Luanda - A revista Exame, na sua edição 26, revela que nos últimos cinco anos, investiu-se 700 milhões de dólares em quatro novas fábricas de cerveja e, em breve, haverá mais quatro em Luanda. Bebe-se 9 milhões de hectolitros de cerveja por ano, sendo 7500 fabricados no nosso país e 1500 provenientes do exterior.

Fonte: Semanário OPAÍS/Exame

ImageA actual geração consome mais cerveja em relação aos outros tipos de bebidas alcoólicas e têm como preferência a proveniente da Companhia União de Cervejas de Angola (CUCA) – também detentora das marcas nacionais Nocal, Eka, 33 Ex port e Tchizo, e internacionais Castel e Doppel Munich (preta) .

Em muitos casos, esta geração fica ligada ao álcool a partir do momento em que é embrião, pois algumas mães não compactuam com a ideia de que de vem evitar o consumo deste tipo de bebida enquanto estiverem em estado de gestação. Poucos são os “bebés indefesos” que conseguem sair ilesos das consequências desta ignorância dos seus progenitores. Sentadas ao lado de uma das 14 roulottes que estavam num largo nas imediações da conhecida “Escola 39”, Cazenga, bairro do IFA (Indústria Fosforeira de Angola), Magui, de 33 anos, grávida de 5 meses, consumia Cuca Mini com as suas amigas (que não se identificaram). O repórter, disfarça do de cliente, conseguiu conquistar a simpatia das quatro senhoras, que já estavam na 7ª rodada, tendo passado aproximadamente 2 horas desde que haviam começado aquilo que elas chamam de “um simples convívio entre amigas e colegas de trabalho” .


Bebés que pedem cerveja


Enquanto conversávamos, Magui confessou que não tem feito muito o uso de bebidas alcoólicas, mas este filho que espera lhe tem provocado um desejo exagerado, principalmente te, de beber cerveja. Então, “para não passar mal, ter que sentir enjoos ou vomitar, bebo umas “cucazitas”, disse ela, que de seguida justificou não ser a única naquele meio que passa (ou) por isto durante a gravidez. “As vezes, não consigo controlar o desejo”, desabafou, e diz que chega a consumir grade e meia de cerveja, só num dia. Ela bebe desde os seus 19 anos e, embora tenha sido aconselhada a deixar, não vê motivos para tal, pois acha primordial “curtir a vida, uma vez que é curta e cheia de problemas”, disse .

Aquela mãe alega que já algum dia lhe disseram que o consumo de álcool em estado de gestação faz mal ao bebé, mas não liga muito estas teorias porque, praticamente, para si, não funciona, dado o facto de que é a sua 3ª gravidez e os seus filhos nasceram bem saudáveis.

As suas amigas, que desconfiavam de tudo, principalmente da tentativa do repórter em trazê-las à conversa, são companheiras da Magui desde a sua adolescência. Todas vivem com os seus maridos (que também fazem o uso de bebidas alcoólicas) e a nossa entrevistada disse não ter problemas com o seu cônjuge, desde que um beba e não esqueça do seu papel em casa.

Casos do género, em que o filho consume álcool enquanto feto, têm sido registrados com assiduidade no centro de reabilitação REMAR Angola, segundo Eduardo Prata, um dos responsáveis daquela casa .

“Temos recebido também mulheres dependentes do álcool em estado de gestação, inclusive”, lembra ele, “houve uma senhora que deu a luz no centro e enquanto estava a ser assistida no hospital, abandonou o bebé”. Hoje, a REMAR tem cuidado do “coitado”, de 5 anos, e a mãe nunca mais foi vista.

Várias são as mulheres que se encontram na situação de Magui e algumas transportam o hábito de dar álcool ao filho, de indirectamente para directamente. Isto é, 3-4 anos após o seu nascimento, enquanto a mãe estiver a beber, na presença do filho, faz com que ele prove um pouquinho. Estas crianças, inocentes, começam a dar os primeiros passos para se tornarem activos no consumo, por intermédio das mães.


Bebe e fuma desde os 15 anos


Apesar de a venda de bebidas al coólicas ser proibida a menor de 18 anos, isto não se faz sentir em muitos postos de comercialização destes produtos, já que cada vez mais temos flagrado crianças e adolescentes mais próximos e com fácil acesso.

O jovem Leandro, também conhecido por Leo-Pi, foi influenciado pelos amigos a consumir cerveja quando tinha 15 anos. Conta que tinha um amigo, no Cazenga, que pagava cerveja a todos os elementos do grupo e, para não ser excluído ou chamado de fraco, viu a necessidade de começar a consumir também.

Leandro, que além de beber também fuma (há três anos), disse que num dia consegue acabar uma grade de cerveja Cuca e em 5 horas pode fumar até 12 cigarros. Não tem problemas em comprar estes produtos, pois, desde que foi expulso de casa, trabalhou como ajudante de barqueiro no embarcadouro do Mussulo .


Eu sustento os meus vícios


Ganho diariamente 1000 à 3000kz, dependendo do dia. Os meus pais sempre conversaram comigo, os meus irmãos também, para deixar de fumar e beber, mas não consigo.

Tenho-lhes dito que estou a fazer um esforço para deixar esta vida, mas não consigo, e não sei porquê”, disse ele.

Aquele jovem aponta ainda que os seus pais têm feito de tudo para tira - lo das drogas, impedindo-o de sair, por exemplo, mas ele arranja sempre forma de estar com os amigos. Hoje pertence a um grupo de adolescentes do Morro Bento e, de vez em quando, arranja tempo para estar com os amigos do Cazenga.

Enquanto conversava com o repórter, Leandro estava em estado de embriaguez e acabava de fumar um SL (sua marca favorita de cigarro), para ganhar coragem. Recorda que concluiu apenas a 6ª classe, quando os pais ainda pagavam os seus estudos, mas tenciona regressar à escola no próximo ano e seguir com o sonho de ser enfermeiro ou jogador de basquetebol.

LeoPi, como prefere ser chama do, não é o único dos seus amigos (tanto do Cazenga quanto do Morro Bento), com a mesma idade ou menor, que fuma e bebe. Ele, tal como disse, é o único que não tem vergonha de assumir a sua situação, por isso, está confiante que em 2014 estará “fora do fumo e da birra”, afirma .