Luanda - O MPLA pode realizar manifestações para tudo, mas a oposição não pode; os miúdos que não sejam da OPA, não podem manifestar; os jovens que não sejam da JMPLA e adeptos do Kuduro bajulador, não podem; as mulheres que não sejam da OMA, não podem; os militares que não idolatrem o comandante em chefe não podem; os polícias que não jurem matar e morrer pelo chefe não podem; os cidadãos que queiram manifestar-se contra o elevado custo de vida não podem. Ninguém dos outros pode, mas eles podem tudo...


Fonte: Folha8

A ala radical do MPLA, apesar de ter conquistado por vias dúbias um poder totalitário no exercício da “coisa pública” não sabe lidar com a crítica, com a contestação, com os protestos e nem sequer se dá ao trabalho de ouvir a oposição. Quer controlar toda a vida política e inventa o que for preciso para isso.


O seu poder reside no controlo dos órgãos de comunicação social pública e na compra da maioria da imprensa privada, dos organismos de Defesa, Segurança e Policial e numa riqueza (dinheiro) adquirido quase exclusivamente recorrendo com regularidade a constantes atropelos a lei, nomeadamente a Carta Magna do Estado.


O MPLA radical, como já aqui muitas vezes referimos, recorre vezes sem conta a uma das mais antigas e odientas tradições dos seus chefes guerrilheiros, matar para reinar, tal como aconteceu neste último caso com os desaparecimentos de Kamulingue e Cassule, em que foi reiterada a prática do crime de circunstância, numa repetição dos que foram cometidos pelos sucessivos governos sob sua liderança, seja antes da tomada do poder, seja neste consulado de JES e do MPLA, que brotou do nada em 1992 e se multiplicou por detrás de sucessivas máscaras de uma democracia "sui generais", atípica e exclusivamente de fachada.


Esta indisfarçável violência política resulta da incompetência governativa do regime liderado por José Eduardo dos Santos, e, no caso pendente, não admira que o desaparecimento de Alves Kamulingue e Isaías Kassule, raptados dias 27 e 29 de Maio de 2012 quando organizavam uma manifestação de ex-militares em Luanda nunca tenha merecido uma resposta plausível. Até ao dia 8 do mês em curso, em que, a favor de um comunicado policial os angolanos ficaram a saber que eles tinham sido selvaticamente assassinados e lançados um ao matagal e outro ao rio Dande como refeição para os jacarés.


Perante tão odiento crime, uma semana mais tarde, dia 15 de Novembro, a UNITA deu a conhecer publicamente que organizaria uma manifestação pacífica de protesto, ao que se seguiu uma resposta muito musculada da parte do bureau político do MPLA, que, num comunicado tornado público, depois de expressar a sua enérgica condenação ao acto vil e grave que terá (vejam só este nojento tempo de verbo) atentado contra a vida desses cidadãos e manifestado a sua solidariedade às famílias e o seu total apoio às suas iniciativas assumidas com base na lei, tudo isto sem esquecer de lançar o seu agradecimento a JES, pelo facto de um imediato processo ter sido desencadeado judicialmente «por recomendação do Titular do Poder Executivo», o referido comunicado atira-se de peito avante contra a UNITA, acusando o Galo Negro de ter recorrido a uma linguagem insultuosa e lançado várias calúnias «contra as instituições de Estado angolano, em particular contra o mais Alto Mandatário da Nação, o Presidente da República, José Eduardo dos Santos». E assim dando mais uma de mão às camadas de verniz que se vão acumulando para esconder a sujidade da sua desgastadíssima imagem.


Eis-nos pois, uma vez mais, mergulhado na incoerência total e na completa desarticulação entre o partido dos camaradas e o próprio Executivo, uma vez que a virulência da resposta do MPLA, aludindo à revolta da UNITA, ao seu pretenso apelo à guerra, rememorando todos os horrores que esse partido teria cometido e esquecendo os que por si próprio foram cometidos, é tão exagerada que, se não soubéssemos que o que está em jogo é uma acção de simples protesto a reivindicar que sejam imediatamente encarcerados em regime de prisão preventiva os agentes do SINSE que são acusados de ter participado neste miserável assassinato duplo, sobre duas pessoas que não cometeram crime algum, poderíamos aferir que estamos em vésperas de uma nova guerra civil.


Enfim, tudo isto e o mais que foi dito e feito e a acumulação de ameaças ordenadas e orquestrada por esse país fora mais não são do que manobras de diversão para fazer esquecer que os manifestantes Alves Kamulingui e Isaías Kassule “foram assassinados pelo GOVERNO, PELO MINISTÉRIO”, como foi opinado com pertinência no Facebook, do qual retiramos ainda um extracto de post que nos parece resumir bem o que se está a passar, ao aferir que «os membros e simpatizantes do MPLA estão todos em estado de XINGUILAMENTO no seguimento da convocação de uma manifestação geral anunciada pelo partido UNITA (…) sinceramente eu não sabia que a UNITA tinha essa capacidade de excitar ao extremo o auto-proclamado "partido maioritário" que se sente bem pequenino quando a UNITA ruge, até dá-me graça ler os delírios que muitos deles escrevem. E no meio desse XINGUILAMENTO paranóico a JMPLA já diz que a data da comemoração da organização deles é o dia 23 de Novembro kkk!!! (…) Todo mundo sabe que eles comemoram no dia 14 de Abril, mas subitamente alteraram a data para o 23 de Novembro. E fazem isso para quê? Para arranjar DESCULPAS para realizar uma manifestação (na realidade contra-manifestação), só mesmo para provocar e tentar criar a confusão...


Este medo, temor manifesto, do MPLA, é a mais significativa das incoerências a que nos referimos supra, e segue-se a uma outra cabeçada na Constituição, essa da lavra do próprio Presidente Dos Santos, que exonerou rápido, para ensaboar a cara, um dirigente ou responsável que, segundo a Constituição e o Tribunal Constitucional, não tem responsabilidade nenhuma.

O responsável é ele próprio!


Em todo o caso esta situação do país exige, numa outra vertente, como referiu Marcolino Moco, que a UNITA, fora da sua qualidade de proponente desta manifestação, «coordene previamente, com todos os partidos, que aparentemente não se dediquem à política como puro negócio, as principais acções para transformar, se possível negociar pacificamente a mudança deste regime que já não consegue fingir que não é ditatorial (estude-se se é por desespero ou arrogância). E que esses outros partidos aceitassem essa liderança informal, do maior partido da oposição, porque, isolados, não vão desempenhar o papel que o momento exige».


Todavia, como prioridade impõe-se a todos a efectivação desta manifestação. Se o povo angolano se amedrontar agora...o regime vai ganhar força! Se o povo angolano for agora determinado...eles vão perceber que perderam força! A única forma de pressionar o regime... é o povo estar unido e sair mesmo à rua no 23.11! E se houver muita gente lembrar-nos-emos do velho sábio Mendes de Carvalho, quando disse que era cinza e «cinza já não teme que seja queimada, medo de errar para quê, quando a minha vida nos últimos anos tem sido lutar com a arma da palavra, contribuindo para a verdadeira reconciliação dos angolanos?!» Mendes da Carvalho, referido também por Marcolino Moco, que nos repete o lema que ouviu da boca da assessora para os assuntos científicos do Presidente da Comissão Europeia: «amigos, oiçam-me, não tenham medo de errar quando é preciso criar quando é preciso inovar, que o erro é a mãe do progresso”.


Vamos manifestar, vamos pra rua, vamos ser pacíficos mas vamos gritar a nossa indignação. E nada será como dantes! Eu estou aqui! E você?