Luanda - Jorge Bento é dos poucos que tenta acalmar os ânimos das pessoas que se encontram na mesma situação que ele. Há vários meses que aguarda por uma lista do Instituto Nacional de Gestão de Bolsas de Estudos (IGNABE) para ver se continuará os seus estudos às expensas do Estado.

Fonte: O País
“Caros colegas, é preciso ser forte como a pedra”. É o que se pode ler num e-mail que este estudante enviou a este jornal em Julho.

Bento é apenas uma gota no oceano de reclamantes que diariamente esperam uma informação do IGNABE sobre a publicação das listas dos possíveis admitidos para o presente ano académico no país, que já vai no seu quinto mês.

“Olha sejam responsáveis com o que assumiram diante dos estudantes universitários…Penso eu que se fosse no ano das eleições já teriam publicado as listas”, começou por dizer um dos candidatos, que preferiu não ser identificado. “E o responsável do INABE não aparece nas redes sociais para justificar a demora da não publicação das listas. Espero que não venham surpreender-nos dizendo que este ano não vamos publicar. Se isto vier a acontecer, espero que nos devolvam os documentos e com indemnização pela demora”, acrescentou o estudante.

As inquietações dos estudantes vêm de todos os cantos do país, de norte a sul e do mar ao leste. “Falo a partir da capital ecológica do nosso país (Huambo) e gostaria que me informem sobre a data da publicação dos resultados e agradecer o grande esforço que o Governo tem vindo a realizar para tornar realidade o sonho de muitos jovens angolanos”, rogou o candidato BC.

A candidata TAC, estudante do Instituto Superior Jean Piaget de Benguela, confessou que está com sérios problemas em relação ao pagamento de propinas neste estabelecimento de ensino.

Apesar de se manifestar preocupada com o tempo, a jovem TAC realçou que alguns dos concorrentes a nível local terem apresentado durante as inscrições dados falsos, como os atestados de pobreza e documentos de antigos combatentes.

Uma outra estudante, também da Terras das Acácias Rubras, que O PAÍS identifica apenas com as iniciais DTAC, vive com a mãe que tem um salário de apenas 18.890 kwanzas, um dos factores que a força estudar de forma intermitente.

A rapariga deposita as esperanças na publicação da lista porque tem de pagar mensalmente 25 mil Kwanzas ao Instituto Superior que frequenta, um valor mais elevado que o ordenado da sua progenitora. Por isso, ela aguarda ansiosa pelos resultados.

Estudante da Escola Superior Politécnica do Zaire, afecta a Universidade 11 de Novembro, Osvaldo ainda não atirou a tolha ao tapete, porque acredita na velha máxima de que “a esperança é a última a morrer”.

JS, aluno de uma faculdade em Cabinda, disse que até se deslocou a Luanda para junto da direcção do Instituto Nacional de Gestão de Bolsa de Estudo ultrapassar que tem observado até ao momento com o pagamento do seu complemento de bolsa.

Em conversa com O PAÍS antes do fecho da presente edição, o discente, que já foi bolseiro no ano passado, diz que em 2013 ainda não recebeu nada e está completamente endividado com a instituição que frequenta.

“Quando fui a Luanda, as pessoas que encontrei no INAGBE disseram-me que poderia regressar e que a qualquer momento fariam os respectivos pagamentos. Mas, a verdade é que até ao momento não tive nada e isso preocupa-me bastante”, desabafou o estudante.

Por seu lado, JN, da Escola Superior Politécnica do Namibe, pertencente à Universidade Mandume Ya Ndemufaio, também não compreende o que se esta a passar até ao momento. Em Março deste ano concorreu a bolsa interna e entregou os documentos num departamento na sua universidade, mas quase seis meses depois não teve resposta.

Recentemente, JN ainda contactou alguns dos indivíduos na província ligados ao processo das bolsas internas, mas os esforços também foram inglórios.  

“Como o segundo semestre começou agora, vamos ver o que acontecerá nos próximos dias. A única verdade é que estamos todos com dívidas”, contou o jovem, que abandonou a sua zona de origem, Tombwa, para estabelecer-se na capital Namibe, a 95 quilómetros.

Há dois meses que a equipa deste jornal tenta ouvir a direcção do Instituto Nacional de Gestão de Bolsas de Estudo. No último contacto, um dos assessores do responsável da instituição condicionou a entrevista ou encontro a uma carta que tinha de ser endereçada, apesar de esta publicação já a ter enviada em Junho do corrente ano. 

DISCREPÂNCIAS NOS PAGAMENTOS

Contrariamente aos que ainda não receberam qualquer pagamento, por ausência das listas dos aprovados como bolseiros no presente ano lectivo, muitos estudantes também têm sido confrontados com valores diferentes daqueles a que têm direito.

De acordo com informações apuradas por este jornal, a direcção do Instituto Nacional de Gestão de Bolsas de Estudo estabeleceu diversos tipos de bolsas, que estão discriminadas em séries identificadas com letras do alfabeto.

Segundo apurámos, por exemplo, que está com bolsa do tipo A a nível interno recebe aproximadamente 100 mil kwanzas, o mesmo que um bolseiro no exterior do país (ver matéria ao lado).

Trata-se de um montante que pode ser repartido por quatro ou três indidíduos das séries que receberem quantidades mais exíguas, como aqueles que auferem apenas 25 mil Kwanzas mensalmente.

Ainda assim, de acordo com relatos a que tivemos acesso, muito estudantes não têm recebido na totalidade os montantes a que têm direito.

“Antes de mais nada recebam os meus calorosos cumprimentos. Sou bolseiro interno e estudante do Instituto Superior Politécnico Jean-Piaget-Benguela e a minha preocupação é a seguinte: sabendo que o INABE começou a fazer os respectivos depósitos nas contas dos bolseiros, encontrei (isto em minha conta) um valor que não coincide com a minha série”, explicou VF.