Luanda - O Deputado a Assembleia Nacional pela bancada parlamentar da UNITA Alcides Sakala, afirmou recentemente na província do Namibe, que o seu partido está preocupado com a situação social dos Angolanos, que considerou decorrente da exclusão social, por culpa das políticas do Executivo Angolano. Relativamente ao quadro da província do Namibe, o político disse que na visita que os Deputados realizaram nesta parcela do território nacional, aquando da primeira fase das II jornadas parlamentares do grupo parlamentar da UNITA, constataram que existem Angolanos a viverem em condições difíceis e criticou as políticas do executivo, que não apontam para a resolução destes problemas.

Fonte: UNITA

“Tivemos a oportunidade de visitar uma localidade, onde vivem Angolanos em condições extremamente difíceis. Não se entende, do nosso ponto de vista, que o governo central tenha tido capacidade de construir um espaço multi usos, onde tiveram lugar jogos de hóquei, uma vez que milhares de Angolanos aqui nas redondezas da cidade do Namibe vivem em condições desumanas, em condições difíceis. Penso que estas questões têm de merecer uma abordagem muito profunda, porque de facto ferem a própria sensibilidade humana. Não se permite hoje que em pleno deserto vivam pessoas, aqui próximo da cidade do Namibe nas condições em que encontramos” salientou Alcides Sakala, ao mesmo tempo que falou sobre a visita que realizaram a escola do ensino primário do bairro 4 de Março, com 600 crianças matriculadas. O também porta-voz da UNITA, disse que é lamentável as crianças estudarem numa escola improvisada de chapas e suspeita que a situação possa causar problemas de saúde aos petizes, tendo em conta o calor que se faz sentir nesta altura na província do Namibe.

O Deputado que integrou a caravana parlamentar do maior partido na oposição, aquando da realização da primeira fase das II jornadas parlamentares na cidade do Namibe, revelou que com esta iniciativa, o seu grupo parlamentar quer chamar a atenção da opinião pública nacional e internacional, para o que refere como problemas sociais, que a população do Namibe vive, mormente a problemática da seca que afecta essa região.

“O governo Angolano tem feito muito pouco, tem faltado é perspectiva e previsão, para a solução destes problemas”, disse.

Alcides Sakala, disse ainda que o seu partido tem sentido simpatia da população, em função, segundo ele, do papel que a UNITA realiza na constatação dos problemas e os levar a discussão em fóruns próprios, para que se resolvam a favor dos Angolanos.

Sakala diz que o seu partido entende as autarquias como necessárias, na identificação dos problemas das comunidades, visando a sua resposta. Porém diz que o governo angolano tem um discurso desencontrado quanto a esta temática, o que segundo ele, confirma a não aceitação do MPLA em relação a instituição das autarquias locais.

“Não há vontade, há um discurso desencontrado entre realizar e não realizar, enquanto que devia ser uma prioridade nacional. Porque está aprovado a nível dos países da SADC, só Angola ainda é que não tem eleições autárquicas. Outros países com visão de futuro, uma visão mais profunda de democraticidade deram passos muito importantes em direcção a descentralização do poder dos respectivos países, com a institucionalização das autarquias. Mas o partido que sustenta o governo, parece ter dificuldades em conviver com esta ideia de autarquias, que vai ter que acontecer um dia. É tudo uma questão de tempo”, salienta.

Alcides Sakala, garantiu que o seu partido vai levar uma série de propostas a discussão da Assembleia nacional no próximo ano parlamentar, que será aberto no dia 15 deste mês, para adopção de leis que vão suportar a lei eleitoral, com vista a efectivação das autarquias locais, uma vez consagradas na Constituição da República de Angola.

O Deputado pela bancada parlamentar da UNITA, afirma que o governo tem uma posição errada quanto a implementação das autarquias, ao defender que estas se realizem de forma faseada pelo país. “Há uma interpretação errada. O governo tem sua visão, que é uma visão política das próprias autarquias, que reflecte alguma resistência a este processo de instituição do poder local, mas este gradualismo que se diz, não é geográfico é para a atribuição de responsabilidade para os autarcas, que vão ser eleitos no quadro deste processo eleitoral. A ideia do Executivo Angolano, é que se considere o gradualismo numa perspectiva geográfica. Nós pensamos que não. Há um princípio de igualdade que nós pensamos que deve ser respeitado, porque estas eleições têm que decorrer simultaneamente em todo o país”, diz

O especialista em relações internacionais, entende que a resistência do Executivo Angolano à realização das autarquias, belisca a imagem do país no plano internacional, a medida em que, isto reflecte a falta de vontade política do governo Angolano ao fortalecimento da democracia e o processo de reconciliação. Alcides Sakala, disse ainda que Angola vive “um sistema ditatorial que institucionalizou a corrupção, um sistema excessivamente centralizado, partidarizado, que viola sistematicamente os direitos políticos, civis, sociais e económicos das suas próprias populações”; ressalta, citando a recente repressão imposta pela polícia nacional aos jovens manifestantes, uma manifestação que considerou pacifica e realizada no quadro legal. Para ele, o governo Angolano está numa situação difícil e que só as mudanças profundas poderão conferir a Angola uma boa imagem no plano internacional.

O político disse que a UNITA é tida hoje pelos Angolanos e pela comunidade internacional como factor decisivo, para as grandes mudanças que se avizinham e como garante da democracia em Angola.

O Deputado não deixou de referir a situação dos ex militares, que como diz, estão relegados ao abandono e diz que o seu partido passando a governar este país, vai devolver dignidade a estes homens. O nepotismo e o enriquecimento ilícito, são outros pontos referenciados por Alcides Sakala. “Infelizmente o que nós vemos hoje, é que os recursos são usados por uma minoria nepotista, uma minoria clientelista, que se enriquece a custa destes recursos que são de todos, em detrimento de uma maioria de Angolanos que vivem de baixo dos níveis internacionalmente aceites de pobreza. Portanto, aqui estamos perante um crime, se assim quisermos, a luz das resoluções das Nações Unidas, da própria União Africana, da própria SADC.

Penso que a UNITA vai muito rapidamente ultrapassar estes problemas, dar solução a estes grandes problemas que afectam a vida dos Angolanos e uma das soluções, é descentralização. Portanto, a institucionalização do poder local penso que poderá facilitar muito rapidamente encontrar soluções locais, para os problemas locais das populações”, percebe.

Interrogado sobre a pretensão de Angola para membro não perante do Conselho de Segurança da ONU, o especialista em relações internacionais, apesar de ter dito que não vê muitas dificuldades neste sentido, admitiu que a fragilidade de imagem de Angola, com relatos de violações de direitos humanos, possa ter um reflexo negativo. Alcides Sakala, disse que o país precisa de fazer um trabalho de casa, para que mereça confiança da comunidade internacional. Afirmou ainda, que o seu partido assim que atingir o poder, “vai fazer melhor do que o MPLA”

O também porta-voz da UNITA, foi interrogado pela nossa reportagem sobre relatos de suposto tribalismo no seio do seu partido, tendo reagido que estes discursos são tendenciosos e visam somente denegrir a imagem da UNITA, um partido histórico.

“Um partido que foi fundado pelo Dr. Savimbi, que juntou a volta de si Angolanos que vinham de outras partes do país, um deles é o embaixador Tony da Costa Fernandes, que é de Cabinda e a voltas destes, juntaram-se depois outras figuras. A UNITA é um partido que tem uma direcção colectiva representativa. Portanto, este tem sido o princípio que ela tem procurado afirmar ao longo da sua história e tem representatividade e representação em todo o país: ao nível da aldeia, ao nível das comunas, ao nível dos municípios, ao nível das províncias e ao nível nacional. Este discurso, é daqueles que sempre combateram a UNITA. Não nos tira o sono de forma nenhuma. Nós vamos continuar a nossa caminhada tranquilamente, até que os objectivos definidos em 1966 em Mungai na província do Moxico, entre estes a democratização do nosso país, sejam concretizados. Este discurso é daqueles que estão virados para o passado e a UNITA continua com perspectivas, para construir uma sociedade reconciliada em Angola”, sublinha.