Luanda - O que se segue tem a ver com a pompa e circunstância com que a partir do bairro da Luz foi feita a recente inauguração do Porto Seco do Lobito, na província de Benguela, pelo Presidente da República, senhor Eng.o José Eduardo dos Santos, porém, infelizmente sobretudo tudo leva a crer que Sua Exa., fez essa inauguração na sua qualidade de presidente do MPLA, tal como nos relata um cidadão angolano devidamente identificado e que presenciou in loco o respectivo acto de inauguração no pretérito dia 21 de Agosto de 2014: “Fui ao aeroporto de Catumbela para receber o Presidente da Republica. Mas afinal não era o Presidente da Republica a visitar a Província, é o Presidente do MPLA. E ai tive de sair porque só havia OMA e JMPLA para receber o seu Presidente. Mas então o Presidente de Angola não deveria ser recebido por toda população?” Lamentava nas redes sociais esse nosso insigne compatriota.

Fonte: Club-k.net

Visando exclusivamente ao armazenamento do cobre explorado no Katanga e Zâmbia esse megalómano projecto do governo de Angola agora inaugurado, rigorosamente nada tem a ver com o fomento agrícola e comercial de Angola, tão pouco com os reais interesses da população lobitanga e benguelense no geral que é necessário garantir. As pessoas em Angola, Benguela e Lobito passampresentemente por uma penúria alimentar jamais vistas e fome e o cobre do Katanga em transito para o exterior só serve o interesse de quem governa e não mata a fome de milhões de famílias angalanas empobrecidas e famintas. Essa política de inaugurações de Coisas sem valor, sacrifica sobremaneira, os interesses das populações pobres de Angola do hinterland, que em Angola e em Benguela, tinham garantido no complexo agrícola e industrial do vale Cavaco, na açucareira da Catumbela, nas plantações da cana-de-açúcar de S. Miguel, aeroporto do Lobito, posto de trabalhos, emprego, segurança alimentar e social, prosperidade e sustento de suas famílias.

 

O Porto Seco do lobito ora inaugurado, mesmo se ligado ao Caminho de Ferro de Benguela, um empreendimento económico de vulto, ocupando vastíssima área residencial e agrícola na cidade do Lobito, no futuro não vai garantir qualidade de vida aos munícipes e jamais poderá ser útil a todos porque situado na zona interurbana vai contribuir para uma maior degradação do meio ambiente. O lobito não é só uma grande cidade dos géneros ricos, mas cidade dos géneros que a agricultura tira do úbere da terra e a pesca de seu mar com o suor de suas devotadas gentes e mercado dos géneros pobres, que sustentam milhares de famintos e produzem para a economia nacional angolana alguns milhares de dólares. Hodiernamente a eficácia de governo somente é possível com a participação dos governados na elaboração, gestão e avaliação das agendas das políticas públicas. Esta premissa conduz ao reconhecimento de legitimidade de palavra a actores sociais exteriores ao círculo do poder. Só assim poderemos falar de governo democrático. Com efeito, o Caminho-de-ferro de Benguela ao longo do qual fica o Porto Seco do Lobito, foi desde a sua fundação até 1975 (2002-1975), gerador de sociabilidade.

 

O seu advento facilitou o surgimento da vida pública: transportes públicos, lugares públicos, acessos públicos, edifícios públicos, empreendimentos agro-pecuários e, industriais, intercâmbios culturais, progresso, estabilidade económica e social, etc. Porém, no período pós independência de Angola, para além das terríveis e nefastas consequências das acções da guerra civil em Angola, o governo do MPLA-JES, destruiu o vale do Cavaco: o planeamento urbano, o desenho dos edifícios, a utilização dos espaços públicos ao longo do C.F.B., as cinturas verdes das cidades de Benguela, Catumbela e Lobito, para além de degradadas, e ao longos dos nefastos, e tenebrosos anos de governação do MPLA e do PR. José Eduardo dos Santos, essas áreas cultiváveis, outrora agro- pecuárias e produtivas foram relegadas ao olvido, transformadas em Campos de Reeducação e completamente disfuncionais e grotescas.

 

A título de exemplo: Por que razão o governo do PR. JES destruiu a Companhia açucareira do Cassequel na Catumbela, o aeroporto do lobito e cintura verde desta mesma cidade? Porque é que o parque industrial do Lobito, Catumbela e Benguela continuam obsoletos e inactivos? Até que ponto o aeroporto militar da Catumbela é do interesse público e concorre para a melhoria de vida das populações civis de Benguela, Catumbela e Lobito? O que é prioritário e mais útil para as pessoas todas da província? Para quando a reconstrução e desenvolvimento das actividades agro-pecuárias, parque industrial, saúde, educação, transportes rodoviários e ferroviários ou ficamos simplesmente pela política de construção de Portos Secos e inauguração de bombas de combustíveis e quinquilharias pelo país adentro? Porquê alterar o funcionamento de uma cidade inteira para inaugurar um Porto Seco, um restaurante, uma ponte ou uma oficina qualquer de automóveis? A consideração prudente é tão-somente salvar o MPLA dos eternos inimigos que ele ciclicamente gera, fingido governar para as gerações vindouras? Qual é o pano de fundo intelectual para as preferências destes Programas do Governo no pós fim da guerra civil em Angola? Como seria possível auxiliar os trabalhadores do país e da província de Benguela em particular, e as suas famílias para que todos vivessem decentemente sem danificar o tecido social, a indústria e o ecossistema que pode e lhes dava já os meios de subsistência?

 

Ante uma catástrofe social em curso e jamais visto em Angola, porque o governo do PR. JES e do MPLA, julga, conseguir com êxito distrair todas as pessoas com inaugurações de fachada a exemplo de um Porto Seco do Lobito, quando falta na maior parte das residências e moradias dos cidadãos angolanos água potável, energia eléctrica, saneamento básico e dinheiros públicos para subsidiar as pessoas? Renovar a atenção para o que se passa diante dos nossos narizes precisa-se. Sem dúvida, o caminho-de-ferro de Benguela (C.F.B.), deve sofrer grandes melhorias de que bem precisa. Porém, na cidade portuária do Lobito, sem planificação, um número grande de conglomerados habitacionais continua a crescer, com carácter precário, constituído por casebres de adobes, abarracados, que

 

aparecem dum lado e outro da via-férrea, mas que para o Governo do MPLA e de José Eduardo dos Santos, coisa insignificante, quiçá, mal menor! Mas quantos prejuízos e desilusões, isso tem custado às populações e aos governados de Angola? O vale de Cavaco no planalto de Benguela tem melhores terras para a agricultura, mas no Lobito as pessoas continuam a padecer de fome e de terrenos para as lavouras. Pois muito bem. Agora Benguela precisa de importar tudo. Com a invasão e política dos serigaitas já não há agricultura e os autóctones são forçados a abandonar as suas propriedades rústicas porque uma horda de garimpeiros destruiu por completo o que lá havia. Muitos governantes de Angola não pensam em quantas fadigas e lutas representou aquilo que destruíram e encontraram feito e, muitíssimo bem feito. O caminho-de-ferro de Benguela (C.F.B), aliás, o caminho-de-ferro pode concorrer, inegavelmente para o progresso da província e de Angola, mas também pode ser um desastre imenso ou um desengano gravíssimo, se não se tomarem todas as providências que a ciência da higiene aconselham e as numerosíssimas lições do passado recente patenteiam a quem as quer ver.

 

Não deve cuidar-se apenas da parte política e material do C.F.B., urge salvaguardar o lado humano do problema, enlaçando e completando as informações que se têm obtido em diversas épocas e domínios do saber científico. E, sobretudo, no que deve haver grande cuidado é em estudar as condições de vida das populações, a natureza das produções das terras, usos, costumes, cultura e relações mais ou menos intimas que os governantes devem ter com os governados, autóctones e as pessoas ali estabelecidas há muitos anos. Sobre a democracia, a Good Governance, gestão transparente da coisa pública e o futuro das nações, o prémio Nobel de Economia (1993), juntamente com Robert Fogel, Douglass Cecil North (1990, p. VII), apud MARQUES & BORGES (2008, p. 13), e, que traduzimos a partir do original, em língua inglesa afirma o seguinte: History matters. It matters not just because we can learn from the past, but because the presente and the future are connected to the past by the continuity of a society`s institutions. (...) And the past can only be made intelligible as a story o institutional evolution.”

 

Consideramos, portanto, que a História é importante não apenas porque podemos aprender com o passado, mas também porque o presente e o futuro estão ligados ao passado através da continuidade das instituições, e porque o pretérito só é inteligível enquanto história da evolução das instituições. O governo do MPLA- JES, será sempre impopular, ignorante e falhado no tempo e espaço, se não souber aplicar a prática da boa governação (Good Governance), assente no diálogo permanente com as pessoas todas, com os governados, e aplicar as lições que as sociedades democráticas do mundo civilizado estão a dar para ganhar novos elementos de vida governativa...

 

E saber aproveitar os benefícios da democracia, evitar as apetências do poder e, transformar Angola segundo os modernos processos de transparência e boa governação – deve ser a patriótica missão da geração moderna, o supremo cuidado dos governos, a glória de todo o país... Só que ainda não é o caso do nosso país, onde embora se tenha declarado um “ Estado democrático de direito”, para usar a expressão constitucional, ainda não foi possível, mesmo depois do fim da guerra civil, integrar o poder político refractário na ordem constitucional.