Benguela - Interesses inconfessos de alguns membros da Associação dos Naturais e Amigos da Província de Benguela, vulgo Associação Acácias Rubras, terão minado a confiança e colocado em causa a credibilidade desta da prestigiada instituição, que congrega no seu seio o maior leque de intelectuais das terras de Ombaka. Um conclave, que se previa pacífico, acabaria por se transformar num ambiente de «lavagem de roupa suja». No calor da discussão, Francisco Rasgado considerou que a lista única apresentada por Jorge Gabriel, para dirigir a associação nos próximos três anos, «constitui uma “palhaçada”, senão mesmo um golpe palaciano».

*Nelson Sul D'Angola

Fonte: Semanario Angolense

A reunião tinha sido convocada pelo presidente de mesa da Assembleia-Geral da Associação Acácias Rubras, o embaixador Hermínio Escórcio, no passado dia 16, com o propósito de se eleger uma nova direcção desta instituição, tendo em conta o fim de mandato de Luís «Dufa» Rasgado.

 

Previa-se que o conclave decorresse num ambiente ameno e familiar como, aliás, já vinha acontecendo em ocasiões anteriores. Mas, as expectativas acabariam por ser traídas, quando alguns membros da associação decidiram «partir toda a loiça» «em praça pública», com acusações recíprocas entre os membros da direcção cessante e da concorrente, que tem à testa o empresário Jorge Gabriel e como coadjuvantes Adérito Areias e o general Fernando Andrade.

 

Um dos pomos de discórdia, segundo soube o Semanário Angolense, tinha a ver com facto de ter sido apresentada uma lista única de candidatos, a pretexto de que só poderiam concorrer à direcção da referida associação as pessoas que residiam na província de Benguela e não noutras partes do país. Acontece, porém, que a Associação tem a sua sede Luanda, e esse facto consta mesmo dos seus estatutos.

 

Esta imposição, como é obvio, acabou por ser interpretada como uma tentativa de coarctar as pretensões de «Dufa» concorrer a um novo mandato, já que ele que tem residência fixa em Luanda.

 

Daí que alguns dos presentes saíram em defesa do ainda presidente da Associação, nomeadamente o antigo bastonário da Ordem dos Advogados de Angola (OAA), Inglês Pinto, a veterana deputada do MPLA Teresa Cohen, e o jornalista Francisco Rasgado.

 

Teresa Cohen manifestou sua indignação pelo facto de terem coarctado o direito de «Dufa» Rasgado concorrer ao cargo, o que, na sua óptica, seria inconcebível, visto se tratar de um membro fundador da Associação Acácias Rubras.

 

Ela insurgiu-se também contra o facto de não terem sido criadas as condições para que se efectuasse uma votação secreta. Para a deputada da bancada do MPLA, a votação secreta «é um pressuposto que garante a lisura de qualquer processo democrático, sob pena de se incorrer em ilegalidades».

 

Defendeu, por outro lado, que só deviam ter acesso à votação os membros que tivessem as suas quotas pagas, «tal como tipifica os estatutos da associação».

 

Inglês Pinto, por sua vez, apelou os membros integrantes lista de Jorge Gabriel a respeitarem o estatutos da organização. «Precisamos de reflectir seriamente sobre o futuro da associação, mas para tal é preciso consultar as pessoas e definir estratégias».

 

«O meu nome aparece na lista dos honrados mas não fui consultado sobre o assunto: se devia ou não concordar. É necessário que se observem os princípios de coerência e do rigor democrático para não se colocar em causa o espírito e a letra da lei», reforçou o ex-bastonário da OAA.

 

Já Francisco Rasgado foi mais duro na sua intervenção, ao considerar que a medida de restrição de candidatos, sem respaldo nos estatutos. «É uma palhaçada, senão mesmo um golpe palaciano».

 

Consta que «Dufa» Rasgado não apresentou a sua candidatura, visto que ele terá informado por elementos da lista concorrente que apenas podiam fazer-se ao lugar pessoas que residiam em Benguela.

 

«Como é que eu e demais camaradas que vivemos em Luanda iríamos apresentar uma candidatura, se a mensagem que nos foi passada era de que doravante aqueles que não vivem em Benguela não podíamos fazer parte da direcção? Questionou-se indignado o ainda presidente da associação benguelense.

 

Jorge Gabriel alegou que tal situação se deveu a dificuldades de comunicação com o membro «Dufa» Rasgado, uma afirmação que, entretanto, foi prontamente desmentida pelo visado.

 

Apesar disso, Jorge Gabriel diz-se preparado para assumir os destinos da associação e que está à altura dos desafios, a fim de levar à instituição a bom porto.

 

Devido à falta de consenso o presidente em exercício da Assembleia Geral, José Severino, submeteu o assunto a apreciação dos membros presentes da associação, que decidirem pelo adiamento do conclave para o próximo mês, dia 16.