Lisboa - Apesar da importância que Angola tem para as vendas de produtos tax free em Portugal, o potencial de crescimento está noutras geografias, nomeadamente, na China e no Brasil

Fonte: Publico

Os gastos dos turistas angolanos no comércio nacional em regime tax free ultrapassam os dos turistas brasileiros, chineses e russos juntos. Nos primeiros seis meses do ano, 41% dos turistas que pediram reembolso de impostos em produtos elegíveis para tax free (livres de impostos) tinham nacionalidade angolana, 23% brasileira, 11% chinesa e 6% russa.

Em 2012, no mesmo período, 44% das vendas tax free foram feitas a angolanos, mas, apesar de o peso ser superior ao deste ano, o volume global de compras aumentou 20%, avança Pedro Frutuoso, responsável pela Global Blue em Portugal, empresa que opera no negócio do reembolso de IVA. Ou seja, os 41% de vendas a angolanos em 2013 valem mais do que os 44% de 2012. Durante todo o ano passado, os angolanos foram responsáveis por 50 milhões de euros em compras tax free, mais do que os russos (46,6 milhões de euros) e do que os chineses (7,2 milhões de euros).

A Global Blue não divulga valores absolutos para o primeiro semestre de 2013 e o tax free apenas contempla produtos que sejam transportados pelos turistas extracomunitários na sua bagagem (não abrange, por isso, despesas em hotelaria e restauração).

Apesar da grande importância que tem nas vendas, o peso de Angola tem vindo a estabilizar. Pedro Frutuoso sublinha que o potencial de crescimento está noutras geografias, como a China e o Brasil. As vendas a turistas chineses dispararam 129% no primeiro semestre de 2013 (112,76% no período homólogo de 2012). Cada vez que vão às compras, estes visitantes gastam, em média, 1198 euros, mais 41% face ao ano passado. São os únicos desta amostra a aumentar os gastos (ver gráficos).

"Esta subida deve-se ao facto de os chineses terem escolhido produtos mais caros este ano", sublinha Pedro Frutuoso. Há, ainda, questões culturais a ter em conta. "Andam sempre em grupo e compram por imitação: quando um compra, os outros tendencialmente compram o mesmo artigo", continua. No universo em análise, a grande maioria das lojas são de grandes marcas de luxo.

Os angolanos gastam em média 315 euros porque compram não só produtos de luxo, mas também outras marcas de vestuário de grande consumo. "É o turista que compra tudo: de artigos de baixo valor aos de alto valor, porque não os têm no seu mercado de origem", explica. O ritmo de crescimento também é muito menor do que o dos chineses: as vendas tax free a visitantes oriundos de Angola cresceram 12% no primeiro semestre, quando no ano passado, na mesma altura, tinham aumentado 28%.

Já a factura apresentada pelos brasileiros que visitam Portugal é de 224 euros, em média. Os russos despendem 239 euros, valores abaixo dos do ano passado.

O tipo de turistas incluídos nestes dados da Global Blue são os chamados global shoppers: oriundos de economias emergentes, para quem fazer compras é parte integrante da sua experiência de viagem. Sabem o que querem comprar, vêm com listas e pesquisas prévias feitas na Internet e, por vezes, fotografias dos produtos. Aproveitam os preços das marcas de luxo na Europa, já que muitos têm barreiras à entrada de artigos estrangeiros, sujeitos a elevadas taxas de importação.

Quase metade das compras (49%) refere-se a roupa. Seguem-se as jóias e os relógios, artigos em pele e acessórios de viagem e artigos de electrónica e tecnologia.

Pedro Frutuoso diz que os gastos destes turistas ultrapassam em muito os dos portugueses, que, em média, gastam apenas 35 euros em cada acto de compra. "A compra de um turista extracomunitário é entre quatro e cinco vezes superior à de um consumidor local", sublinha. Lisboa, continua, está a despertar para este mercado e há marcas que ocupam a Avenida da Liberdade, a Rua Castilho ou o Chiado a conseguir 60 ou 70% das vendas mensais com estes visitantes. "As vendas para o mercado doméstico são inexpressivas. As lojas têm funcionários a falar chinês, russo e uma oferta de produtos desenhada para estes clientes, ou seja, planeiam o negócio de acordo com as necessidades destes turistas", afirma.

Até ao final do ano, a Global Blue espera um aumento dos pedidos de reembolso de impostos pelo "simples facto de os visitantes conhecerem cada vez mais este serviço".