Nova Iorque - Depois do fim da guerra civil em Angola no ano de 2002, o presidente de Angola José Eduardo dos Santos gozava de uma popularidade interna e internacional talvez incomparável a nenhum chefe de estado na região ou no continente, por dois factores principais. Primeiro pelo seu poderio económico e segundo, a sua capacidade diplomática.

Fonte: Club-k.net

No plano interno, o poder do petróleo precipitou a morte de Jonas Savimbi e a consequente derrota militar da UNITA. Este evento criou, ao nível dos populares, a percepção publica do presidente José Eduardo dos Santos  como um chefe Estado preocupado com a manutenção da paz em Angola  e reconstrução nacional.

 

Nas relações Internacionais, José Eduardo dos Santos ganhou o respeito de alguns líderes mundiais pela sua capacidade estratégica durante a guerra civil, nomeadamente : ter contido a invasão sul-africana em 1989 com a ajuda de forcas cubanas, ter ajudado na libertação da Namíbia e finalmente o mais importante, ter derrotado militarmente as forcas militares da UNITA que detinham o apoio do Zaire de Mobutu, o Apartheid da África do Sul e de sucessivas administrações na Casa Branca.

 

Hoje, a percepção e outra. Porque?

 

Depois da guerra civil, o discurso político  popular dominante em Angola era de que Jonas Savimbi era um homem com sede de poder e que não media meios para alcançar o "poder presidencial"." Savimbi era um ditador que queria o poder a todo custo e que nunca lutou pela divisão de poder, multipartidarismo e democracia em Angola", declaravam.

 

Quando em 2008 o MPLA "obteve" quase 82% dos votos e a economia do pais crescia na ordem dos 12%, o presidente José Eduardo dos Santos teve uma oportunidade impar e única de liberalizar o sistema político do pais e normalizar o estado democrático em Angola. Não o fez. Antes, decidiu mudar a Constituição para se escapar do voto popular directo e escondeu-se nas vestes do seu partido, confirmando o vaticínio de vários analistas que o caracterizavam de ditador.

 

E foi mais longe. Usurpou  toda a capacidade fiscalizadora do Parlamento e tornou-se no todo-poderoso. Atribuiu bens públicos a seus filhos, fez da sua filha a primeira mulher bilionária em África, esta a preparar  política e financeiramente  o seu filho  através do Fundo Soberano para sucede-lo e decidiu imitar Robert Mugabe e foi ameaçar democracias ocidentais no Parlamento Angolano e através de editoriais do Jornal de Angola.

 

Sobre ele, ainda pesam outras ofensas politicas como a morte de Isaías Kassule e Alves Kamulingue, perseguições a jornalistas e activistas, e ligações próximas com traficantes de mulheres.

 

Em suma, o regime de José de Eduardo dos Santos chegou ao seu ponto de saturação e insustentabilidade, incapaz de se reabilitar e reforma-se, o que e próprio de todas as ditaduras. O regime tornou-se paranoico e vai ofender-se com tudo e todos e, infelizmente, para manutenção do seu poder, vai chover muito sangue.

 

E certamente, os últimos dias do regime.