Luanda - Não é suficiente parecer-se em política. O discurso de despedida de Lopo do Nascimento veio embrulhado numa mensagem tardia. Para a criação da Nação, e não só, a dignificação dos angolanos, em primeiro lugar, no seu próprio país, poucos foram os políticos que contribuíram. Na memória dos angolanos, sobretudo os de meia-idade, fica registada a insolvência de políticos mais velhos, que tiveram oportunidades soberanas para fazerem ecoar a sua voz, mesmo que no deserto, e não o fizeram.

Fonte: Club-k.net

Em muitos momentos decisivos e de clamor em que a “Nação”, tal como hoje, pedia, pelo menos, pelo consolo dos políticos veteranos, nada se ouviu e o que transpirou para o público, eram apenas sussurros pronunciados, em voz baixa, nos corredores fechados da política ou nos encontros fechados entre quatro paredes familiares. Não é que se esperasse de Lopo do Nascimento tudo: juventude, contestação ruidosa ao regime, mais intervenções públicas, etc…Mas, uma vontade política mais vincada.


Talvez essa hesitação tenha marcado, em 1992, pela ausência de coragem política, uma significativa valorização da Democracia nascente. Nunca ouvi de fonte credível o que se passou então com o político Lopo do Nascimento. Nem tão pouco se era mesmo verdadeira a intenção de criar uma plataforma política, mais moderna, de esquerda pronunciada, e tolerante.


Os políticos mais velhos, como Lopo do Nascimento, têm sempre palavras de apreço para com os jovens, não lhes faltam dizeres, aliás comuns, de incentivo à juventude: fica sempre por se saber o quanto estariam dispostos a marchar com eles na defesa das suas bandeiras. Seria motivo, imagina-se, para os angolanos de meia idade e os jovens saudarem o gesto, talvez simbólico, do velho político, mas os nossos mais velhos na política mostraram pouca consideração pela justiça social, pela distribuição razoável e justa da riqueza nacional, pela observância dos mínimos direitos humanos, pela contenção da truculência do poder da força repressora, enfim, pela liberdade de expressão.


Certamente que não inclui muitas outras reivindicações permanentes da sociedade. Seria, concerteza, injusto sobrecarregar sobre os ombros de uma só pessoa todos os males que assistimos, dia a dia, repetirem-se diante dos nossos olhos incrédulos. Pouco ou nada importa a ideologia.


Pedir aos jovens, em mensagem de despedida da vida política activa, para construírem a “Nação”, agora, que as injustiças criaram um fosso gigantesco entre os poucos que têm muito, e os muitos que nada ou quase nada têm, é contraditório. É relativamente cómodo confortar a juventude com palavras de um discurso genérico. Mas o que falta são os gestos, os exemplos, os actos, que sirvam de inspiração aos jovens.


O que seria clarificador, ao despedir-se, seria se Lopo do Nascimento, que um dia disse que era preciso “partir os dentes à burguesia”, não estando mais no activo, ainda assim, combaterá, a seu modo, nas fileiras da sociedade angolana, contra a nova burguesia, podre de rica, e que não mostra qualquer espécie de respeito pelo generoso povo angolano.


A começar pelos desvirtuamentos dos comportamentos sociais derivados da erosão, paulatina, dos valores morais e culturais, uma herança dos nossos antepassados e da nossa história, e do sistema de educação, como um todo.