Luanda - Foi morto recentemente, na madrugada de dia 23 de Novembro de 2013 um jovem, engenheiro, professor, que deixou a sua família e todo o país entristecidos. A notícia é de que foi morto porque estava ele e mais sete amigos, a colarem cartazes na zona do estádio dos coqueiros. O estádio dos coqueiros não é uma zona reservada a segurança da Presidência da República. Pode até ficar perto, mas Coqueiros não é Palácio. Ou não fosse esse estádio público. Aliás, se assim fosse e nós bem sabemos, já teriam removido todos os populares que naquelas cercanias moram e sido enviados para o Zango/Panguila. Sendo público o local, nada impede que alguém o frequente seja lá a que horas forem, para fazer seja lá o que for (colar cartazes incluído - isto porque também já se anda aqui a dizer que aquelas não eram horas para colar cartazes).

Fonte: Club-k.net

Agora, se nas paredes desse estádio é proibido a colagem de cartazes, sejam eles de que natureza forem, isso é outro assunto, que não constitui crime algum, no máximo poderia ser considerado uma simples transgressão administrativa, o que também não me parecer ser o caso, pois cada vez que algum músico actua nesse estádio, borram aquilo de cartazes, cada vez que o MPLA tem alguma actividade em Luanda, os coqueiros enchem-se de cartazes. Ora, se a UGP lá os encontrou a colar os cartazes e "embirrou" com eles (A UGP não é nenhum órgão de estado, muito menos controlador de actividade social ou fiscal administrativo do GPL), deveria, isso sim, tê-los deixado em paz, pois a colagem que eles lá estavam a fazer não constituía nenhuma ameaça a segurança ou vida do Presidente - que até nem está em Angola, e que se saiba, não se ameaça a segurança física de alguém que não está presente, deveria, dizia, ter CHAMADO a polícia, que avaliaria se o acto dos jovens era ou não crime ou eventual transgressão.

 


O QUE NUNCA DEVIAM TER FEITO, era levá-los, em carros militares da Presidência, não se sabe ou pelo menos não sabiam os jovens para onde e com que objectivos. Conhecendo a prática de intolerância e recurso ao tiro de armas sobre civis, conquistada pela UGP ao longo de muitos anos, é perfeitamente NORMAL que o jovem quisesse fugir dos seus captores, até porque poderia com legítima razão supor que ao entrar para qualquer instalação da UGP poderia não sair de lá com vida. Portanto, o recurso à fuga não é crime nenhum nem sequer pode ser considerado uma imprudência. Imprudência porquê? Acaso ele estaria obrigado a adivinhar que alguém lhe iria fuzilar pelas costas? Se continuavam com os outros 7 jovens sob custódia, não poderiam facilmente encontrar este prófugo, se acaso fosse necessário? Estando o jovem em fuga colocava a vida do militar da UGP que disparou ou dos seus colegas em perigo? Ou o militar da UGP disparou porque achou que o jovem, na sua fuga, iria correr sem parar até Barcelona para colocar em perigo a vida do Chefe de Estado e então era melhor eliminá-lo já? Mas o que se passou na verdade, de acordo com os depoimentos de todos os restantes 7 colegas, é que ele não iniciou nenhuma fuga, simplesmente desceu da viatura quando esta parou no portão da unidade da UGP.


Motivo suficiente para levar com 2 balázios. Mas desde quando é que descer de uma carrinha é motivo pra ser fuzilado? A Polícia Nacional (PN) vem descaradamente mentir ao público dizendo que o jovem estaria em fuga. Fuga para onde, se já estavam na unidade da UGP? Não teria sido mais fácil tentar fugir quando ainda estavam na cidade, na zona dos coqueiros? A mesma PN refere no seu comunicado que o grupo de jovens foi “prontamente neutralizado” pela UGP, que os deteve. Neutralizado de quê? Foram encontrados a montar bombas ou mísseis contra o palácio ou contra os aposentos do Presidente? Foram encontrados com armas, granadas, bazukas e demais armamento para serem neutralizados, ou simplesmente foram encontrados com baldes de cola e papéis que pretendiam colar num sítio público? Neutralizados de quê, alguém me responda.


A PN mente ao dizer que o elemento da UGP fez 1 disparo que atingiu o jovem, e que só mais tarde veio a falecer, Entretanto a autópsia e o cadáver do malogrado mostram que ele foi atingido com 2 tiros e que morreu logo aí no local. Mentem porquê? Meus senhores, pelo amor de Deus, tenham santa paciência. O que de facto aconteceu, foi mesmo um BÁRBARO ASSASSINATO de um jovem pela UGP. Todas as outras artimanhas que se andam por aí a arranjar são meras tentativas esfarrapadas para desculpar o crime. E o que é mais grave, é que ainda tentam pôr a culpa na VÍTIMA. Quem, neste país, deu autorização à UGP para matar um cidadão, só porque se meteu em fuga, mesmo não tendo cometido crime nenhum? E a prova disso é tão mais evidente, que os restantes 7 elementos que estavam com o malogrado a colar os ditos cartazes, foram entregues a polícia, que depois de algumas horas os soltou. A polícia só os SOLTOU, porque não havia crime no que eles fizeram.


Caso contrário, teriam de ser autuados. E agora querem ainda dizer que se a família tiver fundamentos, que apresente queixa às instâncias judiciais? Meus senhores, que país é este que nos querem impingir? Que estado democrático e de direito é este? Então o crime de homicídio não é um crime público? A lei em Angola não diz que a vida humana É UM BEM tutelado pelo estado? É preciso a família ir apresentar queixa contra a UGP? Não é obrigação do Estado (PGR, neste caso a PGR militar) abrir um processo contra a UGP e detectar quem de entre os militares da UGP é o assassino e intentar um processo-crime contra o indivíduo, levá-lo a julgamento e ser condenado, para que se faça justiça e o povo possa realmente confiar nas instituições e nas pessoas que estão à frente dessas instituições? Ou a PGR tem medo de notificar a UGP? Ou a UGP neste país é IMPUNE, podendo matar quem quiser e quando quiser? Nunca se ouviu dizer uma única vez em Angola, nestes 34 anos em que está no poder o Presidente José Eduardo dos Santos, que alguém tivesse atentado contra a sua vida, ou sequer o tivesse ameaçado com uma chapada ou um soco. Nunca. Mas, nesse mesmo tempo, quantas pessoas já foram mortas pela sua segurança ou guarda presidencial? Até cidadãos estrangeiros essa UGP já fuzilou, tudo em nome de uma suposta e exagerada proteção presidencial.

 

Até quando essa corja de assassinos que estão lá na UGP como militares vai continuar impune e com licença para matar em Angola? O Presidente Eduardo dos Santos deu alguma vez ordem a algum desses killers para disparar assim sem mais nem menos? Achamos e temos a certeza que não. Então, em nome de quem essa cambada atua? Com ordem e proteção de quem? Justiça. É tudo quanto se pede e se exige que o estado cumpra. A Justiça representa 80% dos pilares da democracia – Abraham Lincoln. Um estado que invista na justiça, FORÇOSAMENTE se torna democrático. E um estado verdadeiramente democrático, é um estado forte e próspero.

 

O Presidente Eduardo dos Santos e o executivo angolano têm de investir na justiça. Só assim Angola se tornará um país bom para se viver, com um dia disse o Presidente Eduardo dos Santos. Porque infelizmente Angola é, atualmente, um autêntico inferno. Por último, só assim o Presidente Eduardo dos Santos mostrará a todos os filhos desta pátria, de que realmente é um homem de paz, de bem e de justiça e não o chefe de um bando de assassinos que vestem uma simples farda. Faz falta, no seu legado, que escreva essa página e nos deixe, quando morrer, a recordação de um bom homem e estadista e não de um líder da morte.

* Mariano Domingos Sakenda – Analista Político e Professor Universitário.