Benguela - Gostaria remeter para a parte final desta abordagem a matéria que destaca o artigo, começando, entretanto, por lembrar um caso, não menos polémico nesta mesma linha de raciocínio.

Fonte: Club-k.net

Não fiquei estupefacto com a notícia de há algumas semanas, segundo a qual, Artur Queiroz, cidadão português ao serviço do Jornal de Angola como Consultor  de seu Presidente do Conselho de Administração- PCA, José Ribeiro, destratasse a chamada mão de obra local, ou seja os trabalhadores e funcionários angolanos daquele matutino estatal. Também não me surpreendeu que o mesmo aufira um salário, de certeza líquido, no valor de pouco mais de 11.000 USD em detrimento da competente mão de obra nacional versada na matéria de jornalismo e inerentes. Surpreendeu-se sim, foi o facto de, a difamada e destratada  Kilsia Ferreira, esteja a ter êxito junto da nossa doentia justiça, onde terá intentado uma acção judicial contra o detrator, por sinal crónico no comportamento, segundo ainda a fonte do Club-K, desautorizando inclusive seu superior hierárquico, presumivelmente por desconsiderá-lo, visto ser Filomeno Manaças também mão de obra local, portanto angolano.

Admitindo e tolerando tamanhos excessos, empregando um expatriado ilegal de idade avançada, resta-me questionar: afinal o Jornal de Angola é uma empresa pública ou uma multinacional privada? Parabéns colega Kilsia, como mulher estou contigo nesta empreitada e quero viver para ver o fim da cena!

GAUFF deixa morrer criança por recusar avanço salarial ao pai

É interessante que o que se passa no Jornal de Angola e agora também na CUCA-BGI, EKA & Co quase constitui norma e até dá a impressão ser Lei em Angola. Há poucos meses atrás, como resultado de pesquisas feitas por mim no terreno devido á denúncias de trabalhadores da empresa GAUFF ENGENHARIA CIVIL ,  denunciei barbaridades do género perpetrados curiosamente por esta mesma empresa alemã.  (http://club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=16357:alemanha-economia-em-alta-e-sem-defice-orcamental-ii-carla-cachimbombo&catid=17:opiniao&Itemid=124 )

Como se não bastasse, há poucos dias atrás, fui alertada que afinal, a barbárie perpetrada contra a mão de obra nacional naquela empresa estrangeira, não só é excessivamente humilhante mas tiveram contornos mortais silenciosos no ano 2013.

O clímax de tais excessos ganhou um contorno  dramático quando Paulino, funcionário desta mesma empresa, munido de toda documentação médica se dirigiu á responsável pela área de recursos humanos da empresa, informando-a do estado grave de sua filha. Aurora Martins, por sinal angolana de nacionalidade, mostrou-se desinteressada em responder  ao pedido deste aflito pai devolvendo-o  ao seu posto de trabalho. Insatisfeito, Paulino foi desabafando com seus colegas de turno que o aconselharam a voltar mais tarde e tentar convencer a “directora”, como também é ironicamente tratada a dita responsável administrativa. Pressionado por sua esposa, Paulino perdeu o “medo” e lá voltou tendo recebido de forma deselegante o mesmo NÂO.  Entretanto, o pior acontece quando o desesperado pai mais uma vez apareceu diante da “poderosa diretora” expressando todo seu desespero. Acontece que no momento em que Aurora Martins comunicava ao aflito pai da resposta negativa que recebera de seu superior hierárquico, portanto o Director da Sucursal, o cidadão austríaco Antoni Schauer Grasch, o telefone de Paulino toca e do outro lado da linha recebe a fatal informação de que sua filha acabara de sucumbir . . . Quando perguntei a minha fonte do valor que era necessário para salvar a criança para ser internada numa das Clínicas da periferia de Luanda, aí sim fiquei estupefacta: irrisórios 30.000.00 Kz,  pouco menos de 300 USD. Que barbaridade! Pior ainda quando a empresa em causa faz negócios em Angola na ordem de milhões de dólares e paga “lindos” salários aos expatriados.

Quanto vale um angolano?

“Há mais ou menos 3 anos, esteve aqui um engenheiro expatriado que trabalhava para a empresa na estrada da Gabela e apanhou uma doença esquisita, a empresa pagava 3.000.00 USD (três mil dólares) por dia durante quase 10 dias num quarto privativo na Clínica Sagrada Esperança á Ilha de Luanda. O motorista do tal expatriado dormia lá fora do hospital no carro e as vezes queixava-se de fome. Isso é brincadeira pá, nós angolanos não valemos absolutamente nada, é ilusão”, desabafa um outro funcionário da empresa visivelmente agastado com a situação continuando: “ A pessoa que nos defendia aqui também  lhe fizeram tanta guerra coitado que acabou por sair e agora estamos lançados á bicharada.”

Na minha réplica perguntei de quem se tratava e só depois de alguns momentos de dúvida finalmente a resposta: “ Era o Dr. Orlando e era angolano e boa gente. Todos brancos lhe odiavam e lhe fizeram tanta guerra que o homem teve mesmo que sair porque era demais. Ele sempre defendia os nossos interesses, até férias pagas gozamos no tempo em que ele pertencia aos Recursos Humanos, mas sempre encontrou oposição dos Directores principalmente de um miúdo, o Stefán Bollow, um jovem muito malcriado, sem maneiras e extremamente arrogante ”, rematou.

Outra das  várias ex- Secretárias que passaram pela Direcção da Gauff Engenharia em Angola também deu seu comentário sobre a pessoa e personalidade a que vimos citar:  “Era de facto uma pessoa influente na empresa pois lidava directamente com a chefia tanto em Angola como na Alemanha. Sem ele a empresa não funcionava como devia e pior ainda, não teria chegado onde chegou. Era o braço direito do dono da empresa o mais velho Gauff. Isso provocava muito ciúme e ódio principalmente dos Directores da Sucursal, com destaque ao tal Stefán, e do actual Director o tal Schauer, amigo do Stefan. Eu como secretária de direcção notava e vivia isso diariamente. Mas para mim o que mais me marcou foi a verticalidade dele, nunca baixava a cabeça perante expatriado nenhum e defendia muito o chamado pessoal de base: limpeza, lavandaria, segurança enfim todos angolanos”.

Um funcionário que por razões óbvias prefere falar em anonimato remata: “ Agora parece que no lugar dele entrou lá um português, o Fernando que também não tem maneiras. Diz ser engenheiro mas os engenheiros sul-africanos e mesmo outros brancos dizem que ele não sabe nada de engenharia. Então porquê que Angola lhe dá visto de trabalho? O  que ele faz no escritório ninguém sabe, só passa dia a fumar e a tomar café e a andar de uma lado para o outro a fazer as suas chamadas” concluiu.

“ Todos os angolanos do escritório que tiveram coragem de enfrentar a ousadia dos expatriados foram simplesmente despedidos até o técnico dos computadores o Bartolomeu, um bom rapaz. Há pouco tempo despediram outro jovem também do escritório, o Edivaldo, todos foram despedidos. Até um mais velho angolano que dizem ter sido um grande chefe na EPAL, o Engenheiro Vita, é abandalhado por miúdos expatriados só para não ser despedido ele nada diz. Afinal o que é isso? O estrangeiro só porque tem dinheiro e consegue corromper os dirigentes angolanos para terem contratos, como eles próprios dizem de boca cheia, têm que maltratar-nos assim? O próprio Schauer, que até esteve durante muito tempo a trabalhar ilegal em Angola, segundo um dos próprios seguranças privados que ele contratou me contou, gabava-se nas reuniões connosco que nós podemos ir nos queixar até na Presidência da República ninguém lhe faz nada porque todos governantes angolanos gostam de dinheiro. Então assim fica como? Quem nos vai respeitar”, interroga-se outra funcionária dos serviços gerais e que prestou serviços há quase uma década á empresa alemã.  “Isso é triste minha irmã, mas isso é Angola, vamos fazer mais como?”, reforçou.

Para Alfredo, que foi relações públicas da empresa durante algum tempo “Eu é quem tratava dos Vistos por vias de canais próprios montados para o efeito no SME. Os pagamentos eram feitos CASH e em menos de 8 horas eu tinha os vistos emitidos, serviço limpo minha kota”, rematou. “Pena que o meu chefe direto, o Bennó, deu uma bandeira na empresa e nós os dois fomos despedidos”, concluiu.

Verdade seja dita, assim como estamos não vamos á sítio nenhum, há que impor ordem na casa, ou seja no SME, o MAPESS, o Ministério da Construção,  Ministério da Energia e Águas, enfim o Governo através dos Ministérios envolvidos na contratação de tais empresas deverão defender e proteger um pouco mais a nossa gente. Mesmo as empresas públicas que trabalham com empresas que não respeitam os angolanos como o INEA, a EPAL, a própria EDEL etc. deveriam velar melhor pelo cumprimento dos direitos da mão de obra nacional por parte de empresas estrangeiras a actual no mercado nacional.

Se assim procedessem, talvez a filhinha de Paulino ainda vivesse. . .

Bem haja!

Nota: Enquanto fechava este artigo, recebi a informação de última hora, segundo a qual tanto Paulino como seus colegas, num total de cerca de 9 seguranças e não só, acabaram por ser despedidos e estão a fazer diligências no sentido de denunciar os excessos na GAUFF na imprensa falada e escrita. Noticia em atualização.