Luanda – Augusto Manuel está entre as mais de duas centenas de pessoas que se deslocaram ao Consulado Geral de Portugal em Luanda, na manhã desta terça-feira, 6, com o intuito de conseguir obter um visto para se deslocar àquele país europeu para participar numa conferência da sua congregação religiosa.
Fonte: O País
Apesar de ter solicitado o visto com três meses de antecedência, pela internet, conforme manda o regulamento, disse ter ficado surpreendido com a data que lhe foi indicada para o agendamento e a entrevista está fora da sua expectativa.
“Solicitei que me fosse concedido o visto no dia 9 de Agosto, mas fui informado que só será possível no dia 16 do corrente mês. Só que nessa altura a actividade em que pretendo participar já se encontrará na recta final”, explicou o jovem com um certo ar de tristeza.
O jovem contou que, ao expor a sua preocupação a um dos funcionários do consulado, identificado apenas como senhor Silva, que o orientou a enviar um e-mail ao mais alto responsável da instituição a explicar a sua situação para ver se conseguiria satisfazer o seu desejo dentro do prazo que almejava. O que fez, todavia sem êxito.
Acompanhado pela esposa que também pretende participar na mesma actividade religiosa com a duração de uma semana, Augusto Manuel contactou desesperadamente o funcionário do consulado, esta terça-feira, por não ter obtido ainda qualquer resposta, uma semana depois de cumprir com a sua orientação. Foi então orientado simplesmente a enviar novamente. Insista, insista...
Por seu lado, Aires Campos mostrou-se descontente com o facto daquela missão diplomática exigir aos candidatos que solicitem o visto com pelo menos seis meses de antecedência, numa fase em que as relações entre os dois países (Angola e Portugal) “caminham de vento em poupa e para a melhor”.
POPULAÇÃO PEDE CELERIDADE
No seu entender, devia haver menos passividade no tratamento das pessoas e maior celeridade na emissão dos vistos, desburocratizando ainda mais o sistema. “Não se compreende como é que uma pessoa que viveu mais de dez anos em Portugal, tenha que passar por um processo longo e demoroso para conseguir autorização para ir visitar os seus familiares e amigos que lá se encontram”, desabafou.
Fazendo fé que nenhum angolano pretende neste momento ir viver naquele país da Europa, não só por causa da crise financeira que enfrenta (que provocou a implementação de políticas de austeridade) como também pelo seu modo de vida.
“É sabido que a Europa está em crise e Portugal sobrevive à base do turismo; como vamos para lá nesta condição seria normal o governo criar mecanismos para facilitar a vida de quem pretende ir para lá fazer compras e visitar os seus parentes”, opinou.
Aires Campos, que apresentou-se como sendo descendente de português, mostrou-se ainda insatisfeito com os funcionários do consulado por terem incluído na lista de indivíduos que seriam entrevistados para saber os motivos que os levam a Portugal a sua esposa que, para além de ter residido durante dez anos em terras de Camões, possui a nacionalidade portuguesa.
Ele desabafou ainda que a sua companheira apresentou o cartão de vacina internacional emitido por uma das unidades sanitárias lusas, estando ainda dentro do prazo de validade, pelo que não encontra uma justificação plausível para exigirem que ela fosse submetida a uma entrevista para obtenção de um visto de turismo.
De acordo com dois empresários angolanos que pretendiam deslocar-se a Portugal, o mês passado, em negócios, a forma como o consulado está a conduzir todo o processo acaba por ser prejudicial para as pessoas que pretendem investir naquele país.
Na altura em que solicitaram os visto, ambos estavam a ser aguardado pelo proprietário da empresa que pretendiam comprar, mas o negócio teve que ser cancelado para Setembro por ter sido essa a data em que está marcada a entrevista que os habilitará a conseguir o visto.
CANDIDATAS SATISFEITAS
No meio da enorme moldura humana que se encontravam no pátio do consulado, encontravam-se as amigas Conceição Romero e Magda Costa aguardando pelo momento em que seriam atendidas. Disseram a O PAÍS que os seus processos estavam a correr sem sobressalto.
“Este processo só está difícil para aquelas pessoas que não se organizaram, não marcaram a entrevista atempadamente e querem ser atendidos a qualquer custo porque as pessoas que, como nós, marcaram a entrevista com a devida antecedência, estão simplesmente a aguardar pela sua vez, tendo em conta que sabem qual é o seu horário de concreto”, opinou.
Apesar das reclamações apresentadas pelos outros indivíduos, Magda Costa classificou o processo em curso como sendo melhor do que o dos anos anterior, por considerar que era mais difícil conseguir-se um visto para se deslocar àquele país europeu. Disseram que actualmente é muito mais fácil conseguir visto Shengem neste consulado que em instituições similares que têm a possibilidade de emitir este tipo de visto.
Conceição Romero disse que em algumas delas os interessados são obrigados estar no local às 5 horas da manhã para tentar conseguir um bom lugar na fila e aguardar pacientemente para serem atendidos, o que nem sempre acontece.
A nossa interlocutora mencionou a embaixada de Espanha como sendo uma das missões diplomáticas que neste momento está a prestar um mau serviço à população. “Lá só atendem 15 passaporte por dia, por isso os interessados são obrigados a chegar lá num período compreendido entre às 4 e às 5 horas para poder tirar a senha, com a possibilidade de vir a ficar de fora caso encontrem uma enorme moldura humana na parte exterior”, contou.
Contrariamente aos demais que tiveram que aguardar por três meses para a marcação da entrevista, Magda Costa contou que solicitou os serviços de uma agência de viagem há 15 dias para conseguir tratar os vistos e que só deu entrada da documentação a semana passada.
A jovem Conceição Romero, que tratava do visto pela 5ª vez, considerou-se sortuda, pois sempre que o fez teve o privilégio de levar múltiplas entradas, embora tenha enfrentado enorme dificuldade para obter os dois primeiros.
“Foi muito difícil porque não havia este sistema novo, a organização era péssima e as pessoas eram obrigadas a chegar aqui muito cedo para tirarem filas e perfilarem até que fossem atendidas. Havia ainda outros indivíduos que furavam as filas, mentindo que já estavam aqui há muito tempo”, frisou.
Ela contou que, neste momento, as pessoas são atendidas por ordem do horário que é atribuído pelo sistema de solicitação de visto digital que o consulado está a utilizar.
Já o cidadão Alexandre Luís, que se havia deslocado àquele local para fazer o pagamento das taxas de solicitação de vistos, disse acreditar que o processo está a ser demoroso por causa do enorme fluxo populacional que pretende deslocar-se a terras de Camões neste período do ano.
