Luanda - Nos pronunciamentos que já fiz sobre o caso Nfuca Muzemba tenho evitado entrar no “mérito da causa”, por várias razões sendo a mais relevante aquela que tem a ver com a impossibilidade de apurar, com base em fontes independentes, a verdade dos graves factos de que o jovem militante da UNITA é acusado.

Fonte: SA
Nesta altura e depois de tudo quanto se passou, a sua sentença parece já ter transitado em julgado tendo como referência os meandros estatutários do processo disciplinar interno.

Não sei se será exactamente assim, mas creio que Muzemba internamente já não tem qualquer possibilidade de recurso no âmbito dos seus direitos de defesa enquanto militante.

Assim sendo só lhe restará como cidadão, caso queira manter politicamente o processo aberto- não aceitando nem se conformando com o veredicto e a pena imposta- recorrer às instâncias judiciais, com a instauração de um processo crime ou cível contra a direcção do partido em que diz querer continuar a militar como até agora.

Não conhecendo quais são os planos pessoais imediatos de Nfuca a respeito, embora ele já tenha anunciado que vai fazer recurso a todos os meios para provar a sua inocência e limpar o seu nome, tudo o que se vai passar de agora em diante, caso ele mantenha essa determinação, só poderá agravar o seu isolamento interno.

Pelo que é do meu conhecimento e até a hora em que redigia estas linhas, Nfuca não tinha ainda conseguido recolher uma única manifestação pública de solidariedade com a sua pessoa por parte de alguma personalidade da UNITA ou de algum companheiro seu da JURA.

Admitiu-se aqui na edição anterior do SA, que Camalata Numa seria um provável defensor e aliado de Nfuca tendo em conta a suposta influência que terá jogado para o que o ex-SG da JURA chegasse ao trono da organização juvenil do Galo Negro, onde pela positiva chamou a atenção de todos observadores pelo facto de não ser propriamente um “genuíno” saído das hostes mais tradicionais da organização.

Não nos tendo sido possível confirmar esta informação, nem saber qual é a posição oficial do ex-SG da UNITA em relação a decisão condenatória tomada, resta-nos para já a ideia de que internamente a situação de Nfuca pode estar a encaminhar-se efectivamente para um ostracismo puro e duro.

Na democrática Atenas antiga quando alguém era condenado ao ostracismo, o culpado tinha dez dias para abandonar a cidade e dez anos de interdição, isto é, sem poder voltar a viver nela, a não ser que fosse alvo de um perdão extraordinário votado na assembleia ateniense.

Para já o ostracismo de Nfuca foi colocado na fasquia dos 24 meses, não sendo absoluto, pois o jovem político vai manter-se, por força da lei, como deputado da bancada parlamentar da UNITA, sendo nestas vestes que ele deverá emitir proximamente sinais mais concretos de como se pretende relacionar com a direcção do Partido.

A possibilidade do ostracismo a que foi agora sujeito vir a conhecer um outro rosto mais draconiano ficou mais evidente com a resposta que foi dada esta semana ao desafio lançado pelo próprio Nfuca no sentido da direcção da UNITA apresentar em público as provas do seus “crimes”.

Em qualquer das circunstâncias e na sequência de todo este imbróglio, estou convencido que o futuro de Nfuca Muzemba como quadro e dirigente da UNITA está irremediavelmente comprometido.

Fora da UNITA também não me parece que Nfuca venha encontrar espaço político para prosseguir com algum destaque a sua trajectória, tão prematuramente interrompida com este “incidente”.

O que me preocupa na política angolana é termos uma situação de grande desequilíbrio de meios e forças que se tende a agravar. É nesta perspectiva que este episódio também deve ser enquadrado.

Na política dos adversários a contabilidade do deve e do haver, transforma-se na do perde e do ganha. Na política tudo o que afecta uma parte beneficia naturalmente a outra.

Na política angolana mais do que em qualquer outra “arte cénica”, é de facto nos bastidores onde acontece o teatro e onde já não há lugar para a ingenuidade.

É pois com preocupação que encaro esta retirada demasiado prematura do Nfuca da política partidária/nacional onde ele era um grande activo com todo o futuro à sua frente.

Neste momento a pergunta que tenho e aqui gostaria de partilhar é a seguinte: A quem é que esta retirada aproveita antes de mais/quem é que estaria mais interessado em promover este desaparecimento?