Luanda – Uma máxima que até hoje não deixa de me surpreender, visto que denuncia claramente uma inconformidade com o sistema democrático e, ainda assim, continua a ser orgulhosamente ostentada por algumas personalidades do partido no poder. Mas, ignorando os factos e seguindo a lógica desta máxima, para sabermos quem de facto é o Povo, torna-se essencial sabermos antes quem é o MPLA!

Fonte: Club-k.net
O MPLA foi oficialmente fundado no 10º dia de Dezembro de 1956 como resultado da amalgamação de vários agrupamentos políticos, entre eles o Partido Comunista Angolano (PCA) e o Movimento para a Independência de Angola (MIA). Teve como seu primeiro presidente Mário Pinto de Andrade, um dos membros fundadores do partido, que eventualmente se aparta do mesmo. É substituído na liderança do "M" por António Agostinho Neto.

No seu primeiro congresso em Dezembro de 1977, já após alcançada a independência de Angola, o partido adopta a ideologia Marxista-Leninista e implementa o monopartidarismo no país. Com a morte de Agostinho Neto a 10 de Setembro de 1979, José Eduardo dos Santos torna-se o seu próximo presidente. Com o fim da Guerra Fria, no seu 3º Congresso (Dezembro de 1990) o MPLA abandona a sua filosofia Marxista-Leninista para então adoptar a Social-democracia (e o multipartidarismo) que, pelo menos em teoria, é a ideologia que vigora até hoje.

Os parágrafos anteriores apresentam uma versão condensada e exageradamente simplificada da história do "partido da verdade, da liberdade e do povo", ilustrando assim "Quem foi o MPLA". Portanto, a questão inicial ainda não fora endereçada: "Quem É o MPLA""?

Nos últimos tempos, tenho estado a observar um partido cada vez mais frágil e apático internamente. Um partido onde a influência exibida por certas personalidades tem estado a diminuir vertiginosamente. Um partido com uma corrente única de pensamento, onde opiniões contrárias não saem dos corredores e o descontentamento dos seus membros não se traduz em resultados.

Um partido que permite a mudança de seu próprio legado, relegando ao esquecimento figuras e eventos essenciais da sua história (como é o caso de Pinto de Andrade e do 27 de Maio). Um partido confuso, onde as políticas adoptadas por seu governo e a própria atitude dos seus governantes pouco ou nada reflectem a ideologia por si professada.

Um partido que permite a esposa e a filha do seu presidente, sem militância alguma, como deputadas. Um partido que permite que o seu presidente, nas vestes de presidente da República, nomeie o seu filho para o posto máximo do Fundo Soberano do país sem haver credenciais para tal. Um partido que aceita a imposição de um vice-presidente da República.

Um partido que permite que seus governantes sejam constantemente humilhados e desrespeitados de tal forma que, em certos casos, apenas ficam a saber da sua destituição através dos serviços noticiosos. Governantes que são bodes expiatórios de todas as falhas do "Executivo", que não têm a capacidade de solucionar os problemas dos seus pelouros porque são exonerados por seus erros, mas todos seus acertos, todos os resultados positivos que alcançam devem-se única e exclusivamente à "liderança do líder do partido, eng.º José Eduardo dos Santos" - o clarividente, como mencionam infalivelmente em seus discursos.

Com essas observações (e muitas outras não mencionadas), acredito poder se afirmar com um alguma propriedade que, actualmente, o MPLA é o "Zé Dú"! Consequentemente, a frase inicial deste texto implica automaticamente que o povo é o JES. Ora, não é necessário ser analista para perceber o absurdo que é essa conclusão.

Infelizmente o povo não tem os privilégios usufruídos pelo presidente. Não tem o poder de influência do mesmo. Nem sequer tem voz para decidir o seu próprio destino. Seria ideal JES ser o povo e o povo ser JES (ou qualquer outro presidente da República). Seria bom se os poderes, ansiedades e propósitos fossem equiparáveis. Talvez as coisas estariam melhores para todos.

Claro está que este não é o caso. Então apelo para que nós, o povo, lutemos sempre por um presidente da República que nos represente realmente. Que lute pelos nossos interesses e que tenha clareza da realidade que vivemos. Essa tarefa ficou ainda mais árdua com o modelo atípico de eleições para a Presidência do país.

Por isso, estendo o meu apelo ao próprio partido. Que não se esqueçam que vocês também são povo. Que se cansem de ser usados e humilhados constantemente em troca de algumas migalhas. Que imponham-se e lutem contra a usurpação do país e do próprio partido pela clã "Dos Santos". Que se libertem! Que ocupem o vosso lugar! Que se reaproximem do povo!

De qualquer forma, fica aqui estabelecido que a frase de abertura deste texto é falsa. E se em alguma altura tivera sido verdadeira, não tenho muita fé que o voltará a ser tão cedo! Portanto, sejamos mais atentos e exijamos mais os nossos direitos. Para começar, renunciemos inverdades a nosso respeito e corrijamo-as sempre que possível. Por agora: "O MPLA CERTAMENTE NÃO É O POVO, E O POVO NÃO É O MPLA"!!!