Luanda - Inspirado no Zimbabwe e em Robert Mugabe, assim na terra como nos céus de Angola. Disse o Dervixe: “Continuamos prisioneiros sem algemas, numa prisão sem grades, acorrentados na consciência por uma Democracia de fachada que serve bem para esconder as práticas comunistas e ditatoriais deste Estado dito Soberano e de forma enganosa ao serviço do Povo que supostamente o Elegeu, quer dizer: Nós’. As eleições continuarão a existir, mas simplesmente para eleger responsáveis que não terão poderes nenhuns”.

Fonte: Folha8

Nem sempre concordei com sua opinião que me pareceu um pouco áspera, mas ele continua: porque razão temos todos medo, medo de um Estado finalmente refém? Ele próprio responde: - Simplesmente porque adoptamos moralmente a cultura do medo; medo de morrer de morte, quer dizer fisicamente; muito mais medo de morrer socialmente, quer dizer, de atingir o zero, tocar o fundo, de se transformar em energúmeno frustrado, ou mesmo louco de loucura, instrumento desprezível, maleável aos desígnios deste Estado predador impostor e nada poder fazer porque outros assim também se comportam, com medo; não fazendo nada, fingindo alguma coisa fazer, não reagindo, mas incitando outros a fazê-lo.

Lá nas europas meus filhos nutrem este mesmo medo imposto por um Estado sequestrado e ao serviço de um grupo que com os instrumentos de repressão violenta (polícias, tropas, tribunais, DNIC, DNIAC), e de repressão passiva como Ministério da Comunicação Social, os bancos e instituições públicas, que nos fazem gemer todo tempo, sem contudo podermos armazenar esta capacidade de dizer “Não”. Por isso, lá os filhotes chamam-me aventureiro, porque este medo os faz pensar a qualquer momento papá pode morrer, não de morte natural ou acidental divina, mas encomendada por este Estado que não admite o “Não”!

Voltou este Dervixe com suas alucinações: “Mas porque razão todo o mundo desde aqueles que estão à volta do PR, o Vice-presidente, o Presidente da Assembleia, os secretários disso e daquilo, os ministros, governadores, generais, desde o Estado Maior, funcionários, jornalistas alimentam esta psicose não de respeito, mas de medo, ao verem fantasma em todo o lado?” Mais uma vez ele respondeu: “1° não se trata de psicose, porquanto é realidade. Este medo pode ser medido e pesado. Mesmo invisível, ele é perceptível”. Todos vivem de favores ao M/ velho, todos são forçados a vergar em vassalagem, mesmo diante da sua sombra. E continuou, não é em vão que o homenageiam; não é por acaso que é condecorado, vejam só, por aqueles quem ele os nomeia para cargos subalternos.

Foi nesta ordem que me debrucei à procura da realidade dos factos reais que determinam finalmente os estados, os governos, subentendido, o meu Estado sequestrado, o meu Governo manietado, o meu “Executivo” ou as mulheres e os homens que o compõem cuja expressão institucional constitucional estatal, não tem qualquer relação com os ditames de uma governação clássica séria. Está tudo quadriculado, cada um de nós tem o seu valor e o seu preço no esquema montado. Assim, fui à procura da significação do Sistema de Estado e da Forma de governação que administram o meu ser e estar. Soube que somos tudo, menos nada daquilo que deveríamos ser. Estamos foxtrotes e, disseram-me alguns amigos: a situação piorou ante o adormecer desta gente que está sempre no tudo bem e no “Graças ao Camarada Presidente”, esta gente que se conforma a tudo e que vive comparando em permanência o passado de guerra com a penúria de vida do presente. Porém, esquece-se que esta penúria só a ele concerne, pois no mesmo período outros progrediram, estabilizaram suas vidas e dos seus, roubando, desviando, açambarcando.

A Democracia e as liberdades estão cada vez mais aniquiladas, usaram a figura do PR para atingir estes fins, sob pretexto de perturbação a estabilidade ou de ameaças de novas guerras. As leis só são feitas para sancionar as vítimas, indefesas, por um Estado que nunca é prevaricador. Todos pactuam directa ou indirectamente com as forças do mal que afligem o povo, porque cada um quer no essencial viver bem no presente e que se afogue o futuro ou quem resistir às tentações do mal, Amém!

O Estado Angolano não existe

Aquele Estado Convencional Republicano, constituído, neste caso, por um Presidente da República eleito, um Poder Legislativo (Assembleia); um Poder Executivo (Governo) e um Poder Judicial (Tribunais), está cativo. Tudo se submete a um só, o Soberano. Disse o Dervixe: “O resto, sem excepção, não passa de marionetes que vão jogando o jogo como podem, para sobreviver e subsistir”. Todos se colocam de joelhos, nomeados e demitidos a três pancadas e a bel-prazer de quem manda, não de quem devia governar. O Soberano despiu-se das suas funções constitucionais e políticas e enveredou por uma outra realidade, a real, a económico-comercial, do verdadeiro poder, dos dinheiros que arregimentam todos nós. Entregou nas mãos dos seus, filhos, tios sobrinhos, afilhados, genros, amigos e toda uma casta, o ouro e a prata, deixando o ferro fundido para calar a boca daqueles que pretenderem se rebelar.

O Estado fictício está pobre, não tem dinheiro. O Grande Capital foi retirado dos cofres nos moldes hipoteticamente legais da República e entregue a esse grupo que institucionaliza o nepotismo e a oligarquia expressamente assumidos, declarados e exponencialmente exibidos e aos olhos de toda a gente. Todos os bancos; todos os grandes empreendimentos, as grandes empresas, como é a SONANGOL, a UNITEL e MOVICEL, a ENDIAMA, os símbolos do Monopólio económico angolano, são legais porque adquiridos em concursos públicos falseados, encomendados e direccionados.

Estes donos, finalmente é quem ditam as regras do jogo político. Não são eleitos, mas são muito, muito poderosos, mais do que outros milhares ou milhões concentrados. Apesar de oculto, este poder é sem limites e já ultrapassou as fronteiras, tornou-se Imperialista. São eles que mandam em Angola, decidem da vida socioeconómica, definem os nossos hábitos e costumes, e balizam as regras da neo-cultura híbrida, esta cultura sem nome, sem regras, de alienação e como diz o meu colega, neocolonialista. Muito mais do que isso, determinam as nossas vidas, nos compram, nos vendem, nos botam fora depois de se servirem.

Mesmo assim dizia outro colega, em Angola não tem ricos, são apenas endinheirados alucinados que se aproveitaram do vendaval do pós guerra, da opacidade do Regime e da passividade do povo e por isso não permitem que outros possam gerar riqueza também. Depois de tudo saquearem, inventam agora leis supérfluas para bloquearem a ascensão de novos endinheirados ou verdadeiros ricos que possam dar moral à riqueza e criar empregos nacionais, partilhar tudo porque querem limitar o círculo do poder. Continuo a usar os termos do meu colega: Estes indivíduos são uma corja açambarcadora, vagueiam pelas europas e américas exibindo o roubado dos cofres do Estado e dos bolsos dos pacatos cidadãos.

Estado Pobre

O Partido e o Presidente que substituírem o M/V Eduardo dos Santos por via de eleições_ apesar do cepticismo crescente a este respeito, encontrará um Estado carcomido, sem reais activos, com os cofres vazios; por isso vão ter de se vergar aos actuais donos do poder real, se realmente pretenderem ligar as boas intenções a prática na lógica do: “O mais Importante é Resolver os Problemas do Povo”, de Agostinho Neto, ou então do: “Primeiro o Angolano, o Angolano Sempre”, de Jonas Savimbi. Caso contrário, e por este andar, serão igualmente marionetes ao serviço daqueles hoje gatunos porque roubaram oficialmente o erário do Estado, mas amanhã terão de ser considerados grandes magnatas. Serão estes os donos da Sonangol, da UNITEL, MOVICEL, dos grandes centros comerciais, dos grandes grupos empresariais que continuarão a mandar naqueles que farão de contas que irão politicamente nos governar.

Portanto, o Estado na vertente política, não existirá nunca, todos nós seremos empregados deles, daqueles a quem criticamos hoje, os homens do dinheiro. Pois eles serão muito mais ricos do que o dito Estado no seu conjunto, na medida em que a privatização da batota do património público que se faz hoje e a concentração de monopólios nas mãos de muito poucos, conduz a isso mesmo. É não nos esquecermos, sem dúvidas é o dinheiro que governa. Assim como serão eles quem irão financiar este MPLA que se pretende continuador do Estado, acima das leis a começar pela Constituição; acima do poder político e quiçá, da Democracia. São eles que tomarão as grandes decisões e serão chamados para assinar os grandes contratos, os acordos inter-estados, sem precisarem consultar, nem informar quem quer que seja. Não é por acaso que, e voltou o Dervixe: “Apreciamos hoje, pseudopolíticos mais preocupados em se posicionarem atrás destes verdadeiros donos do poder do que a trabalhar realmente para libertar, defender os interesses dos oprimidos”.

Poder Real enfraquece o Estado

O Poder já não é mais representativo ou electivo, mas exercido directamente por aqueles que controlam o sistema financeiro e as grandes empresas, são estes que controlam a comunicação social, a Banca e outros sectores fundamentais da vida corrente. Actualmente as nossas relações são determinadas pelas condições económicas, não pelos valores morais.

Pai quero um poço_ vai buscar ; quero aquele terreno_ vai buscar ; quero aquele bairro_ pode ocupar ; preciso de 10 milhões USD_ vai buscar e diga ao gerente que não se atarde ; que ninguém mais abra um Canal TV ; ninguém mais obtenha uma operadora de telefonia, isto e muito mais ! - Assim seja, diria o Soberano, Angola é minha, portanto é vossa meus filhos, ide e confiscai o que quiserem; será ?! Ninguém acredita.

Dividas estatais sobrefacturadas, umas desconhecidas que têm provocado corrupção da alta, empresas criadas no joelho que ganham chorudas comissões, ganham concursos públicos de trabalhos inúteis, mas avaliadas em milhões, subvenções, subsídios, empréstimos dados a empresas sem contrapartidas e tudo concentrado nas mãos das mesmíssimas pessoas. Para agravar, impuseram a obrigação de seguros sem o Estado ter as condições criadas para honrar suas obrigações como são o estado das estradas ou os hospitais em condições e serviços hospitalares e de intervenção em altura. Proibiu-se a importação absurda de viaturas de segunda mão praticamente para salvaguardar os negócios das concessionárias nas quais são sócios. Estas e outras…

Estes grupos económico-financeiros, seus PIB, são duas a três vezes mais do que o do Estado.

Basta ver que em 2012, de acordo os nossos colegas do Expansão, só a UNITEL em Angola teve mais lucros do que 22 bancos privados juntos, na razão de 91,5%, a imagem dos resultados das eleições gerais de 31 de Agosto de 2012. 219,8 milhões de USD ganhos de serviços a cerca de 20 milhões de consumidores. É obra, o exagero.

Todos eles se conhecem, fazem parte do mesmo Club, comungam o mesmo espírito de como ganhar dinheiro, trocam pontos de vista e partilham os mesmos interesses e visão exclusivista da sociedade da qual são os donos.

Vão criando assim ilhas que serão barricadas (zona asfáltica e os condomínios de luxo, juntando os parques de bangalows do estilo gótico), o resto da escória da negralhada africana vai para o Diabo dos zangos e outros locais longínquos parecidos, distantes dos centros de decisão e da suposta civilização.

Precarização dos empregos, desemprego em alta e salário de miséria que não deixa margem para qualquer um rejeitar não importa que tipo de trabalho e das condições de o exercer.

Por outras palavras, o poder é exercido segundo a força, não segundo o saber, a capacidade e os conhecimentos de cada um. Assim é na selva em que, quem manda é o grande Macho. 

O Monopólio da Informação

A Comunicação Social monopolizada priva os cidadãos da informação real. Com a proibição do contraditório, ninguém se consegue orientar na vida, perceber os contornos políticos e compará-los com a realidade socioeconómica a partir das informações fornecidas e toda a animação cultural de que somos nutridos pelos Mídias públicos. É verdade ainda seguimos os noticiários, TPA’s, RNA, JA, acompanhamos programas de entretenimento, mas todos esvaziados de conteúdo real. Assim é com a Educação, que está vocacionada a formar quadros não aproveitados por estarem suficientemente investidos e por tal incapazes, segundo o próprio Presidente da República.

O urbanismo, a ordem social, os subsídios aos carenciados ou aos ditos empreendedores das PME e PE, estão programados de modos a perpectuar o exército de miseráveis, numa sociedade despida de valores e fundeada nas relações de compra e venda, só o dinheiro vale. Isto leva a considerar subversivos os cidadãos se assim os há, como dizia, que voam com as suas próprias asas. Tudo isso empurra os homens ao uso da espiritualidade, a frequentarem as igrejas como escape e em desespero.

Conclusão ! Não há o contra poder em Angola, indispensável para o desenvolvimento equilibrado. Os deputados no Parlamento, estão longe de cumprirem seu papel de fiscalizadores das acções do Estado e Governo, e de exercerem como porta-vozes e defensores do povo. Os angolanos no geral ficaram reduzidos a simples espectadores que observam impávidos a minoria que manipula e faz acontecer, forçados a escolher entre o Diabo e o Demónio. Mesmo por isso, os homens de independência mental, os fazedores de opiniões são declarados pelo Regime, individualidades a abater. Já que o Poder implantado conseguiu incutir na mentalidade cidadã que são favores que faz e não se trata de obrigações no quadro das responsabilidades que cabem a um Estado, servir seus cidadãos sem qualquer preconceito ou etiqueta e fez com que estas mesmas vítimas passassem a ter medo do desconhecido e a duvidarem das forças políticas da oposição que se batem pela Alternância e a Mudança de Regime, subentendido, única alternativa é continuar a aplaudir. « Muito caminho há por se trilhar. Nesta empreitada, é urgente aliar a crença e a confiança, na necessidade incontornável da mudança como outros povos que atingiram o progresso e desenvolvimento assim o fizeram », concluiu o Dervixe.

*IN Folha 8