Lisboa - Os editoriais do Jornal de Angola - o Pravda que sai da rotativa em Luanda -, são quase sempre um escarro e estão a ganhar a repercussão desejada pelos autores na imprensa portuguesa. A mim, revelam-me, antes de tudo, um qualquer tipo de ressabiamento inexplicável, talvez um velho complexo, embora as críticas e opiniões sejam todas legítimas, independentemente do tom que possam usar. São apenas e só isso mesmo: opiniões. Que no caso do pasquim com o nome de Jornal de Angola servem de caixa de ressonância da voz do dono, já que não existe liberdade de imprensa naquele país. País onde tenho as minhas raízes com uma profundidade de mais de 250 anos pela soma de idades dos meus avós, os meus pais, eu e irmãos e o meu filho, todos lá nascidos e criados, e do qual tenho a nacionalidade de que não abdico, sem contudo dever quaisquer favores ou obrigações seja a quem for do regime lá instalado.

Fonte: Club-k.net

O último episódio surgiu por causa da entrada da Guiné Equatorial na CPLP e da posição incómoda em que Portugal ficou, perceptível pelo silêncio revelador dos representantes portugueses na última cimeira, em Díli.

As raízes linguísticas a que o editorial se refere (1), pelos vistos, estão demasiado fundas e não chegam à população. É que umas das obrigações da Guiné Equatorial (para além da abolição da pena de morte), é a promoção do português como língua mais falada, já que é mais o francês e o castelhano menos que predominam no país. Quanto à questão da pena de morte, argumento que na linha de raciocínio do mesmo editorial, é um tema "muito débil", apresentando o exemplo dos Estados Unidos.

Classificar uma questão como a pena de morte como "muito débil" é, por si só, revelador do pensamento de quem a profere. E se, como acusa o editorial, Portugal não tem nada que andar a dar lições de democracia a ninguém quando tem crianças a morrer de fome, o autor da texto deve achar que a realidade angolana resume-se à baía do Mussulo e que melhor que isso, só os lagos nos Alpes suíços. Basta ver o último relatório «Human Development Report 2014» publicado pela ONU e constatar que de entre 187 nações, Angola volta a cair desta vez para o 149º posto no Ranking do IDH - Índice de Desenvolvimento Humano.

Já não é a primeira vez que o editorial usa a expressão "elites portuguesas ignorantes e corruptas", o que constituiu, igualmente, outra extraordinária ironia semântica. A mesma expressão surgiu em outras ocasiões, mas com o acrescento dos intelectuais. Como se se tratasse de uma entidade abstracta, sem rosto, demoníaca, que ainda hoje subjuga as antigas colónias. A mesma elite que celebra e homenageia as obras literárias de Ondjaki, ou ainda a que permite a pessoas como Rafael Marques publicar livremente o que quer e o que investiga, o que não acontece em Angola onde é permanente vigiado e ferozmente perseguido
Suspeito que o editorial é escrito pelo mesmo jacaré amarelo de sempre, já que a linguagem cavernosa utilizada tem assinatura reconhecida. E como não podia deixar de acontecer de novo, o energúmeno onde não tem onde cair morto e que dá pelo nome de Artur Queirós umas vezes, outras quando se esconde no anonimato é Álvaro Domingos -- português a quem o regime de Eduardo dos Santos paga 11 mil dollars/mês --, e querendo a todo o custo passar por ser mais negro que os negros se calhar com vergonha de ter a pele de colono do Negage, presta-se ao nojento papel de lacaio servil do regime para debitar por escrito umas porcarias escarradas (2), destilando sempre uma linguagem ordinária e panfletária com toda a raiva sobre Portugal, sendo o seu país e a sua pátria de nascimento e de passaporte. Esse é o seu papel, que exerce abnegadamente como um vira-latas da "imprensa" oficial do regime angolano, pois onze mil dollars ele não ganharia em lado nenhum senão ali e para o serviço a que se destina. Apesar de não ter qualquer curso superior e sendo apenas um tarimbeiro da imprensa colonial, este disparatado filho de transmontanos foi contratado pelo regime com a fictícia função de "leccionar aulas" aos jornalistas da casa. Para quem já confessou que nunca estudou jornalismo e agora se apresenta como um formador "certificado" pela União Europeia -- coisa que nunca provou e que se sabe já ser um expediente vigarista para impressionar incautos --, convenhamos que o homem sendo inculto não é porém de todo imbecil, pois descobriu o seu El Dorado. Artur Queirós ou Álvaro Domingos, diz-se licenciado em filosofia na Europa, mas instado várias vezes por diversos jornalistas em Angola, jamais esclareceu em que país ou em que universidade. Um mistério !... Mas alguns asseguram que é formado pela universidade do Catambor. O único facto real é que de filosofia sabe tanto como escrever mandarim.

É este mesmo escroque que escreveu há anos no semanário Expresso [onde foi proibido de publicar fosse o que fosse] depois de ter fugido de Angola em 1977, sobre o “socialismo de sanzala”, em defesa de um dos seus amigos de peito do MPLA-PT, o radical Ndunduma wé Lépi [Francisco Fernando da Costa Andrade de seu nome] que em Luanda foi director do Jornal de Angola mas que tinha caído em desgraça, depois de ter andado a aquecer todos os ferros quentes que havia na sua oficina, e que contribuiu para uma perseguição diabólica e muitos assassinatos com os editoriais incendiários intitulados 'É preciso malhar enquanto o ferro está quente', após o 27 de Maio de 1977.

E é também este mesmo mercenário sem escrúpulos que se vende por um punhado de 11 mil dollars, que há mais de 15 anos disse à jornalista Sílvia Milonga como se de um fato antecipadamente encomendado ele precisasse agora vestir e feito à sua medida: «Em Angola não há jornalismo independente. Existem alguns oportunistas, mal formados e pior educados que são uma espécie de candongueiros da Informação e fazem dos jornais tendas de negócios de ocasião». Agora, na sua tenda do Jornal de Angola, rapa da pena e, certamente esquecido dos tempos em que fervorosamente andava metido com a tendência maoísta do MPLA (a OCA) e tratava os mais alinhados com o bloco soviético (entre os quais José Eduardo dos Santos) como "um bando de pretos matumbos", destila ódio e peçonha para as bandas lusitanas. Tal como refere o meu amigo Zé Paulo Fafe (3), «este safardana é daqueles tipos que merece, ao cruzar-nos com ele, que lhe cuspamos na cara. O problema é que -- como diz alguém que eu conheço -- o bandalho ainda ia aproveitar para fazer a barba...».

Os portugueses podem, e provavelmente nem querem dar lições de democracia a ninguém. Mas Angola, nesse aspecto, tem ainda um longo caminho a percorrer, tão grande como as diferenças sociais existentes. Isto deverá refrescar a memória do autor do editorial (4).

Telmo Vaz Pereira
(artista plástico angolano)

(1) http://www.tvi24.iol.pt/.../jornal-de.../1565745-4071.html
(2) http://jornaldeangola.sapo.ao/.../a_importancia_da_guine...
(3) http://josepaulofafe.blogspot.com.br/.../artur-queiros-el...
(4) http://www.state.gov/documents/organization/204298.pdf