Luanda - Ninguém ficou indiferente e ainda bem, ao que o deputado Lopo do Nascimento (LN) disse na hora de se despedir do Parlamento e ao que tudo indica da própria política activa que se faz aqui na banda, muito pouca por sinal, sobretudo aquela que resulta do debate/choque de opiniões e que é a que mais anima o “pagode” em qualquer parte do mundo.

Fonte: morromaianga
Na trajectória de LN como se sabe, só lhe faltou ser Presidente de todos os angolanos, depois de ter sido Primeiro-Ministro da República Popular e Secretário-Geral do MPLA, entre vários outros cargos desempenhados por entre  algumas travessias pelo deserto da politica nacional a que foi forçado pelas diferentes conjunturas que se foram criando a sua passagem.

Uns gostaram muito, outros nem tanto, outros ficaram sem saber o que dizer e outros claramente não gostaram nada para não dizer mesmo que detestaram o breve “speech” do mais velho.

Podíamos  acrescentar a esta última categoria os que xinguilaram em público, com uns tentarem reduzir o gesto de Lopo a um problema sentimental, outros a lamentarem que o “kota não podia falar essas coisas” e com uns poucos ainda a quererem impor a lei de uma rolha já azeda, com o argumento de que o “kota é nosso e que mais ninguém, para além de nós pode falar dele.”

No limite, a valorização deste sub-argumento podia levar-nos a introduzir uma emenda constitucional que vinculasse e condicionasse os elogios e as críticas dos cidadãos com base na militância.

Assim sendo os cidadãos que são de um partido só poderiam  falar bem ou mal dos seus respectivos dirigentes, ficando por saber o que fariam todos aqueles que não têm partido e só gostam de ser identificados pela sua profissão e como membros de pleno direito da nação em construção, que acabou por ser o ponto principal da própria mensagem de Lopo que tantas ondas de choque está a provocar.

Nas nossas contas, terá ainda havido vários outros que terão sido apanhados completamente de surpresa pelo conteúdo do gesto abrangente de Lopo, que em abono da verdade agradou muito mais os seus adversários políticos do que  muitos dos seus companheiros de sempre.

Este para mim, foi, sem dúvida, o recorte mais interessante e original do mais recente facto político criado em Angola por uma iniciativa pessoal, a traduzir bem as complexidades e as dissonâncias do nosso panorama, onde nem tudo o que parece, realmente é, mesmo lá onde as coisas aparentemente correm muito melhor.

A tal ponto assim foi, que na hora do adeus, se  nos fosse possível contar o numero de palmas indexadas aos seus autores, chegaríamos facilmente a conclusão que o veterano angolano coleccionou de longe muitas mais palmas da minoritária oposição, do que da bancada que sempre serviu.

Terá sido mesmo a primeira vez, na história do parlamentarismo multipartidário, que teve inicio no quarto trimestre de 1992, que a oposição saudou no hemiciclo de uma forma tão entusiástica um gesto proveniente de alguém do lado da situação.

Só foi pena, devido ao “black out” mediático que prevalece sobre as transmissões televisivas dos debates parlamentares, não termos podido  todos nós testemunhar em directo esta derradeira “jogada” de Lopo do Nascimento  na “Casa da Democracia”.

Quer gostemos dele, quer não e sem qualquer intenção de estarmos aqui a endeusar seja quem for, o que não é a nossa especialidade, parece-nos ser pacífico sublinhar o facto de Lopo ter passado pela política deste país como um verdadeiro cavalheiro particularmente pela forma urbana, serena e porque não dizer simpática e afável, como sempre soube relacionar-se com os seus adversários, mas não só.

Lopo relacionou-se bem com todos aqueles que não sendo afectos directamente à politica partidária, tinham protagonismo na vida do país nas diferentes áreas, tinham algum valor a acrescentar.

Intramuros as coisas parecem ter sido bem mais complicadas na trajectória de Lopo e ter-se-ão mesmo azedado em certos momentos, o que também era inevitável no seio de uma família politico-partidária tão vasta e tão estratificada, sendo por isso mesmo tão prolixa em matéria de conflitos a que ele dificilmente poderia escapar.

E não escapou, mas conseguiu sempre sobreviver com a necessária dignidade.

Na hora do adeus Lopo escolheu bem as palavras de um testamento que ainda não está completo, mas que no essencial ficou ali, naqueles poucos minutos bem vincado, com a profundidade das duas ou três alfinetadas bem espetadas no corpo de uma família e de um país que pode não estar a trilhar o melhor rumo, caso não se tenha em atenção algumas cautelas a observar com o presente e o futuro do todo nacional.

Cada um de nós enquanto cidadão deste país, fará certamente a sua avaliação das palavras de Lopo, puxando a brasa para a sua sardinha, como é normal no debate político.

Acreditamos que haverá, contudo, um denominador comum no meio das eventuais divergências ao tratarmos de dissecar a mensagem que tanta tinta ainda há-de fazer correr, sobretudo ao nível da opinião publicada que, com o advento da NET/redes sociais/facebook, hoje já deixou de ser monopólio de alguns iluminados e privilegiados da media tradicional.

Este denominador chama-se Angola antes de mais e de tudo o resto. Estou contigo Dikota!