Luanda - Quando terminou a II Guerra Mundial, em 1945, a Humanidade vinha gradualmente conhecer a divisão do mundo em duas partes distintas, no ponto de vista ideológico e politico, assente nos sistemas económicos diferentes. Neste contexto, havia o Bloco do Leste, sob a chefia da União Soviética e o Bloco Ocidental, liderado pelos Estados Unidos da América.


Fonte: http://baolinangua.blogspot.com

A natureza da II Guerra Mundial não tinha nada a ver com a bipolarização do mundo que sucedeu-se no fim da guerra, entre o campo socialista e o campo capitalista. O Adolfo Hitler, o líder da Alemanha-Nazista, que desencadeara a II Guerra Mundial, visava essencialmente a conquista e o domínio do mundo, com fim de impor a superioridade dos descendentes do antigo povo ariano, tido como uma «raça pura».


O arianismo é um preconceito abstracto que habita na subconsciência dos povos europeus, sobretudo das franjas da extrema-direita, que convenceram-se de ser a única espécie humana mais inteligente, com atributos divinos para escravizar e “civilizar” os outros povos do mundo. Mesmo hoje, nas sociedades multirraciais, das antigas colonias europeias, alguns descendentes europeus, nestes países, trazem consigo o complexo de superioridade, de cariz racista, enraizada na estrutura mental, como elemento-catalisador do desdém e da megalomania.


No decurso da II Guerra Mundial, o Ocidente estava dividido entre o fascismo, da extrema-direita, e o liberalismo, inspirado por valores da Revolução Americana (1776) e da Revolução Francesa (1789-1799) buscando a economia livre do mercado. Ao passo que, a União Soviética adoptara o socialismo, resultante da Revolução Russa (1917), sob a ditadura da extrema-esquerda, defendendo a economia centralizada e planificada. A diferença entre a ditadura da extrema-direita ocidental (Adolfo Hitler, Benito Mussolini, Francisco Franco e Oliveira Salazar), e a ditadura da extrema-esquerda oriental (Josef Stalin, Mão Tsé-Tung, Nicolae Ceausecu e Kim Il-Sung) era infinitésima. O que lhes separavam era somente a ideologia. Mas, os actos e a postura eram idênticos.
Portanto, a Aliança que se ergueu entre a Rússia e as potências ocidentais contra Alemanha-Nazista não baseou-se nos valores quaisquer, de índole politica, ideológica ou económica. O único denominador comum que juntou-se as potências mundiais contra a potência fascista alemã foi a barbaridade do Adolfo Hitler cujo comportamento psicopático e megalomaníaco somente era comparável com Alexandre Magno, o Rei da Macedónia, que arrasara a ferro e fogo a Europa do Leste, a Pérsia, a Asia Menor e a India.

 
Alexandre Magno (356 a.C. – 323 a.C.) era de facto um paranóico congénito, acreditava na divindade da sua origem, incutida nele pela sua mãe Olímpias, fanática e semilouca, esposa do Rei Filipe II, um génio organizador de impérios e era altamente corrupto, corruptivo e corruptor. Alexandre Magno, tal como pai dele, sofria de uma psicose excessiva que lhe induzia na volúpia do poder, cujas sinistras campanhas militares devastaram mais terras e infligiam mais sofrimentos e mortes à raça humana do que qualquer outro protagonista da História antiga.


Retrocedo, assim, a Humanidade mil anos. Como não bastasse, Alexandre Magno morreu do excesso do álcool, com 33 anos de idade, sem deixar uma gigantesca estatua que almejava erguer numa montanha, como símbolo da sua grandeza e do seu poder divino para dominar o mundo.
Foi por este motivo, do atentado à vida humana, consubstanciado no holocausto e nos actos de genocídio perpetrados pelos Nazis, na sua cruzada sangrenta e nos campos de extermínios, que despertara a consciência colectiva e unira as sinergias das potências mundiais para enfrentar, de modo decisivo, a máquina de guerra do Adolfo Hitler.


A derrota dos Nazis baseou-se nisso, na ambição desmedida de dominar o mundo com propósito de instalar uma “raça pura”, que passaria necessariamente pela limpeza étnica de outros povos. Este foi o contexto real da II Guerra Mundial que juntou a Rússia às potências ocidentais para ferir golpes mortais ao regime hitleriano, com a tomada de Berlim, que vinha ser dividido em duas partes, com o murro imponente a atravessar o meio da cidade.


Na verdade, as unidades principais que entraram primeiro na Cidade de Berlim, tomaram os dispositivos estratégicos, capturam o Reichstag e o Quartel-General do Hitler, foram as tropas de choque do Exército Russo, apoiadas pela Força Aérea e pela Artilharia pesada de longo alcance. Analisando bem os factos, a derrota decisiva das unidades alemães nos subúrbios de Moscovo, em Abril de 1943, é que quebrou a espinha dorsal do Wehrmacht (forças armadas) e ditou a desintegração gradual do Dritte Reich. Para dizer que, a Rússia desempenhou o papel preponderante na II Guerra-mundial e teve uma posição de destaque nas Cimeiras de Yalta (04.02.1945) e de Potsdam (11.o7.1945) nas quais os termos da partilha do Mundo foram decididos.

 
Este estado de força, de prepotência, induzira a Rússia no erro de pensar que as condições estavam reunidas para ela transformar-se no poder global e superar as potências ocidentais, sem uma liderança bem definida. Não se fez o cálculo apropriado do factor económico como elemento decisivo em qualquer competição de grande vulto, pelo controlo do mundo. Nesta altura, as reivindicações pela liberdade, igualdade, autodeterminação e independências nacionais, estavam no auge.

 
Os EUA era aliado e líder das potencias coloniais europeias, pressionadas pelos nacionalistas. Diante esta realidade, a sua postura era ambígua e controversa. Por um lado, defendia os valores de liberdade conquistada pela revolução americana, que eram sagrados. Por outro lado, tinha que acomodar as sensibilidades das potências europeias que defendiam os seus interesses nas colonias. Nessas circunstâncias, do dualismo politico, a Rússia tinha vantagens enormes para conquistar a simpatia das colonias no sentido de obter acesso fácil aos espaços geoestratégicos, capazes de lhe conferir vantagens na configuração da nova ordem mundial – Pós-Guerra Mundial II.

 
Isso fez com que, a Rússia não hesitasse em se envolver activamente na guerra-fria, com custos imprevisíveis. As deficiências da economia centralizada e planificada, aliada ao sistema político ditatorial, não ofereciam condições favoráveis para a manutenção de uma economia forte e competitiva e com sector privado dinâmico, sustentado por uma classe média ampla e crescente. Por esta razão, ao longo da guerra-fria, a economia russa debilitou-se gradualmente e no fim entrara na falência. Viabilizando o surgimento da perestroika, por Mikhail Gorbatchev, que embocou no colapso do Império Russo.
Enquanto decorria a guerra-fria entre a URSS e as potências ocidentais, a China manteve-se equidistante, e aproveitara desta situação para estruturar sua economia e preparar-se para os grandes desafios do futuro. Terminado a guerra-fria havia expectativa dos EUA emergir-se como única superpotência mundial, capaz de ditar as regras do jogo. Ao espanto de todos, a China surgira a superfície como uma potência vital, com uma economia robusta e em pleno desenvolvimento e crescimento. Inibindo, desta forma, as pretensões dos EUA.


Neste jogo de equilíbrio e da edificação de uma nova ordem mundial, pós-guerra fria, a Rússia alinhou-se com a China na tentativa de tirar dela vantagens para se colocar de novo na dianteira da corrida à supremacia mundial. Os confrontos da Ucrânia, da ocupação e da anexação da Crimeia, lançaram a Rússia no ambiente do isolamento internacional e na aplicação de sanções económicas contra ela. Este procedimento imprudente do Presidente Valdemar Putin não precaveu-se bem das implicações devastadoras sobre a economia russa, que precisava de mais tempo para recuperar-se das sequelas da guerra-fria, no sentido de entrar na disputa pela supremacia regional e mundial em condições económicas, financeiras e tecnológicas seguras.


Como consequência disso, a Rússia foi obrigada a deixar-se cair deliberadamente na dependência económica da China. No dia 21 de Maio de 2014 o Presidente Putin deslocou à Shangai, nas circunstâncias desvantajosas, para assinar o Acordo de fornecimento do Gás da Sibéria à China, no valor de 400 bilhões de dólares norte-americanos, no período de 30 anos. Este acordo comercial foi celebrado sob o pano de fundo de cedências históricas por parte do Kremlin, como exigências de Pequim. Acima disso, a Rússia procedeu a esta manobra para compensar os 32% do Gás que tem sido importado pela União Europeia, a bom preço; agora ameaçado pelas crescentes sanções, e pela busca de alternativas por parte da União Europeia. Este ambiente melindroso, de tensão com o Ocidente, não só coloca a Rússia na inferioridade perante a China, mas sim, aumenta verticalmente as despesas militares delas, reduz as suas manobras geoestratégicas, aumenta a presença da OTAN na Europa do Leste e alivia a pressão do Ocidente sobre a China.


Feita uma avaliação rápida e breve, a China está agora na evidência de assumir-se como concorrente principal dos Estados Unidos da América. Embora tenha que superar enormes fragilidades do seu sistema politico, nomeadamente: O índice elevado da pobreza, a falta da democraticidade, não abertura plena do seu mercado, elitismo partidário, centralização do poder político e uma visão apoiada na cultura confucius, que não se ajusta bem aos valores modernos da universalidade, da liberdade, da igualdade, da diversidade, da integração e da competição. A Rússia, por sua vez, retrocedeu-se significativamente e irá continuar no segundo plano, como Potência Júnior, sob a plena liderança de Pequim.


Logo, a competição actual entre os EUA e a China, como maiores Potências do Mundo, não terá as mesmas características as da Guerra-fria – da bipolarização do mundo em dois sistemas políticos e económicos. Será uma bipolarização no contexto da globalização, em que, as superpotências mundiais não terão a capacidade absoluta de poder vincular os outros Estados do Mundo ao seu sistema político- económico para exercer a hegemonia politica. Dado o facto de que, o centro-de-decisão e da gestão do poder global, está agora sedeado em Nova Iorque, junto do Conselho de Segurança das Nações Unidas, como «mecanismo-moderador» das relações internacionais.


Alem disso, nesta engrenagem, haverá países emergentes com peso económico, científico e tecnológico bastante significativo, capazes de exercer o equilíbrio necessário e inibir a hegemonia politica. Ali estará o papel importante da Rússia e das potências europeias em desempenhar este papel, como «contrapeso», diante as duas maiores potências do Mundo.


Para finalizar, como tem sido sempre, o papel da Africa, nesta dinâmica, da transformação constante do mundo, será periférico. Pois que, não se vislumbra no horizonte temporal o surgimento de uma potência africana com capacidades cientifica, tecnológica, económica e know-how, capaz de competir eficazmente com potencias de outros continentes do Mundo.


Infelizmente, Africa esbanja o seu rendimento nacional em projectos supérfluos, nas orgias de culto de personalidade, nas maratonas alcoólicas, na construção de estádios multicoloridos e iluminados a noite por grupo-geradores; enquanto o povo, ao lado destes monumentos luxuosos improfícuos, vive nos bairros de lata, nas condições de pobreza extrema, sem emprego, sem água potável e sem luz eléctrica.


É triste constatar o facto de que, o Continente Africano não investe a sua riqueza no capital humano, na cidadania, no ensino de qualidade, na formação de quadros de alto nível, nos centros de pesquisa cientifico-tecnológicos, no bem-estar das populações locais, na saúde, e sobretudo, na construção de instituições fortes do Estado. A questão fundamental é que, os africanos não possuem uma Visão do Poder Global, como acontece com os europeus, asiáticos e americanos. Nós, Africanos, de certo modo, contentamo-nos com a inferioridade, a subordinação e a exploração.


Com esta miopia e mediocridade, inerente da mentalidade corrupta da elite política africana, este Continente, com enormes recursos minerais, continuará mantido no estado de inferioridade. Servindo-se somente de fonte principal de matérias-primas para as economias avançadas e industrializadas. Isso explica, em parte, a presença massiva da China no mercado africano.