Cidade da Praia - A embaixadora de Angola em Cabo Verde acusou o primeiro-ministro cabo-verdiano de estar a bloquear as relações de cooperação entre os dois países, críticas que levaram o chefe da diplomacia cabo-verdiana a chamá-la ao ministério.

 
Fonte: Lusa

A  notícia veio hoje a público no jornal cabo-verdiano A Semana, que cita Josefa Cruz a afirmar que José Maria Neves é uma "sombra" e "não deixa avançar" a cooperação entre Angola e Cabo Verde, relacionando o caso com a visita, anunciada para este ano, do Presidente cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca.

"A cooperação não vai acontecer como se anunciara em fevereiro deste ano à comunicação social. E a razão para o atraso é muito forte. «Não havendo uma visita do primeiro-ministro, não há como assinar e atualizar os projetos»", escreve o semanário, citando paralelamente, a diplomata angolana.

Hoje, num comunicado enviado à imprensa, o Ministério das Relações Exteriores (MIREX) cabo-verdiano, tutelado por Jorge Borges, indicou que Josefa Cruz foi chamada de manhã ao departamento governamental, mas não adiantou mais pormenores.

"Na sequência do artigo publicado no jornal A Semana desta sexta, o Ministério das Relações Exteriores convocou hoje Josefa Guilherme Coelho da Cruz, Embaixadora da Republica de Angola em Cabo Verde", confirma o MIREX.

"Em nome do Governo, o MIREX vem reiterar a excelência das relações existentes entre Cabo Verde e Angola, que se têm caracterizado pela concertação permanente e regular entre os respetivos chefes das diplomacias, pelo intercâmbio de visitas, por encontros ao mais alto nível de dirigentes, bem como na concretização de projetos relevantes para os dois países", acrescenta-se no documento.

"Nesse contexto, as duas partes vêm trabalhando uma agenda abrangente de cooperação política, económica e empresarial, para cuja concretização contribuirão as visitas previstas de Suas Excelências o Presidente da República e o primeiro-ministro de Cabo Verde", conclui o documento.

Fontes do MIREX indicaram à Lusa que Jorge Borges poderá, ainda hoje, dar uma conferência de imprensa sobre as declarações de Josefa Cruz, que tem estado incontactável.

Na ilha cabo-verdiana de São Vicente, onde se encontra para participar nas celebrações do 20.º aniversário da criação da Guarda Costeira de Cabo Verde, José Maria Neves escusou-se a comentar as declarações da diplomata angolana.

No artigo hoje publicado, que faz manchete e intitulado "José Maria Neves não deixa cooperação mista avançar", o jornal A Semana refere que o título reflete a leitura da diplomata angolana, que estabelece, assim, "uma relação de causa/efeito entre o arranque da vasta agenda de cooperação" bilateral e a "visita que o primeiro-ministro cabo-verdiano acordou fazer a Angola" até ao final do ano.

"O que ficou acordado com Angola é que primeiro iria o Presidente da República e só depois o primeiro-ministro. E como a viagem do chefe de Estado Jorge Carlos Fonseca ainda não se efetivou, o primeiro-ministro não pode romper o protocolo", escreve o A Semana, citando fontes diplomáticas.

Em maio deste ano, na cimeira da União Africana (UA) de Adis Abeba, Jorge Carlos Fonseca e o vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, defenderam a necessidade de redinamizar a cooperação bilateral, mas nada ficou decidido quanto à visita do chefe de Estado cabo-verdiano a Luanda.

A cooperação mista bilateral está parada desde 2008, quando os dois países aprovaram três ratificações de acordos nas áreas da indústria, ensino superior, segurança e ordem pública, assim se mantendo depois de José Maria Neves ter visitado Angola em agosto de 2010.

Em abril deste ano, durante uma visita a Cabo Verde, a secretária de Estado da Cooperação angolana, Ângela Bragança, indicou que os dois países criaram um "Roteiro para a Cooperação" bilateral para áreas como Turismo, Serviços, Energia e Indústria.