Lubango – Antes de ter colado as pautas na escola onde dou aulas desejei abordar mais uma vez o assunto do empreendedorismo angolano. Continuo um analista atento sobre política externa, mas do ponto de vista [visto] de dentro para fora.

Fonte: Club-k.net
Eu sou angolano, e gostaria que houvessem canais de Televisão com um jornalismo investigativo, jornais com liberdade de informar sem medo de serem processados, e um governo realmente Para o Povo, não apenas “do Povo”.

Em países africanos os problemas de comunicação geram guerras, pois os corações dos africanos estão, há milénios, carregados de ódio, e não precisam de muitas contradições para se acender uma guerra: Basta uma Simples manifestação, ainda que pacífica, é suficiente para acender o ódio existente nos corações.

Os africanos são uma pilha de nervos, pronta a explodir a qualquer momento, isso só demonstra que estão longe da verdadeira reconciliação. Talvez devessem permitir que se pregasse mais o amor e a paz. Mas até isso estão proibindo. Até para as Igrejas pregarem, dependem de sectarismos, que só geram ódios, porque à uns é permitido exercer sua fé, e a outros não.

Antes de falar sobre empreendedorismo em Angola, deveríamos aconselhar o governo a não descansar à sombra da bananeira. Algum angolano cheio de ódio deve estrar a planejar a próxima revolta. Mas prontos, vamos lá.

EMPREENDEDORISMO EM 2013
 
O governo angolano vem incentivando os jovens angolanos e não só, a investirem seriamente no desenvolvimento da capacidade de empreender a fim de que a economia cresça e seja diversificada. Em resposta, cresce o número de empresas registadas, mas não cresceu o volume de negócios novos, não crescem o número de criações novas, não cresce a qualidade de vida dos angolanos.

O empreendedorismo angolano tem se deparado com a utopia da bancarização angolana voltada para a classe baixa, e encarado um real império bancário que apenas se importa consigo mesmo.

Os níveis de crescimento do sector privado são elevados hoje, mas se repararem, são sempre as mesmas elites que crescem, e até quando se criam novas empresas, as que se desenvolvem são apenas novas marcas das mesmas empresas dos mesmos donos.

Vou citar um exemplo: Empresas do Grupo Cosal: [Hiunday, Pululukwa, Status, Banco Tota… outras tantas incontáveis]. Empresas do Grupo  Nunes & Nunes: Metalosul, Omatapalo,… são tantas, tantas. Empresas do Grupo Semba Comunicação: Empresas do Grupo Y, Grupo X, Grupo M, Grupo António Mosquito… Etc…

Prestem atenção: A essas empresas, os bancos concedem os vários milhões de dólares que giram entre sí, tudo funcionando por Lobies.

Dá para compreender agora porque é que os Bancos Angolanos não apostam em StartUPs? Porque as empresas que movimentam avultadas somas de dinheiro em Angola têm todas ligação com pessoas influentes do MPLA, da Casa Civil da presidência da República, dos Governos Provinciais, etc. Nesse paraíso empresarial onde encontrarão espaço as novas iniciativas? Nos BUE, um ou outros no Angola Investe, nas Iniciativas do BDA…

Escrever esse artigo está muito difícil. É triste que se ouve quando conversamos com os gerentes dos bancos. Eles são claros em dizer quem movimenta os milhões em Angola, e, como não existem sistemas de proteção ao crédito, se os pedidos de financiamento não vierem atrelados a uma solicitação feita por um chefão em Angola, até podes receber um crédito salário, mas empresas que queiram apostar em Angola, se não tiverem nome de alguém por traz, jamais poderão sair da linha da traz. Deverão continuar no nível dos comércios informais, porque empreendedorismo em Angola está depois da corrupção, nepotismo e favoristismo.

EXEMPLO AMERICANO

O que o Vale do Silício pode ensinar a um empreendedor. O que uma viagem ao berço das maiores empresas de tecnologia do mundo pode ensinar?

Os mulçumanos precisam ir uma vez na vida à Meca. Quem precisa se encontrar espiritualmente pode fazer o Caminho de Santiago de Compostela. As crianças que vão à Disney sentem a magia em suas vidas. Se você é empreendedor, você tem que conhecer o Vale do Silício!

Conheça a Endeavor

Localizado numa faixa de aproximadamente 60km do sul de San Francisco até o sul de San Jose, esse conjunto de pequenas cidades no coração da Califórnia é o oásis do empreendedorismo mundial.

A Era da Informação que vivemos deve sua origem e consolidação às mentes brilhantes que construíram produtos, serviços, softwares, hardwares, processos, descobertas, inovações incrementais e principalmente as disruptivas, neste local único e especial no mundo.

Lá nasceram Apple, Google, Facebook, Intel, HP, Sales Force, eBay, Evernote, Twitter, Linkedin, Netflix, Yahoo e diversas outras empresas pequenas, médias, grandes e gigantes, B2B, B2C, B2B2C, de hardware, de software, que crescem absurdamente, que são rentáveis ou não, que são vendidas, compradas, fundidas, que fazem IPO, empresas que são líderes e referências em diversas indústrias e mercados globais.

Palo Alto, Menlo Park, Mountain View, Cupertino, San Bruno, Santa Clara San Jose e adjacências abrigam o que há de melhor desse universo. Andando pelas ruas de lá, quando você cruza com alguém, só há 4 opções: ou a pessoa é empreendedor, ou é investidor, ou engenheiro de software ou aluno de Stanford!

Tive a oportunidade de visitar recentemente o Vale e me quesitonei: por que o Vale é assim? O que fez com que ele chegasse nesse nível de excelência? Seria possível replicar esse modelo no Brasil?

1 – A oportunidade é a origem de tudo: O empreendedor do Vale sabe que todos os problemas do mundo já foram resolvidos! Porém, ele é antes de tudo um inconformado que afirma que a maneira que os problemas foram resolvidos não está boa... e propõe então uma alternativa melhor. A identificação de uma oportunidade a partir de um problema ou necessidade é a origem. No Brasil, às vezes ocorre uma inversão: primeiro o empreendedor define o produto e depois tenta encaixar uma oportunidade.

2 – Cultura empreendedora: Em Stanford, os alunos são estimulados a empreender desde o primeiro dia de aula. Os cursos não são desenhados para preparar os jovens a serem empregados de grandes multinacionais ou funcionários públicos. O foco deles é aprender a aprender. E o aprendizado é aplicado a resolver problemas que podem resultar na criação de novos empreendimentos!

3 – “Get out of the building”: Esse é o mantra de Steve Blank, o guru das startups. Testar, testar, testar, validar hipóteses, criar protótipos e produtos mínimos viáveis. Os empreendedores do Vale saem de suas Torres de Marfim, vão para a rua gastar sola de sapato e buscar a hora da verdade com o cliente! Um protótipo rodando vale mais do que 50 páginas de um Plano de Negócios!

4 – “Fail fast”: Em minutos você consegue abrir uma empresa nos Estados Unidos e em dias você consegue fechá-la se não der certo. Vamos comparar com o Brasil? Meses para abrir e anos para fechar. Por lá, não há medo do fracasso, pois o fracasso de ontem é o aprendizado de hoje para o sucesso de amanhã!

5 – Custo Americano? A infraestrutura de transportes, telecomunicações, energia, logística, segurança... funciona. As startups têm incentivos fiscais reais. Os mercados consumidores de qualquer segmento são enormes, logo há mais oportunidades. O governo americano evita criar empecilhos e malabarismos como temos por aqui, pois sabe que são as pequenas empresas que geram empregos, inovação e giram a economia.

6 – Ecossistema empreendedor maduro: Investidores-anjo, investidores seed, venture capitalists, aceleradoras, incubadoras, organismos de fomento ao empreendedorismo, startups recém-criadas, startups em franco crescimento, empresas gigantes, universidades... o ecossistema empreendedor do Vale do Silício é maduro e explosivo!

7 – A importância do “give back to society”: Na semana que estive em Palo Alto, ocorreu o 50th International Selection Panel da Endeavor. O Brasil tinha 2 representantes: Joaquim Caracas da Impacto Protensão e Leonardo Simão da Bebe Store. Parabéns ao Caracas e ao Leo que agora fazem parte de uma rede de mais de 850 empreendedores em mais de 530 empresas de 18 países!

Essa foi a principal lição que aprendi no Vale do Silício: o poder de fazer parte de um ecossistema! O impacto acontece quando você se insere em redes e assim pode multiplicar seu aprendizado, seu negócio, sua liderança, seu sonho. Recomendo a todos!

Luis Vabo Jr é Diretor Executivo da Sieve, empresa de inteligência de preços e dados de e-commerce para lojas virtuais e fabricantes.

REALIDADE ANGOLANA

Em Angola, estamos realmente crescendo? Em relação a esse quesito de empreendedorismo é zero a esquerda e a direita. Ter a triste sorte de não ser filho de alguém, durante a vigência do governo do MPLA, é bastante para não avançar. As mentes angolanas não são programas para pensar e criar novas ideias. Estão programadas para ir em busca do próximo quilo de fuba para comer e viver conformado.

Como é que vamos pensar em empreendedorismo se em outros países o governo tem políticas reais para que o empreendedorismo seja real, para que as novas iniciativas participem e contribuam do crescimento do país, mas cá, os bloqueios são evidentes? Os outros pagam-te para criar. Aqui apagam se criares concorrência.

Seria muito bom se o MPLA contasse em seu governo com quadros angolanos, ainda que não membros do seu partido, mas filhos de Angola competentes, capazes de dar a vida para ver o povo realmente progredir.

A História e os exemplos bons são para serem imitados.
http://www.startupsc.com.br/
http://www.inovasc.org.br/tag/startups/

Se você é um estudioso, analista atento, e empreendedor em busca de crescimento qualitativo e não apenas a tua fatia no pedaço, não vai deixar de ler esses sites, essa matéria, e concluir que o governo está sendo dirigido mesmo por incompetentes.

É ridículo um país que quer crescer, propositadamente não apostar em Startups.

É ridículo num país que deseja crescer escolas serem construídas a conta-gota.

É ridículo num país que quer crescer, criar um programa chamado Angola Investe e o Ministério da Economia  disponibilizar dois créditos por semestre.

É ridículo um país que quer crescer, permitir a concentração do dinheiro do país na mão de 5% de chefões, e deixar a grande maioria apenas trabalhando pela fuba do dia a dia.

Quando estudo, analiso, vejo gente a lutar em Angola durante 3 anos para conseguir um crédito para construir um centro de formação Profissional,  e os bancos não abrirem portas por não portar uma carta de um governante afeto ao MPLA, concluo que estamos num país condenado.

Se as pessoas e as políticas do governo não mudarem, em 2014 será pior.  É importante que a oposição palmeie o país e converse com os jovens empreendedores e comece a medir a pulsação desse país. Não há mal que dure para sempre. Um dia alguma coisa há-de de levar Angola ao colapso e a mudança chegará.

Insistem em dizer que alguma coisa está sendo feita. Mas o que está sendo feito erradamente é muito mais do que o que está sendo “feito” de bom. É muita politicagem fraudulenta.