Luanda - A denúncia feita, na semana passada, pelo reitor da Universidadeprivada Jean Piaget, segundo a qual mais de cem certificados de habilitações literárias falsos têm sido detectados todos os anos naquela instituição académica, não constitui propriamente uma novidade.

Fonte: SA

Em boa verdade, estes números estão muito longe da realidade, por representarem uma gota no vasto oceano de falsificações de todo o tamanho.

Na óptica do reitor Pedro Domingos Peterson, o recurso à falsificação de certificados de habilitações e de outros documentos era resultado dos vários anos de conflito armado que o país viveu situação que terá criado as condições para a vida fácil pela qual optam muitos dos nossos cidadãos.

Admitiu que muitos alunos têm conseguido matricular-se nas distintas universidades com certificados ou documentos falsos, algo que está a ser facilitado pelas novas tecnologias de informação, que lhes permite obter cópias praticamente autênticas do que queiram adulterar.

O responsável académico reconheceu que em decorrência de tais falsificações muitas empresas estariam a receber quadros falsos, ou seja, indivíduos sem uma formação académica verdadeira.

Curiosamente, o reitor da Jean Piaget não revelou qual tem sido o destino que a sua instituição académica vem dando aos indivíduos suspeitos por prática de tais crimes que, à luz da lei penal, como se sabe, são passíveis de prisão.

Na realidade, o recurso à falsificação de certificados de habilitações literárias ou de títulos académicos é tão antiga quanto à existência do país, visto tratar-se de um expediente, ao qual alguns indivíduos lançaram mão, com o objectivo de subirem na vida, sem olhar a meios para atingirem os seus fins.

O início da febre da doutoromania remonta à época que antecedeu a nossa independência nacional, quando, por via dos chamados movimentos de libertação nacional, foram chegando a Angola vários «doutores», um bom número dos quais de formação duvidosa. Vivia-se, na altura, uma espécie de romantismo revolucionário, em que, para se ser doutor, bastava apenas parecê-lo.

Durante o período monolítico, que durou até 1992, tornara-se célebre a Escola Superior do Partido, que muitos a apelidavam de «Universidade do Catambôr», devido às supostas facilidades que ela concedia aos seus alunos, privilegiando mais a militância e fidelidade partidária, em detrimento dos conhecimentos académicos e científicos. Consta mesmo que a recusa de um antigo reitor da nossa universidade pública em conceder equivalência aos estudos feitos nessa «escola superior» com os da instituição académica pública ter-lhe-á custado o cargo.

De facto, não deixa de ser preocupante o recurso à falsificação de documentos para se atingir à doutoromania, como também constitui um sério perigo para o país a atribuição de diplomas de cursos superiores em universidades privadas a indivíduos que não reúnem as condições para o merecer, mas que chegam a obter determinados títulos académicos, por pagarem propinas chorudas. É como se tivessem comprado os diplomatas de forma aparentemente legal.