Lisboa – Tal como noutras instituições públicas angolanas, o vírus da corrupção agora reside nos Departamentos de Recursos Humanos da Polícia Nacional. Recentemente o comandante geral da corporação, Ambrósio de Lemos Freire dos Santos, viu-se obrigado a exonerar toda equipa dos Recursos Humanos da Brigada Especial de Trânsito (BET), por práticas indecorosas, ou melhor, por “corrupção”.

 Patente de 3º sub-chefe custa(va) 1000 Usd; de sub-inspector 2000 Usd
Fonte: Club-k.net
Foram exonerados – de acordo com o despacho n.º 657/Gab-CGPN – o chefe de Departamento de Recursos Humanos/ BET/PN (o superintendente Nicolas Joaquim Ferreira); o chefe de Secção de Estatística do Departamento de Recursos Humanos (intendente Manuel Fortunato); e a chefe de Secção Administrativa do Departamento de Recursos Humanos (t/civil Joaquina Agostinho João Manuel). Neste momento, este departamento está ser interinamente dirigido por um inspector-chefe, Domingos Neto, também é conhecido por “Mingo”.  

Este portal soube através de uma fonte fidedigna que a destituição dos mesmos foi proposta pelo comandante da BET, Timóteo Francisco Abreu Hilário, após ter desvendado o “modus operandi” que eram aplicadas pelo trio dos Recursos Humanos daquela corporação. Sobretudo durante a fase de patenteamento (dos agentes) e não só.

Há quem acredita que o mesmo (Timóteo Hilário) só apercebeu-se das “trafulhices” do trio após um primeiro sub-chefe da sua confiança (que agora ostenta patente de sub-inspector, e dirige actualmente o pelotão do Grupo de Acção Imediata - GAI) viu guardado, no departamento dos Recursos Humanos, durante vários meses, uma “Ordem de Serviço do CGPN” que ordenava o seu patenteamento.

“Inicialmente, ele procurou saber junto do departamento dos RH se havia uma ordem de patenteamento do CGPN, responderam-lhe que não. Passado algum tempo, ele dirigiu-se ao Comando Geral a fim de saber sobre a demora. Lá lhe deram a cópia do protocolo assinado pelo RH da BET e ele foi queixar-se junto do comandante, que ficou muito chateado com a brincadeira”, contou a fonte.

Mas antes deste episódio, em Maio deste ano, o trio tentou ludibriar o comandante da BET, colocando o nome de um motoqueiro, de nome Cláudio (para ostentar o cargo de chefe do pelotão moto) numa lista fictícia.

“Eles enviaram primeiro um processo onde constava uma lista das pessoas que iriam ser promovidas, para um cargo, para o comandante assinar. Ele assinou e reenviou a este departamento. Já na hora de remeter o tal processo ao Comando Geral, eles trocaram a lista e incluíram o nome deste motoqueiro. O comandante deu conta e suspendeu todos eles”, revelou.  

O trio através de um esquema maquiavélico – segundo a nossa fonte – cobrava de 1000 a 1500 dólares norte-americanos a cada agente da BET, particularmente àqueles que ostentam a patente de primeiro agente, ou sub-chefe, para ser patenteado. E os que recusaram pactuar com o esquema mantiveram durante anos com a mesma patente.

Poucos meses antes do fim do ano 2010, o trio – que era liderado, desde 2010, pelo superintendente Nicolas Ferreira, que em gesto de zombaria Timóteo Hilário apelidou-o de Nicolas Cage, nome dum autor norte-americano – persuadiu cerca de 15 agentes de primeira a pagarem cada 1000 dólares (houve quem pagou mais) a fim de serem promovidos a patente de terceiro sub-chefe (antes 3º sargento).

Deste número apenas cinco foram, meses depois, patenteados a este grau, enquanto o restante (durante vários meses) aguardava ansiosamente por sua vez. Com a exoneração brusca do trio, de acordo com a nossa fonte, esse grupo de agentes (que viram seus sonhos adiados) exigem, sem fazer alarido, o reembolso dos seus valores.

Antes de serem desmantelados, o trio do Recursos Humanos da BET funcionava da seguinte maneira:

- Toda vez que o Comando Geral da Polícia Nacional anunciasse o patenteamento, o superintendente Nicolas Ferreira, abaixava ordem a seu subordinado, o intendente Manuel Fortunato. Este por sua vez orientava a Joaquina Manuel, mais conhecida por “Dona Joaquina” a passar restritamente a mensagem aos agentes da sua confiança;

- Estes agentes (que são três) espalhavam a notícia, em gesto de rumor, aos demais em particular os agentes e sargentos de primeira, dando-lhes coordenadas, em algumas vezes senhas, de como abordar o assunto com a Dona Joaquina;

- Esta (Dona Joaquina) marcava o encontro fora do horário do expediente (na hora do almoço ou fim-de-semana), fora da unidade e reunia com o interessado, esclarecendo-o quais eram os trâmites a seguir, e esses encontros eram realizados separadamente;

- Durante o encontro ela dava os preços. Patente para terceiro sub-chefe custava 1000 dólares; e patente para sub-inspector (uma pipoca como chamam na gíria da polícia) variava de 1500 a 2000 dólares;

- O valor recolhido era primeiramente entregue a Manuel Fortunato, e este apresentava ao seu superior, Nicalas Cage, perdão, Ferreira, que por sua vez repartia em quatro partes. O trio beneficiava de uma parte e enviava outra (cerca de 25%) a um contacto do Comando Geral da Polícia Nacional, para facilitar o processo.
 
Dentro de breve, este portal noticioso vai trazer à tona uma peça investigativa que explica detalhadamente como funciona o “esquema de patenteamento, e não só”, dentro da Direcção Nacional de Recursos humanos (DNRH) do Comando Geral da Polícia Nacional.