Luanda - A entrada da Guiné Equatorial na CPLP provocou em Portugal um terramoto de disparates, desvarios de alta intensidade, atitudes de grande cinismo e, como habitualmente, quantidades exageradas de ignorância.

Fonte: JA

Como se esta mistura explosiva não bastasse, os desvairados opositores à adesão ainda acrescentaram o habitual racismo encapotado e comportaram-se como soldados invencíveis da democracia.

Pelo meio, os mais ressabiados ainda aproveitaram para atacar Angola, por ter sido o país patrocinador da adesão da Guiné Equatorial à CPLP. Li coisas espantosas e que ainda me custa acreditar que foram escritas. Ouvi barbaridades delirantes que me põem a duvidar da minha audição. Vi torcionários da democracia em Portugal a clamarem indignadamente contra a falta dela no novo país da comunidade dos países que falam português. Confesso que já esperava tanto dislate, porque sei quanto podem e valem em Portugal figuras que no passado silenciaram as fogueiras da Jamba a troco de diamantes de sangue, marfim e drogas.

Mas também sou forçado a admitir que João Soares, Ana Gomes, António José Seguro ou aquela chusma de comentadores que nas rádios, televisões e jornais ganham chorudas maquias para dizer o que vem à cabeça dos donos, ultrapassaram todas as marcas e todos os limites.

A gritaria teve dois sentidos. A Guiné Equatorial tem a pena de morte e naquele país não se fala a língua portuguesa. Mas o Presidente Obiang assinou um decreto que suspende a pena de morte até ser aprovada a lei que vai abolir essa prática.

Nesse aspecto a Guiné Equatorial já foi mais longe do que os EUA e a Inglaterra. Ainda agora um condenado à morte num Estado norte-americano ficou quase duas horas a estrebuchar porque a injecção letal não fez o “serviço" em dez minutos. Estou à espera do alarido em Lisboa para exigir de Washington que acabe com a barbárie. Se o Presidente Barack Obama não obedecer, os comentadores políticos em Portugal e o núcleo duro que apoia António José Seguro vão expulsar os EUA da OTAN. E mandam encerrar a embaixada em Lisboa.

Vamos à língua portuguesa. Li um artigo interessante de um grande intelectual português de esquerda onde ele escreve que a adesão da Guiné Equatorial à CPLP é o requiem da organização. Mas que exagero! Nesse texto ele escreve Malaysia Ais Lines em vez de escrever Linhas Aéreas da Malásia. Uma distracção imperdoável para quem aparentemente defende com unhas e dentes o português.

Em Portugal os idosos são espoliados das suas reformas e morrem à míngua de alimentos e medicamentos. As crianças morrem à fome. Mais de um milhão de portuguesas e portugueses em idade activa estão no desemprego. A grande maioria nem sequer tem protecção social. Mas que ninguém se atreva a rezar a missa pela morte daquele país, que é parte importante da CPLP. Os outros Estados membros nunca consentirão esse insulto. Todos juntos havemos de fazer regressar à Pátria de Camões, Padre António Vieira, Cavaleiro de Oliveira, Aquilino, Pessoa, Agustina, Sophia ou Ramos Rosa, o espírito do 25 de Abril que fundou o Estado Social e a democracia portuguesa, depois de séculos de colonialismo e décadas de ditadura.

A CPLP nasceu também para promover a língua portuguesa. Quantos mais países aderirem à comunidade, mais forte ela fica. Eu defendo que é mais importante a adesão de Estados que nem sequer falam a Língua Portuguesa. Porque esses vão assumir o compromisso de promover e difundir o português. Não é o caso da Guiné Equatorial. Parte substancial do seu território já pertenceu à Coroa Portuguesa. E na ilha de Ano Bom, vizinha de São Tomé, a população fala crioulo que tem por base o português arcaico. Quanto mais não seja para valorizar e preservar essa jóia, foi importante a adesão daquele país à CPLP.

Estou curioso para saber o que vão dizer e escrever os enraivecidos portugueses de hoje, quando o Japão, a União Indiana, a República Popular da China, Marrocos ou a Geórgia aderirem à CPLP. Espero que nessa altura já lhes tenha passado a fúria racista e a apetência perigosa para o apartheid. Por muito que me custe e lhes custe a eles, o que se passa em Lisboa é mesmo uma onda descontrolada de racismo, perfumada com as flatulências do apartheid.

Os portugueses não têm culpa nenhuma que os seus intelectuais façam figura de ignorantes e políticos do “arco do governo" ainda pensem que “Angola é nossa" e em África ainda há colónias a saque.