Luanda - A Human Rights Watch, organização de defesa dos direitos humanos, manifestou hoje o receio de que a manifestação convocada para sábado pela UNITA contra o Governo "venha a enfrentar uma repressão igualmente violenta", como outras anteriores.

Fonte: Agência Lusa


Em comunicado hoje enviado à agência Lusa, a HRW justifica que o seu receio tem a ver com exemplos dos últimos dois anos, período em que "agentes da polícia e das forças de segurança angolanas têm usado repetidamente de intimidação, assédio e força excessiva para reprimir protestos pacíficos".


Segundo a HRW, os meios de comunicação estatais têm vindo a apelidar as manifestações contra o Governo "uma tentativa de «declarar guerra»", o que considera "uma alegação infeliz num país cuja longa guerra civil só terminou há uma década".


"O Governo angolano deve reconhecer que há muitas pessoas indignas e frustradas, com razão, com estes assassínios e com o longo historial de crimes cometidos pelas forças de segurança que têm ficado impunes", defendeu a diretora-adjunta de África da HRW, Leslie Lefkow (na foto), citada no comunicado.


Para aquela responsável da HRW, "é necessário que estas preocupações sejam abordadas de forma aberta e dentro da lei, e não através de uma nova repressão de protestos à base de intimidação e violência".


No mesmo documento, aquela organização de defesa dos direitos humanos aborda o caso sobre Isaías Cassule e António Alves Kamulingue, dois organizadores de uma manifestação de ex-militares, em 2012, de protesto contra o Governo angolano, supostamente mortos por forças de segurança angolanas.


Nesse sentido, a HRW apelou às autoridades angolanas a moverem "uma ação judicial contra todos os oficiais de segurança responsáveis pelo assassínio de dois organizadores de uma manifestação que estavam desaparecidos desde maio de 2012".


Para Leslie Lefkow, "a terrível verdade sobre o que aconteceu a duas pessoas que organizaram uma manifestação em Angola contra o atraso no pagamento de salários e pensões está finalmente a vir ao de cima", acrescentando que "a investigação sobre o brutal assassínio de Kamulingue e Cassule só fará sentido se o Governo assumir com firmeza o compromisso de levar a julgamento todos os responsáveis, independentemente do seu estatuto ou cargo".


A União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA), maior partido da oposição em Angola, convocou a manifestação na sequência do comunicado da Procuradoria-Geral da República (PGR) de Angola sobre quatro detenções relacionadas com o rapto e provável homicídio de Kamulingue e Cassule.


Dois dias depois do comunicado da PGR, o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, exonerou do cargo o chefe do serviço de Inteligência e de Segurança do Estado (SINSE) de Angola, Sebastião Martins.


Face ao anúncio da manifestação, o MPLA, partido no poder, acusou a UNITA de pretender criar "o caos e a desordem", tendo a Polícia Nacional aconselhado na quinta-feira a UNITA a desistir da manifestação, com a justificação de que também o MPLA pretende manifestar-se no mesmo dia.