Luanda - Ao analisar o processo, em vias de julgamento, relativo às transferências bancárias ilícitas de dinheiro do Banco Nacional de Angola, um pormenor salta à vista: a maioria dos réus investiu o dinheiro em bens de luxo, onde as viaturas de alta cilindrada assumiram a dianteira.

*Mariano Brás
Fonte: A Capital

A cega paixão pelo luxo

Quando, no próximo dia 02 de Outubro, começar o julgamento dos implicados no mediático caso de transferências financeiras avultadas de valores subtraídos ilegalmente do Banco Nacional de Angola (BNA), um pormenor saltará à vista: um grande número dos acusados, entre os quais gente que ostenta nomes sonantes de pessoas próximas do poder político, não estarão sentados no banco dos réus.

São, por exemplo, os casos de Adelino Dias dos Santos, que é primo do actual presidente da Assembleia Nacional e de um outro Dos Santos, que não é parente do primeiro, mas que é filho do actual governador da província de Malanje. Ambos encontram-se no exterior do país, muito provavelmente na Inglaterra, para onde seguiram mesmo depois de haver uma interdição de saída para os réus do processo conhecido como caso BNA.

Segundo apurou, agora, este semanário, a saída de ambos foi justificada com a necessidade de tratamento médico no exterior do país, pelo que deverão ser julgados à revelia, fazendo-se, entretanto, representar no tribunal pelos advogados Sérgio Raimundo, no caso de Eduardo dos Santos, filho do governador de Malange, e Mbiavanga Rogério, para Adelino Dias dos Santos.

Já no passado dia 16 de Setembro, data em que teria início o julgamento, a sessão, todavia interrompida e transferida para o próximo dia 02 de Outubro, ficou marcada com a ausência da maioria dos réus ou, pelo menos, daqueles sobre os quais recaía uma maior atenção. Esses, fugiram para parte incerta depois de saírem em liberdade condicional.

Assim, o julgamento do caso das transferências ilícitas vai mesmo iniciar, mas com a ausência de sete réus. Além de Adelino Dias dos Santos e de Eduardo dos Santos, serão julgados à revelia os réus José Augusto Manuel (mais conhecido como Zé do Pau Grande), conhecido como falsificador de documentos, operando no município do Cazenga. Na mesma condição estão Pinto Costa Cambamba, antigo estafeta do Ministério das Finanças.

Francisco Nhanga Meio de Carvalho, este oficial da Polícia Nacional que evaporou desde que se deu a fraude, e José Kiala são, também tidos como prófugos da Justiça, numa condição em que ainda se encontram Raul Eduardo António Francisco e Joaquim Feliciano Ribeiro.

O processo em julgamento diz respeito a transferências ilícitas para contas bancárias no exterior do país na ordem dos 159 milhões de dólares norte-americamos. Desse valor, conforme consta do processo em tribunal, o Estado angolano conseguiu recuperar pelo menos 98 milhões de dólares, restando, ainda, uma boa parte dividida em propriedade e outra cujo rasto parece ter sido definitivamente perdido.

“Meu” rico dinheirinho

Grande parte do dinheiro obtido, ilegalmente, pelos réus foi, desde já, aplicado em bens de luxo, como viaturas, preferencialmente, e noutros casos terrenos e vivendas. O foragido Eduardo dos Santos, por exemplo, beneficiou da trama de um valor de certo modo elevado, transferido para uma conta em seu nome domiciliada no Banco Espírito Santos Angola (BESA), tendo-os aplicado na compra de viaturas de alta cilindrada, como um Ferrari Califórnia, avaliado em 360 mil dólares. Em posse deste cidadão foi ainda apreendido uma Mercedes ML, avaliada em 155 mil dólares, e uma outra BMW X5, cujo valor actual é estimado em 55 mil dólares.

O médico nuclear Adelino Dias dos Santos, que é citado como tendo beneficiado de três milhões de dólares, transferidos para uma conta por si detida no Banco Angolano de Investimento (BAI), conseguiu, posteriormente, eliminar o rasto do dinheiro recebido. Em sua posse, apesar de confirmada a transferência, foi apenas encontrada a quantia de 11 mil dólares e outros bens menores, como sejam computadores e telemóveis.

Um desconhecido que atende pelo nome de José Joaquim (mais conhecido como Zé Black) foi, entre o grupo dos réus, daqueles que mais beneficiaram com a trama. Para as suas contas bancárias foram depositadas nada menos que 9 milhões de dólares, que ele procurou logo gastar, comprando tudo quanto podia colocar a mão. Comprou duas casas avaliadas, cada uma, em 200 mil dólares, e uma terceira muito mais cara no condomínio Ginga Isabel. Em Viana, comprou vários lotes de terreno, tendo feito o mesmo na província da Huíla, onde aplicou 508 mil dólares na compra de um pequeno edifício. Depois seguiu para o Cunene onde comprou vários terrenos.

Como o dinheiro parecia nunca mais acabar, deixou os terrenos e passou a comprar viaturas de luxo, do género Audi Q7, avaliada em 90 mil dólares, comprada por este mesmo valor das mãos do futebolista Manucho Gonçalves. Comprou, ainda, uma viatura Nissan Infinity, outra BMW X6, ambos no valor de 110 mil dólares, uma Lexus avaliada em 160 mil dólares, além de uma Land Cruizer V8 que lhe custou uma centena de milhares de dólares. Além de uma modesta Toyota Hiace, o cidadão comprou, também, três camiões basculantes de marca Kamaz e outros bens não especificados.

O réu Domingos Serafim, que ficou com alguns valores avultados, investiu numa viatura Toyota Land Cruiser V8, no valor de 85 mil dólares que a ofereceu à igreja Universal do Reino de Deus. Todavia, um acidente fez com que, dias depois da oferta, a viatura ficasse sem qualquer hipótese de concerto. Foi gastando o dinheiro, comprando, sobretudo, automóveis de luxo como Lexus, Mercedes Benz e uma residência no bairro Cassenda, ao ponto de, quando foi detido, ter restado apenas com 2 mil e 600 dólares.

Márcio de Jesus Leitão Matias com o dinheiro que ganhou de forma irregular adquiriu uma residência no Condomínio Cuchi, localizada no Bairro Talatona, Município da Samba, pelo valor de 300 mil dólares, outra residência no condomínio Rei Katyavala, um apartamento no Maculusso, orçado em 900 mil dólares, do qual pagou apenas 540 mil mediante transferência da sua conta para a do proprietário do condomínio.

Mas comprou, ainda, viaturas como Mercedes Benz, Jeep e uma BMW X5.

Com os mais de dois milhões dólares norte-americano que recebeu, o réu Eliseu Diogo da Costa Afonso, sem fugir a regra aos demais, apostou na compra de viaturas de luxo, sendo um BMW X6, por 130 mil dólares, um Mercedes Benz AMG, uma viatura Mitsubishi Pagero, uma Moto de marca Yamaha, modelo XT 66, DX, X3L Italy. Diogo Afonso, ofereceu, ao seu pai, 30 mil dólares, à sua esposa 45 mil dólares e à sua mãe 71 mil dólares.


Outras acusações


Maria Nascimento 40.000,00 usd

Marília Domingos 20.000,00 usd;

Cláudia José 30.000,00 usd;

Lourenço Fernandes 35.000,00 usd;

Mateus Mussungo 70.000.00usd;

An Liang 30.000,00 usd;

Rosalina Nascimento 42.000,00usd;

Eduardo Nascimento 40.000,00usd;

Vladmir de Carvalho 76.000,00usd;

António Azevedo 30.000,00usd;

António Neto 400.000,00 USD

Lourenço dos Santos 2.100.000,00usd

Laurinda Leitão 1.605.000,00,usd

Moisés Mayer Afonso 365.000,00usd

Manuel Martins “Safardão” 100.000,00usd.