Lisboa - O ditador José Eduardo dos Santos e os seus cúmplices têm um encontro inevitável marcado com o povo e com a justiça. É ele mesmo quem está a engendrar esse destino..

Fonte: Luiz Araújo

Quando Angola chegar a esse momento espero que a justiça lhe seja feita - somente - conforme a lei o determina. É o que postulo.

Espero que no momento em que a destituição desse ditador for eminente não acumule mais crimes resistindo violentamente á vontade e acção legítima das cidadãs e cidadãos com essa finalidade.

O ditador JES está a semear a turbulência que vai por fim ao seu poder com a condução predadora do país a que se vem dedicando. Em consequência chegaremos a um momento em que o povo, a oposição, parte das Forças Armadas de Angola e, inclusive, dirigentes e militantes do seu partido, MPLA, dirão basta aos abusos desse ditador. Já faltou mais.

Há cerca de uma década quando o qualifiquei como ditador endocolonialista, num debate de Sábado na Radio Eclesia em Luanda, colhi a discordancia até de opositores e de activistas da sociedade civil. Entretanto o tempo passou e, nos dias que correm, a maioria da oposição e dos activistas da sociedade civil, finalmente, são unanimes em considera-lo um ditador. No entanto a maioria da oposição e da sociedade civil angolana ainda não percebeu o conceito de endocolonialismo. Acredito que perante os factos demonstrativos do "desenvolvimento" separado - á laia do colonialismo - implementado pelo ditador, acabarão por perceber e acolher o conceito de endocolonialismo(1) e de o aplicar como qualificativo da situação que o ditador está a impor á nação angolana.


A forma violenta como a ditadura endocolonialista de José´Eduardo dos Santos tem sido imposta e ou defendida alimenta a previsão dum fim de regime violento.

Esse fim só não terá esse formato se, para se prolongarem no poder, dirigentes do MPLA e comandantes das Forças Aramadas, antecipando-se, depuserem JES e a sua gang e os entregarem á justiça pelos seus crimes, especialmente aqueles crimes qualificados como crimes contra a humanidade.

Os crimes contra a humanidade nunca prescrevem.

Uma acção judicial contra crimes contra a humanidade cometidos pela gang do ditador JES só será credível e legitima se outros actores políticos e militares doutras formações partidárias que também os cometeram forem igualmente e finalmente entregues á justiça.

Tanto as vítimas de uns como as de outros criminosos clamam pela mesma justiça. Essas vítimas, as que morreram e as que continuam vivas, eram e ou são seres humanos absolutamente iguais em direitos. Quem nessa ocasião administrar a justiça, para merecer credibilidade e legitimidade, terá que, com rigor absoluto, aplicar a lei de forma igual a quem quer que seja que tenha cometido crimes contra a humanidade. A lei obriga a que se penalize de forma igual aqueles que cometeram crimes do mesmo tipo.

Não pode ser aplicada a justiça a uns e concedida impunidade a outros, mesmo tratando-se de gente que, por algum feito, seja tida como libertadora da sociedade angolana.

Depois disso Angola só entrará numa fase de desenvolvimento humano, de todas e todos, se de facto for instaurado um estado de direito em que mais ninguém esteja acima da lei.

As gerações actuais e as próximas têm um trabalho longo e gigantesco pela frente para colocarem Angola nos trilhos dum desenvolvimento que promova bem estar para todas e todos. Paz, justiça, educação e democracia são alguns dos elementos essenciais ao alcance dessa meta.


Luiz Araújo

(1) O endocolonialismo é a reprodução num país independente de relações sociais, económicas e políticas, próprias dum regime colonial. Consubstancia uma situação em que o exercício do poder, de facto, nega a plena cidadania á maioria da nação excluindo-a do seu "desenvolvimento nacional". Maioria, ou quem aja por ela, que os endocolonialistas reprimem violentamente sempre que seja necessário salvaguardar o seu poder e privilégios. É portanto uma situação de "desenvolvimento separado" de tipo colonialista sustentada pela violência dum estado sob a hegemonia dum grupo da elite nacional. É uma situação de facto de dominação separatista que (diferentemente do colonialismo português) é imposta pelo grupo (nacional) da elite endógena(2) que detém o poder político, militar e financeiro.

(2) "endógeno", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.

endógeno | adj.
en·dó·ge·no (endo- + -geno) adjectivo
1. Que tem origem no interior.
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