Vendia missas em todo o Congo Português. Mas os do Negage correram com o padre Vino, por ter fama de mulherengo. Encontrei-o mais tarde, como capelão do colégio do Uíje onde para mal dos meus imensos pecados (sou pecador desde pequenino) fiquei internado dois anos. O padre Vino alertava-nos para o pecado da gula, da carne e dizia-nos que nunca por nunca devíamos cobiçar a mulher alheia. Mas ele fazia tudo ao contrário.

O presidente do MPLA propôs aos seus camaradas de partido para discutirem o método da eleição presidencial. Sufrágio universal ou colégio eleitoral? Numa altura em que os deputados vão ser chamados a fazer uma revisão constitucional, a proposta faz todo o sentido. Antes de prosseguir, tenho de fazer uma declaração de interesse. Nunca na minha vida votei por sufrágio universal. Não consigo imaginar-me a mostrar um cartão a alguém que nem conheço, ir esconder-me num cubículo, fazer uma cruzinha num papel e depois embrulhar aquilo muito bem e meter o papelucho num caixote afamado de urna. Aka! Cheira a funeral que tresanda e os meus amigos e familiares estão avisados: funerais, só vou ao meu, se for mesmo impossível escapulir-me. Sou a favor do voto de cara à mostra, peito aberto e braço no ar. Tudo à vista.

Propor uma discussão ou um debate é um gesto altamente democrático. Mas a Oposição em peso esconjurou o proponente. E logo lhe atribuíram a intenção de ver consagrado na Constituição da República o sistema do colégio eleitoral para a eleição do Presidente da República. Eu acho que os políticos e jornalistas que reagiram, declararam implicitamente o seu acrisolado amor pelo sufrágio universal.

E é aqui que eles se revelaram parecidos com o padre Vino. A UNITA perdeu as eleições e fez uma guerra. Perdeu as segundas e dois meses depois arrasou-as com suspeitas de fraude. Afinal, odeia o sistema, só lhe encontra defeitos e esconjura-o como o padre Vino esconjurava os actos demoníacos nos outros mas que ele próprio praticava. Para os pequenos partidos, o método bem amado também só se presta a vigarices, falsificações, fraudes e outras miudezas. O sistema não presta. Então para os partidos do zero vírgula pouco mais que zero, é mesmo uma calamidade. Então porque o defendem tanto? Mais um mistério dos insondáveis desígnios dos nossos políticos e jornalistas que fazem política. Odeiam o sistema, só dizem mal dele mas, helas, amam-no encarecidamente.

Há quem esteja preocupado com a frustração dos três os quatro auto-proclamados candidatos à Presidência da República e que, pelos vistos, são amantes do sufrágio universal. Eu estou preocupadíssimo com os candidatos que já me manifestaram a sua intenção de se candidatarem, caso a eleição seja através de um colégio eleitoral. Valem tanto estes, como aqueles. E como em democracia não há privilégios nem privilegiados, peço a todos que se juntem a mim na defesa da eleição por braço no ar.

Fonte: JA