Luanda – A polícia angolana aconselhou esta quinta-feira, 21, a UNITA, maior partido da oposição, a desistir da manifestação que convocou para o próximo sábado, 23, em Luanda, para protestar "contra a repressão", anunciou em conferência de imprensa o porta-voz da corporação.

Fonte: Lusa
O comissário Aristófanes dos Santos, que falava à imprensa no final de uma longa reunião de duas horas entre a direcção da UNITA, o ministro do Interior, Ângelo Veiga, e o Comandante Geral da Polícia Nacional, Ambrósio de Lemos, justificou o conselho com a pretensão do MPLA, partido no poder, de se manifestar também sábado na capital angolana.

Do lado da UNITA, o seu porta-voz, Alcides Sakala, disse que a direcção do partido "vai reflectir" sobre o conselho da Polícia Nacional e que dará a sua resposta "nas próximas horas".

A convocação da manifestação, anunciada no passado dia 15 pela UNITA, vem na sequência do comunicado divulgado dois dias antes pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de Angola sobre quatro detenções relacionadas com o rapto e provável homicídio de dois ex-militares.

Os dois desaparecidos, presumivelmente mortos, como assumiu a PGR no comunicado, são os ex-militares Isaías Cassule e Alves Kamulingue, raptados na via pública, em Luanda, a 27 e 29 de Maio de 2012, quando tentavam organizar uma manifestação de veteranos e desmobilizados contra o Governo de José Eduardo dos Santos.

Também dois dias depois do comunicado da PGR, o chefe do serviço de Inteligência e de Segurança do Estado (SINSE) de Angola, Sebastião Martins, foi demitido do cargo por José Eduardo dos Santos.

Sebastião Martins acumulava aquele cargo com o de ministro do Interior quando os dois ex-militares foram raptados.

Os motivos da exoneração não foram revelados, mas presume-se que estejam relacionados com o alegado envolvimento de agentes do SINSE na presumível morte de Isaías Cassule e Alves Kamulingue.

Nas declarações à imprensa, Alcides Sakala reafirmou que a UNITA mantém a intenção de sair à rua, mas ressalvou que perante "algumas ideias" que surgiram ao longo de reunião de duas horas, a direcção do partido vai aprovar a posição definitiva.

Para o porta-voz da Polícia Nacional angolana, a reunião de duas horas foi "frutífera" e face à pretensão de UNITA e MPLA quererem sair à rua na mesma data e em locais bastante próximos, bem como os "ânimos inflamados" nos últimos 10, 11 dias, levaram a polícia a propor o adiamento dos dois eventos. "Dissemos claramente que os dados na nossa posse indicam a necessidade de não haver esta manifestação no dia 23", disse.

Aristófanes dos Santos acrescentou que a preocupação da polícia angolana é "a garantia da segurança e da ordem pública, da estabilidade das pessoas, e os dados na nossa posse, em função de todo o ambiente político que se está a viver levam-nos a recomendar ao MPLA e à UNITA a necessidade de uma maior e melhor preparação" das manifestações.

"O momento é desaconselhável do ponto de vista de segurança pública, para que na data prevista se realizem as manifestações", reforçou.

Questionado sobre o que fará a polícia caso a UNITA insista em sair à rua no próximo sábado, o comissário Aristófanes do Santos contornou a pergunta: "A direcção da UNITA é uma direcção inteligente. Tal como a do MPLA e acredito que depois desta conversa vão fazer uma boa reflexão e acredito também que a direcção do MPLA e da UBITA são pela paz", disse.