Lisboa - A entrada em vigor da nova pauta aduaneira em Angola em Janeiro deve fazer aumentar os preços, não só das mercadorias importadas, mas também das produzidas localmente, estima o banco português BPI, que actua em Angola, numa nota de análise.
Fonte: Lusa
De acordo com a nota do Departamento de Estudos Económicos e Financeiros do BPI, "dado o peso dos bens importados no cálculo do nível de preços doméstico, o aumento das tarifas aduaneiras provavelmente vai resvalar para os preços locais e pode colocar em risco o controle da inflação por parte do Banco Nacional de Angola".
Os economistas do BPI explicam que isto pode acontecer por duas razões: primeiro, "há um efeito directo associado ao aumento do preço no consumo final de bens importados" e, depois, "as empresas que dependem de bens e intermediários estrangeiros reagem a custos de produção mais elevados, aumentando os preços finais para evitar descidas na sua margem de lucro".
Segundo a análise, isto faz com que as empresas que não precisem de bens importados no seu negócio acabem também por aumentar os preços devido à subida dos valores dos seus concorrentes, podendo aumentar o valor dos seus produtos até ao limite que os consumidores conseguirem acomodar.
A nova pauta aduaneira vai entrar em vigor em Janeiro do próximo ano, e deverá aumentar os impostos médios sobre as mercadorias importadas num valor que pode chegar aos 50%, no caso da cerveja e da água mineral, cuja taxa é actualmente de 30%.
O aumento deste imposto sobre os bens importados, sublinha o BPI, "tem o objectivo principal desencorajar as importações e fortalecer a produção nacional, de modo a tornar a economia auto-sustentável".
Noutro estudo do mesmo departamento do BPI, divulgado pela Lusa na passada quinta-feira, escrevia-se que Angola está a entrar num "novo ciclo de desenvolvimento", com o crescimento da economia a abrandar para entre 5% e 6%.
No documento de 18 páginas, a que a Lusa teve acesso, o BPI salienta que a previsão é fundamentada pelo facto de o sector petrolífero passar a contribuir menos para o crescimento, à medida que se aproxima o limiar máximo da capacidade extractiva.
"Neste contexto, o comportamento e respectivo contributo dos restantes sectores de actividade serão determinantes", sinaliza o estudo, denominado justamente "Angola - Novo Ciclo de Desenvolvimento".
O peso do sector petrolífero na economia angolana é evidenciado pelos 45% que representa no volume da produção nacional, dos 91% das receitas de exportação e dos 75% das receitas orçamentais.
Segundo o BPI, nesta fase "os desafios são substanciais" porque, além de ser necessário prosseguir o investimento em infra-estruturas, "importa robustecer as instituições, promover uma distribuição de rendimento mais equitativa, fomentando o emprego, e aumentar a qualidade de vida da população".
Para este ano, o crescimento económico deverá ficar limitado pela baixa execução orçamental, segundo dados divulgados pelo Ministério das Finanças, devendo fixar-se nos 5,2% do Produto Interno Bruto (PIB), mais uma décima que a própria previsão do Governo, corrigida em baixa.
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