Luanda – Há alguns dias atrás eu e dois amigos estávamos sentados no cruzamento entre a rua da Vaidade e a rua da Ambáca de frente ao edifício histórico Imperial (ex-residência do malogrado herói nacional Imperial Santana) quando nos deparamos com uma situação clara de violação do direito de circulação, conforme o art.º 46 da Constituição da República.

Fonte: Club-k.net
Uma carinha da Polícia Nacional, presumivelmente da 8ª Esquadra da Divisão do Rangel, abordou-nos de forma coerciva no sentido de abandonarmos a rua e dirigirmo-nos as nossas residências. “Entram já, não são horas de ficar na rua”, foram os argumentos usados inicialmente pelos mesmos.

Nos naturalmente refutamos essa decisão e argumentamos, dizendo que não fazíamos nada de errado e estávamos apenas a conversar e tínhamos todo o direito de ficar ai, pois estávamos numa sociedade livre.

A retaliação por parte dos funcionários públicos altamente armados foi enérgica, armas foram direccionadas a nos, e o tom de voz habitualmente imperativo dos agentes da Ordem Pública, tornou-se colérico. “Entrem já não estão a ouvir, a partir das 22h e recolher obrigatório aqui no Rangel”. De formas a evitar o pior, obedecemos as directrizes ilícitas dos agentes e abandonamos o local.

Há algumas semanas antes, um amigo havia relatado que presenciou uma situação quase idêntica a alguns metros desse mesmo local, só que nesse caso, os agentes da Ordem Pública, não se fizeram acompanhar de nenhuma cerimónia.

Um grupo de adolescentes, por conseguinte, no Dia dos Namorados, cantarolavam músicas românticas em plena rua. As músicas de amor e os tons de alegria deram lugar a gritos de dor e gemidos de angústia, momentos após a chegada da “cavalaria”.

Mais ou menos dez jovens foram espancados e consequentemente detidos, sem direito a nenhum tipo de explicação por parte dos agentes, chegando mesmo a passar a noite em celas de uma unidade próxima.

Muitos jovens estão revoltados com essa situação, dentre eles, os estudantes nocturnos, que anteriormente eram assombrados com o pesadelo dos meliantes (gatunos), agora correm também o risco de passar noites detidos, uma cortesia da polícia do Rangel.

Não constitui uma novidade de todo, as acções da polícia no nosso país que têm como objectivo a solução de problemas nas comunidades, atropelando direitos dos cidadãos que visam proteger, constituindo assim uma dupla penalização a população, pois os presumíveis alvos de tais medidas polícias, apercebendo-se das acções tomadas pela corporação, mudam o seu ‘modus operandi’, resultando, na maior parte das vezes, numa abordagem criminal mais agressiva da parte dos delinquentes.

Na expectativa de ver essa situação devidamente explicada, e consequentemente solucionada, os jovens do Rangel aguardam atentamente o desenvolver da situação…