Obama deve ter orgulho dos líderes Africanos?

É uma vergonha que líderes Africanos agora se curvam um a um para se congratularem com o Presidente eleito. Quantos Obamas eles produziram nos seus países? Por acaso sabem eles, que só há cerca de 4 anos é que Obama pagou as dívidas que contraiu, para pagar os seus estudos e isso só depois de ganhar os direitos pela autoria do seu livro? Os líderes Africanos dão-nos vontade de chorar. As mãos da maior parte deles estão sujas de sangue dos muitos Obamas que assassinaram, e suas consciências estão pesadas devido a terem suprimido nos seus países, vários potenciais Obamas com a má governação, a pobreza e as condições de vida insuportáveis.

Obama deve tanto a América, que é difícil acreditar na sua ascendência Africana. Por nove meses ele cresceu na barriga de uma mulher branca, Ann Dunham e a parte mais importante da sua infância foi junto a avó, outra mulher branca. Ele viveu toda a sua vida de adulto nos EUA, a partir de onde ele vai superintender o resto do mundo.

Verdade, o pai de Obama era um Keniano que foi para o Hawaii com uma bolsa de estudos dos EUA.. Uma vez aí, Barack Obama Sr casou-se com uma jovem estudante branca de 18 anos chamada Ann, da qual nasceu Barack Obama Jr em Agosto de 1961. Dois anos mais tarde, quando foi aceito em Harvard, Barack Obama Sr deixou Ann e o seu filho. Enquanto ele dizia que o casamento tinha acabado devido ao racismo, na verdade isso aconteceu porque Ann descobriu a verdade inconveniente de que ele antes já era casado.

Esta linha de discussão, alimenta o debate sobre a influência da hereditariedade e meio ambiente versus natureza, que data do século 13. Alguns cientistas postulam que as pessoas se comportam de acordo com a sua predisposição genética ou mesmo até de acordo com os seus “instintos animais”. Outros acreditam que as pessoas pensam e se comportam de acordo com o que apreenderam do seu meio ambiente. Sem diminuir a importância desse debate, é correto pensar com fazem muitos cientistas, que todos os fatores são complementares.

Talvez não se deva esticar muito a discussão, mas o papel dos EUA em fazer de Obama um lutador é inequívoco. Acredito que tanto o sangue Africano como o Caucasiano (branco) têem as suas forças e fraquezas. Devido ao sucesso do antigo Presidente  Ganês, Jerry Rawlings, que transformou o Ghana e ao sucesso de Obama sou levado a crer, que a mistura de sangue Africano e Caucasiano remove ou diminui a ganância. A ganância primitiva é a causa fundamental da falência das lideranças Africanas. O pai de Rawlings era um branco e contar-vos-ei a sua história tal como a li, numa outra ocasião. Mas cuidado por favor. Até agora, essa coisa de sangue não tem nenhum suporte científico. Devemos tornar claro que Obama teve sorte em ter uma avó. Também nos EUA existem pais maus e irresponsáveis.

Voltando ao Kenya, não compreendo o que é que o governo queria quando decretou feriado no dia da vitória de Obama. No mínimo isso foi hipócrita. Se ele tivesse nascido no Kenya,  teria vivido a sua juventude sob os regimes  do presidente fundador, o ícone Jomo Kenyatta, que governou o país desde a independência em 1963 até a sua morte em 1978, e o Presidente Daniel Toroitich arap Moi que governou o país por 24 anos. 24 anos! Governou tão mal que lhe foi exigido um pedido de desculpas por actos de má governação cometidos durante o seu regime.

Embora o Kenya seja o ponto central das comunicações e finanças da África Oriental, se Barack aí vivesse poderia ter sido uma vítima do declínio econômico do país. O declínio começou em 1974 e piorou de 1991 a 1993. O crescimento do BIP estagnou e a inflação atingiu o record de 100%. Os doadores bi e multilaterais suspenderam os programas de ajuda, insistindo que o país deveria lutar contra a corrupção.

E quem sabe se Obama estaria vivo ainda, num país onde a mortalidade infantil tem uma taxa de 56 mortes/1.000 nascidos vivos. Muitos mais morrem ao nascer e muitas dessas mortes, tal como no resto de África, são evitáveis.

Quem sabe também, se Barack teria sobrevivido á “guerra tribal” pós eleitoral? De acordo com um relatório, o tribalismo no Kenya foi alimentado por ódio durante décadas de governo corrupto de Moi e Kenyatta. Ambos governos roubaram tanto que deixaram o Kenya literalmente na pobreza. Enquanto Kenyatta favoreceu a tribo dos Kikuyu, Moi favoreceu o povo Kalenjin. Eles deixaram no país apenas vilarejos decrépitos e cidadelas miseráveis. O resultado foi o ressentimento que em vários casos se manifestou como terríveis actos de arruaça e violência. O início de uma grande crise era apenas uma questão de tempo. Ela de facto se iniciou em Dezembro de 2007 após a reeleição do Presidente Mwai Kibaki, e em dois meses mais de 1.500 pessoas foram mortas de uma forma bizarra e vampiresca.

Barack poderia ter sobrevivido como o seu meio irmão George. No cenário de comparação entre Obama e George existem constantes que foram o Kenya como meio ambiente e o mesmo pai. Mas existem diferenças na sua heriditariedade porque são apenas meio irmãos.

George disse ao Vanity Fair, “Em Janeiro, durante as eleições houve tumultos e 6 pessoas foram agredidas até a morte. A polícia não prendia ninguém, simplesmente disparava. Vi muitos dos meus amigos morrerem. Tenho cicatrizes por defender-me a murro. Sou bom de punhos”.

George Hussein Onyango Obama, o meio irmão mais novo de Barack, vive em uma cabana na cidade em ruínas de Huruma, nos arredores de Nairobi. “Ninguém sabe quem eu sou”, disse para a revista, antes de continuar: “Vivo aqui com menos de um dólar por mês. Vivo como um recluso, ninguém sabe que eu existo e se alguém diz alguma coisa em relação ao meu sobrenome, eu digo que não somos parentes. Eu estou envergonhado”. George diz que há muito não tem notícias da mãe e continua: “Tenho de aprender a viver e arrancar o que eu preciso”.

Barack poderia ter sido também vítima da poligamia se vivesse no Kenya com o seu pai? Ele tem 8 meio irmãos de outros 4 casamentos ou relacionamentos dos seus pais. O seu pai teve 4 filhos com a mulher com quem se casou no Kenya antes da mãe de Obama em 1960 no Havaii. Dois desse filhos um menino, Abongo (Roy) e uma menina Auma, nasceram antes de Barack Obama Jr.

Depois que Barack Obama Sr se divorciou da mãe de Obama em 1963, casou-se com outra mulher americana que levou para o Kenya e teve mais dois filhos – Mark e David, que morreu num acidente de motocicleta. Este casamento terminou em divórcio, depois que Obama Sr retomou o relacionamento com a sua primeira esposa. Ele teve mais outras duas crianças – Abo e Bernard – do seu primeiro casamento, embora Obama Sr tenha escrito nas suas memórias que talvez um outro homem tenha sido o pai de Bernard. Mais tarde Obama Sr teve um outro filho, George, com uma mulher com a qual se envolveu, mas aparentemente não se casou. Obama Sr morreu tragicamente num acidente de automóvel por conduzir bêbado, quando Obama Jr tinha 21 anos.

Obama sobreviveu para fazer história, mas depois da euforia, é altura para algumas sérias reflexões. Barack Obama deve ter orgulho dos líderes Africanos? Num continente afundado pela pobreza, lideranças falhadas, com quantos líderes de sucesso nós podemos contar?  Madiba Nelson Mandela, no escuro do firmamento Africano é uma estrela solitária uma excepção que confirma a regra.

Infelizmente, querer que Obama seja Africano, é desejar-lhe o fracasso. Isso poderia ser trágico porque partiria muitos corações. Ao contrário da África onde muitos líderes falham, mas vivem para gozar o fruto das suas roubalheiras, Obama não teria tanta sorte. O fracasso não seria uma opção para o homem que foi celebrado pelo mundo inteiro, inclusive pelos inimigos da América. A sua caixa de texto, já está escrita e é uma caixa do inferno. Ele precisa de orações e não de celebrações selvagens e hipócritas.

* By Bisi Ojediran Lagos
Tradução: Manuela Sande
Fonte: In “blogafrica.com”