Luanda - Pela primeira vez desde que nos anos 90 e ainda nos tempos do "Correio da Semana" comecei a escrever sobre o 27, este ano decidi não escrever nenhum "editorial" sobre a data, não porque não tivesse mais nada para dizer ou acrescentar sobre o mais triste/terrível/sangrento dossier da nossa história (e da história do MPLA), mas porque o silêncio também fala por si e por vezes até grita. 

Fonte: Morrodamaianga

Acabei por não observar este "blackout" a 100% aqui na rede, pois sempre debitei um ou dois palpites, com destaque para a homenagem prestada ao Carrasquinha (que alguém desconseguiu de estragar), meu companheiro dos anos de cárcere passados em "suites" diferentes mas mesma "rede hoteleira", então gerida pela DISA, nos tempos em que esta "agência" era quem mais mandava (no país), ordenava, torturava, esfolava e matava. 

Os corpos depois foram espalhados por não sei por quantas valas comuns abertas como profundas chagas em todo o país de Cabinda ao Cunene, para onde milhares de angolanos foram atirados como verdadeiros indigentes, sem direito sequer a uma mortalha.

Gostaria de acreditar, quero acreditar, que tudo isto já pertence definitivamente ao passado, mas continuo a ter pesadelos no presente, sobretudo quando ainda oiço pessoas (algumas ditas de bem) dizerem/ escreverem/defenderem que houve excessos dos dois lados (?!!!?). 

É verdadeiramente arrepiante ouvir alguém que sabe muito bem o que passou depois do 27 de Maio de 1977, que é o que me interessa discutir, tentar estabelecer uma tal comparação.

Mas ainda mais arrepiante, é ouvir outras pessoas dizerem/defenderem que voltariam a fazer o mesmo que foi feito, caso o tempo voltasse para trás. 

Tudo isto é dito à mesa de almoçaradas bem regadas com os melhores tintos e brancos de além-mar, onde protagonistas e testemunhas, passam as tardes em amenas cavaqueiras.

Este ano, e para além das cacetadas/violência policial com que os manifestantes foram "agraciados" no Largo da Dipanda (para não variar muito a dieta), o 27 está a ser marcado pelo livro que a jornalista britânica Lara Pawson escreveu sobre a "efeméride", pelo que penso voltar a falar do assunto Maio, depois de ter uma ideia do seu conteúdo