Luanda - O partido liderado por Lucas Ngonda prevê realizar o seu congresso no mês de Julho do ano em curso, mas o evento poderá ser adiado, por alegada falta de dinheiro.

Fonte: Agora
Segundo o porta-voz da FNLA, Ndonda Zinga, até ao princípio de Abril, o partido ainda não tinha recebido do Estado as verbas a que tem direito como formação política com representação parlamentar.

"A FNLA e todos os partidos com assento na Assembleia Nacional são unidades orçamentais do Estado, isto é, têm direito a financiamento da parte deste. Estamos no terceiro mês do ano, mas o Ministério das Finanças ainda não depositou o dinheiro nas nossas contas, o que pode inviabilizar a realização do congresso", esclareceu.

Ndonda Zinga fez saber, igualmente, que a sua formação política pretende realizar um congresso, com a participação de mais de mil delegados internos e outros vindos dos Estados Unidos da América, França, Bélgica, Portugal, República Democrática do Congo, Namíbia e África do Sul, mas não têm condições para os acomodar.

"Necessitamos, com urgência, de iniciar, de modo atempado, com a criação das condições de comodidade para os delegados que virão dos vários quadrantes do mundo, sem descurar os internos e aqueles que surgem de modo natural, ou seja, os que forem eleitos nas conferências", disse, acrescentando que tudo isso implica fundos de que, nesta altura, o partido não dispõe.

Se em relação ao congresso da UNITA as expectativas gravitam à volta de se saber quem tomará o leme dos destinos do partido, na FNLA, tudo gira à volta da reconciliação entre Lucas Ngonda e Ngola Kabangu, dois políticos da mesma formação, desavindos devido à liderança da mesma agremiação.

A FNLA, fundada por Holden Roberto em 1954, é tida como a formação política com mais problemas internos que quase a afundaram. O porta-voz não avançou qualquer dado sobre a possibilidade ou não de levar ao congresso o grupo de militantes, sobretudo antigos combatentes que não se revêm na direcção de Lucas Ngonda, mas agora aliados de Ngola Kabangu.

Esse grupo, segundo fonte segura, ainda tem realizado actividades, embora de baixa intensidade, constituindo-se numa espécie de FNLA na sombra e tem, igualmente, a sede funcional na zona baixa de Luanda.

Recentemente, o secretário do partido para os assuntos jurídico-constitucionais, Pedro Gomes, deplorou as actividades que têm sido levadas a cabo por Ngola Kabangu, tendo considerado não ser a melhor via para a unificação.

"Vai às aldeias, conversa com os velhos, utilizando o seu nome, com vista a criar desordem. Não é disso que o partido precisa. Nós precisamos de o fortalecer, para responder aos novos desafios", fez saber o também jurista, quando instado por um jornalista da rádio Despertar.

Em contrapartida, o Agora soube de fonte limpa que Laiz Eduardo, antigo porta-voz da FNLA, João Castro Freedon, presidente da extinta Comissão Catalisadora para a Reunificação, e outros membros do Bureau Político que em 2012 deixaram a casa para abraçar a já extinta Nova Democracia, então dirigida por Quintino de Moreira, ainda não foram contactados, aventando-se a hipótese de serem excluídos do conclave.

Refere-se, inclusive, que um outro grupo liderado por Carlinhos Zassala não terá ainda sido avisado sobre o congresso.

Segundo dados em posse do Agora, este grupo tentou renascer a UPA- União dos Povos de Angola, mas a intenção não foi bem-sucedida, porque encontrou o travão do Tribunal Constitucional (TC), que chumbou a pretensão, alegando que a denominação (UPA) está na origem de um outro partido (FNLA).

Não se sabe se a Comissão Instaladora da UPA, já chumbada pelo TC, terá recorrido da decisão. De lá para cá, Carlinhos Zassala e os seus pares nunca mais se fizeram ouvir, mas espera- se que, ao aproximar-se o congresso, possam ressurgir com novos dados.

Há pelo menos três anos, Kabangu disse à Voz da América que estava a trabalhar para revitalizar os irmãos, tendo considerado o congresso como uma das vias de facilitação dos seus objectivos. "Estou a revitalizar a FNLA e vou trabalhar com todos para nos reafirmarmos como um partido actuante na vida política de Angola".

Apesar da insistência do apresentador do programa, na altura, o político não disse se iria ou não candidatar-se ao cargo de presidente. "Ainda não digo nada sobre uma eventual candidatura à presidência do partido", sublinhou.

O último Congresso da FNLA foi realizado em 2011 e, estatutariamente, realizam-se de quatro em quatro anos. Recentemente, esteve de novo quase mergulhado noutra crise, na sequência de um despacho de Lucas Ngonda, que ditava a expulsão de seis membros do Bureau Político.

No documento, Ngonda proibia a circulação dos expulsos no perímetro da sede desta agremiação política, acusando-os de conspiração e de terem vendido as instalações partidárias situadas no Cazenga e na Samba-Luanda, mas o diferendo foi prontamente resolvido pelo TC, que julgou a decisão improcedente, tendo ordenado a reintegração imediata dos referidos militantes.

Trata-se de João do Nascimento Fernandes, Augusto Jacinto Paulo, José Boaventura, Miguel Pinto, Vicente Albino Paulo e Rosa Jorge Nicodemos, que há seis meses tinham sido exonerados deste órgão colegial pelo presidente Lucas Ngonda, embora tivessem sido eleitos no congresso da agremiação política, realizado em 2010.

Analisando o momento que esse partido histórico vive, um antigo combatente identificado como Luciano Alberto entende que os dirigentes dos irmãos devem pensar nas distintas etapas que o mesmo está a atravessar e avaliar o grau de aceitação populacional.

"Devem-se adoptar outros métodos funcionais que convençam o povo e reconquistar os antigos militantes", declarou, para quem a sua formação tem ainda muitos problemas por resolver com o Executivo, apontando-se como exemplo o caso da assistência aos integrantes do Batalhão Búfalo e as suas famílias, grande parte dos quais estão ainda na África do Sul, correndo o risco de serem deportados, por falta de documentação de residência.