Luanda - Os grupos de pressão e activistas da oposição no país pedem a presença dos “autores morais” dos assassinatos de Alves Kamulingue e Isaías Cassule no tribunal, onde já estão em julgamento os oito acusados da execução do crime, numa audiência que teve início na segunda-feira, 01.

Fonte: Rede Angola

Entre os réus estão presentes António Vieira Lopes, Paulo Mota, José Fragoso, Manuel Miranda, Luís Miranda, Edivaldo Gustavo, Júlio Maurício e Francisco Pimentel Daniel todos são agentes do Serviço de Informação e Segurança do Estado (SINSE), notando-se a ausência de Benilson Pereira da Silva “Tukayano”, a pessoa que, segundo os activistas, teria atraído um dos activistas para a emboscada que culminou no seu rapto e morte em 2012.

A ausência de algumas peças fundamentais para o julgamento está a provocar inquietação entre os membros da sociedade civil e aos actores políticos. Em declaração ao Rede Angola, o activista Banza Hanza mostrou-se céptico quanto ao julgamento pelo facto do agente do SINSE conhecido como “Tukayano” não estar no tribunal.

“O Benilson Pereira da Silva, o Tukayano, é uma peça fundamental nesse processo. Circularam fotos dele recentemente nas quais ele está bem feliz da vida, o que mostra que ele foi bem gratificado”, afirmou Banza.

Para o activista, o julgamento é apenas uma simulação da justiça angolana. De acordo com Banza a mediatização do caso Kamulingue e Cassule obrigou o governo angolano levar ao tribunal os supostos criminosos, visto que há muitos casos nunca esclarecidos, como as mortes de Nfulumpinga Lando Victor e Alberto Chakussanga e outros crimes contra os críticos do Executivo.

“Estas coisas todas são encenações. Não tenho grande expectativas porque o julgamento tem abandonado peças, os autores morais, o Sebastião Martins já não se fala mais, o Bento Bento onde estão? Nós temos que sentir que se está a fazer justiça, que há aquela vontade de esclarecer as coisas e fazer a justiça e dar uma lição para que aquelas coisas não se repitam”, disse.

Por sua vez, para o porta-voz da Frente Nacional para Libertação de Angola (FNLA), Ndonda Zinga, a justiça angolana deve deixar de ser simulada. Para o político, os autores morais do caso devem ser responsabilizados pelo crime que cometeram.

“Deve se punir severamente e rigorosamente os culpados, independentemente das suas posições na sociedade, porque devemos saber que houve autores materiais. Houve mandantes que também devem ser responsabilizados. E o tribunal não pode agir por compaixão para com as pessoas porque têm cargo no Estado. O cargo no Estado não lhes permite e não lhes dá o direito de tirar a vidas das pessoas”, apelou Ndonda Zinga.

Em declaração à Voz da América, o advogado dos familiares de Cassule e Kamulingue, David Mendes, assegurou que o julgamento está no bom caminho.

“Estamos no início da sessão. Vê-se que os factos são claros, houve homicídios. Acho que a questão vai ficar mais simples do que esperávamos”, disse David Mendes.

Os activistas Alves Kamulingue e Isaías Cassule foram raptados na via pública, em Luanda, nos dias 27 e 29 de maio de 2012, quando tentavam realizar uma manifestação de veteranos e desmobilizados contra o regime do Presidente José Eduardo dos Santos.

Em comunicado de Dezembro do ano passado, a Procuradoria-Geral da República anunciou que os dois ex-militares terão sido assassinados por agentes da Polícia Nacional e da Segurança do Estado.