São Paulo – Sabe-se que nos últimos trinta dias, pelo menos cinco assaltos vitimaram passageiros angolanos que vinham de Luanda e Lisboa. Depois de algum tempo de acalmia, parece que esses crimes voltam a mirar os muangolés. A polícia já tem pistas de alguns criminosos. Seja como for, toda a prevenção é pouca, diante duma situação periclitante como essa.

Fonte: SA
JC, que prefere não ser identificado, é um angolano que vive há mais ou menos dez anos na cidade de São Paulo, Brasil, onde já se casou e tem um filho. Habituado a idas e vindas internacionais, e ciente da violência da grande urbe brasileira, ele sabe como não «vacilar » para não cair nas garras dos bandidos. Mas isso não é garantia de nada.

E, como realmente, nada garante uma segurança total, dessa vez, segundo o próprio, embora fatalidades aconteçam, ele acha que «maiou», entrando assim para a estatística dos assaltos a estrangeiros que acontecem amiúde na maior metrópole do hemisfério sul.

Há pouco menos de um mês,depois de uma pequena temporada em Portugal, JC, que viajava com a esposa e o filho, desembarcou no Aeroporto Internacional de Guarulhos, também conhecido como Cumbica ou simplesmente Aeroporto Internacional de São Paulo. Trazia consigo cinco malas na bagagem.

Eram mais ou menos 16 horas - pelo relógio de Brasília – daquela fática data. Cansado, o «madié» saiu do desembarque com a família e foi directo para o carro que o levaria à casa. Um amigo tinha ido buscá-lo. E apanharam tranquilos a estrada. Portanto, tudo corria como JC tinha pedido a Deus, ele que é um religioso praticante.

Já tinham deixado para trás os limites de Guarulhos, onde está situado o aeroporto – que é a maior cidade da chamada Grande São Paulo, uma cadeia de cidades--municipios em volta da São Paulo propriamente dita. JC e a família estavam em pleno miolo dessa região central da metrópole.

O cidadão conta que, num certo momento, numa curva sem grande fluxo de automóveis, um carro apareceu disparado por trás da viatura em que viajavam, travou a frente desta, fechando o caminho e rapidamente desceram dele dois homens armados.

Enquanto isso, um segundo carro do mesmo grupo dos bandidos tinha se posicionado atrás da viatura em que JC e a família estavam. Não havia como locomover-se.Aos gritos de ameaça, os bandidos tomaram o volante do carro e fizeram reféns todos os passageiros.

Então, as três viaturas estavam sendo conduzidas pelos «gregos» paulistanos. E o assalto se concretizaria ainda dentro do carro em que estavam JC, a família e o seu amigo motorista. Todos foram obrigados a dar os pertences: relógios, telemóveis, adereços, tudo.

JC conta que, apesar do engarrafamento com o qual se depararam, os bandidos não se intimidaram. Seguiam o seu propósito. Os três carros atravessam a cidade em direcção à região leste da cidade, na periferia, numa localidade chamada São Miguel Paulista, a mais de 30 quilómetros do centro, onde o assalto foi consumado.

JC disse que nessa hora não sabia o que pensar. Todos os pensamentos passaram pela sua cabeça. Tendo em conta a realidade de violência que se vive hoje no Brasil, qualquer coisa poderia acontecer. Inclusive um disparo mortal, que fosse acidental ou proposital.

No entanto, o acontecimento infeliz acabou menos trágico do que se imaginava: depois que os bandidos subtraíram tudo das suas vítimas, carregaram os seus dois carros e «evaporaram-se». JC e companhia ainda tiveram a «sorte» de serem abandonados num lugar ermo com o carro. Na fuga, os meliantes livraram-se mais adiante da chave do carro onde seguiam as vírimas, que, com certa dificuldade, seria encontrada.

Já há suspeitos

Esse é apenas o exemplo de uma situação, que não é nova, em que angolanos voltaram a ser alvo. De acordo com membros da comunidade angolana aqui em na Grande São Paulo ouvidos pelo Semanário Angolense, o caso de JC é um dos cinco por eles conhecidos que aconteceram em mais ou menos um mês. Isso porque estes foram levados à policia. Sem contar com os outros, que muitas vezes não chegam ao conhecimento policial. Sobretudo, no caso de turistas de «primeira viagem».

A maneira como as vítimas são abordadas é sempre a mesma: à saída do Aeroporto Internacional de Guarulhos, depois de alguns quilômetros de perseguição ao carro que transporte os angolanos. Tudo é roubado. Do dinheiro às malas, os bandidos não deixam nada. E tudo acontece muito rapidamente.

Segundo a informação dos interlocutores do SA, a policia já está a investigar estes casos. JC confirma, contando que a delegada encarregada de fazer as investigações tem estado em contacto com ele. A polícia já tem suspeitos. A qualquer momento, na sequência do seu trabalho, os criminosos poderão ser detidos.

Fim da trégua Durou 3 anos

Assaltos aos angolanos, que acontecem à saída dos aeroportos, não são novos no Brasil. Acontecem desde que duas das principais cidades brasileiras (Rio de Janeiro e São Paulo), os dois pontos de chegada dos vôos da TAAG, se tornaram fornecedoras da «muamba» procurada por muitos deles.

A policia vem resolvendo vários casos dessa índole. O último de que se tinha registo aconteceu em 2011. Naquela altura, foram presos dois indivíduos, que faziam parte de um grupo especializado em assaltar a angolanos, quando estes tentavam cometer mais um crime.

Os assaltantes detidos, nas suas acções para ludibriar a todos, anunciavam que eram da policia, num esquema em que um dos integrantes da quadrilha assumia o lugar do motorista do táxi ou de um outro carro assaltado atá um lugar seguro para eles, em geral uma rua sem saída, onde se consumava o assalto. Dinheiro, malas e ate documentos eram levados pelos criminosos.

Em função do grande fluxo de angolanos que vão fazer compras ao Brasil, criou-se uma estrutura de serviços que vai de kínguilas a transportadores de mercadorias, do hotel ao aeroporto, passando pelos acompanhantes que fazem a ponte entre os compradores e os lojistas. É essa movimentação que tem chamado a atenção da bandigagem.

Depois da prisão desses elementos, a polícia acreditava ter desmantelado uma quadrilha. Desde então, verificava-se uma espécie de trégua neste tipo de assaltos a angolanos, já que os bandidos, sabendo da atenção que chamavam, haviam abandonado temporariamente essa modalidade de crime. Mas, parece que a trégua chegou ao fim.