdobrando-se em acordos de cavalheiros.

Elevando, de repente, o perfil financeiro deste Partido. Seguido por acçoes seletivas de silenciamento e afastamento de alguns protagonistas políticos mais ativos e dinâmicos que movimentavam a Juventude, de diversas origens, em manifestações de ruas, com pronunciamentos pertinentes e cativantes.

O potenciamento financeiro, do Galo Negro, fez com que despertasse da inércia, aumentasse o volume da acção política e fizesse uma campanha eleitoral com meios aéreos fretados, aterrando em municípios e em localidades rurais mais estratégicos do País. Um Partido, há pouco, dizia que não tinha um tostão para realizar o seu Congresso Ordinário.

O que torna, a meu ver, uma verdadeira incógnita que deixa muitas dúvidas por esclarecer. Ali reside a incerteza da culpabilidade do Nfuka Muzemba e da possibilidade de se tratar de um “bode expiatório,” resultante de uma gama de situações anómalas e de compromissos ocultos entre a Cidade Alta e a Liderança do Galo Negro.

A luz da realidade do nosso País, quais são os donos das empresas privadas aeronáuticas? Quem terá ousadia de fretar ou disponibilizar a sua aeronave a um dirigente da Oposição, em plena campanha eleitoral, sem correr o risco de represálias por parte da Cidade Alta?

Na realidade, a problemática do Nfuka Muzemba, representa ainda uma ponta de iceberg que fará correr muita tinta nos próximos tempos, a medida em que o processo irá desenrolar-se para os níveis mais elevados. Uma coisa é certa, a ascensão do Nfuka Muzemba à Chefia da JURA foi uma imposição da Juventude sobre a Liderança do Partido que se opunha a esta escolha. De facto, era tido como sendo um “intruso” e uma “ovelha negra” da família.

Nesta lógica, se de facto, tivera havido benesses da Cidade Alta ao Nfuka Muzemba, não terá sido parte integrante do pacote de compensação e de arranjos entre as partes, das quais estão sendo aproveitadas por rivais políticos no seio da organização juvenil com o fim de denegri-lo e afastá-lo da Liderança?

Por outro lado, suponhamos que as irregularidades imputadas ao Deputado Nfuka Muzemba sejam verídicas, como será a sustentabilidade do seu mandato no parlamento, num órgão legislativo de soberania, que pauta pela legalidade? Não será um grande desafio à Casa das leis no contexto da transparência, da dignidade parlamentar e da observância escrupulosa da Constituição e da Lei?

Este processo limitar-se-á somente ao caso isolado do Nfuka Muzemba, ou terá repercussões profundas sobre o sistema politico angolano enraizado na corrupção, no suborno, no abuso de poder e no desvio de fundos públicos, de forma generalizada?

Em todo caso, quantas personalidades de renome tiveram sido seduzidas, aliciadas, burladas, enganadas e desiludidas pelo regime, e que se encontram hoje mergulhadas em desespero e em frustração profunda, abandonadas à sua sorte, sem eira nem beira?

Todavia, nos anais da história da humanidade a tirania sempre revelou ter as mesmas características de má governação e de quedas bruscas, retumbantes e indignas.

Pois que, na base histórica, a tirania é a forma do governo usada na Grécia antiga após o regime democrático, em que o Chefe, embora com poder ilimitado, deveria servir e representar a vontade do povo. Seria nesta lógica específica, de analogia, que se enquadra o contexto actual angolano, caracterizado por abuso de poder excessivo, corrupção galopante, desvios de fundos públicos e o nepotismo extravagante.

Portanto, esta política de aliciamento e de alienação mental dos Quadros, aproveitando-se da pobreza extrema, do atraso e da miséria profunda, não assustará ninguém e nem impedirá a afirmação da democracia verdadeira. A democracia veio para ficar e o povo tem o direito e o dever de defendê-la, por mais difícil que seja.

*Conecta: http://baolinangua.blogspot.com