Luanda - A notícia da concretização da parceria entre a Taag e a Emirates acabou por ofuscar de algum modo a outra que já estava a provocar os seus inevitáveis estragos e que tem a ver com o aumento do preço dos combustíveis.

Fonte: O Pais

A semana está assim a ser marcada por estes dois factos bastante “calientes”, que ao que tudo indica vão fazer questão de manter-se no topo  da actualidade nos próximos dias.

Para a maior parte dos angolanos o enlace da Taag/Emirates foi uma verdadeira “bomba” pois acreditamos que terá sido com a maior surpresa que receberam o anuncio desta “fusão”.

Num país onde o Governo faz questão de permanentemente “cantar de galo”, efectivamente poucos terão sido os angolanos, fora dos meios relacionados com o negócio em causa, que não foram surpreendidos com este desenvolvimento.

De facto esta “entrega” da gestão da companhia de bandeira a uma empresa estrangeira nos termos em que a parceria foi estabelecida com a Emirates, não é bem um procedimento normal no “modus operandi” oficial.

Algo de muito mais “complicado” terá, certamente, aconselhado o Governo a ceder parte da sua soberania sobre a Taag, uma companhia técnicamente falida, que só se tem aguentado no ar devido exactamente as fortes injecções financeiras que recebe do Tesouro.

De outra forma há muito que já teríamos a Taag no cantinho das “erebimbes e da egrosbais”, onde jaz também a Angonave, que já foi ao nível da África sub-sahariana uma das companhias de shipping que mais navios próprios de longo curso teve nos seus activos.

A Taag só não conheceu o mesmo caminho da desgraçada Angonave, por razões que me parecem óbvias, no âmbito de outras prioridades mais estratégicas, que lamentavelmente não foram tidas em conta, quando se permitiu que a marítima de bandeira se começasse a afundar lentamente.

Navio arrestado após navio, foi doloroso ver a empresa desaparecer, para quem como nós acompanhara de perto a ascensão da Angonave na época dourada em que se embarcavam as “sucatas” em Roterdão, ao preço de uma grade de cerveja importada vendida no paralelo.

No caso da pareceria que o Governo estabeleceu com a globalizada Emirates, tendo a Taag como a “benfeciária” directa desta intervenção revitalizadora, o projecto parece ser mais abrangente, envolvendo já a gestão do futuro Aeroporto Internacional que está a ser edificado em Bom Jesus.

Entre as poucas pessoas que não foi surpreendida com a “bomba” da Emirates eu fui, certamente, uma delas, pois desde o ano passado que oiço falar de intensas movimentações de bastidores em torno desta operação que acaba de se concretizar.

Em Julho do ano passado e ainda receoso de poder vir a ser traído pelas minhas fontes, escrevi no caderno de notas que partilho com milhares de pessoas no facebook, um post algo cabalístico onde começava  por destacar o segredo da justiça, adiantando que qualquer dia ainda vamos ter todos o “bizneiros” deste país, entre públicos e privados, a reclamarem o mesmo estatuto para a sua actividade, considerando que o “segredo é a alma do negócio”.

Nesta conformidade e a ser aprovado o principio, teríamos depois os “bizneiros” deste país e os diligentes magistrados do MP a perseguirem e a processarem os jornalistas por quebra do “segredo da yúla”.

Este post, referia ainda, foi-me inspirado por uma informação sobre um negócio das arábias a que tive acesso, ao “abrigo” da qual algures numa monarquia do Golfo Pérsico uma parte do património angolano estaria a ser negociado.

Pelo que também apurei na ocasião o negócio inicialmente terá sido abortado por divergências várias, resultantes  dos inevitáveis choques de interesses, mas ao que tudo indica as dificuldades foram ultrapassadas a contento das partes visíveis e invisíveis, com estas últimas a ditarem as regras do jogo, cujo prémio ainda é desconhecido, assim como são todas as questões financeiras anexas ao projecto.

Mais uma vez o “segredo” a fazer o seu desfile por estas bandas.

Vamos ter então, a partir de agora, a nossa velhinha Taag a tentar voar com as asas experimentadas da Emirates, um projecto que se tem revelado um grande sucesso comercial a nível mundial, com a companhia de bandeira do Dubai a fazer inveja aos “mais velhos” do sector e a dar um grande bigode aos concorrentes em matéria de preços competitivos.

Viajei muito recentemente na Emirates por quatro continentes do mundo, tendo já partilhado aqui algumas das minhas impressões, bastante positivas por sinal, desta meia volta ao mundo a bordo da companhia do Dubai.

Estas impressões não são, contudo, suficientes para contagiarem a minha apreciação sobre o próximo voo mais rasteiro da Emirates em território angolano, onde as turbulências lá de cima acabam por ser uma brincadeira comparadas com as que se verificam por aqui na nossa terra, quando os vários gabinetes e os seus respectivos titulares entram em acção.

Não há radar que consiga prever o próximo temporal, pois no principio tudo começa muito bem.

Ainda ninguém sabe, pois, o que vem a seguir com este voo da Emirates levando a Taag a bordo.

Até agora todas as tentativas de reestruturar/refundar a companhia angolana, transformando-a numa verdadeira empresa comercial de aviação civil, não têm surtido grande efeito, mantendo-se por conseguinte a mesma longe de alguns padrões de qualidade/operacionalidade que são fundamentais neste negócio de transportar passageiros e carga pelos ares.

Em poucas palavras, o grande desafio da Taag é deixar de ser um departamento governamental para ser uma empresa comercial, num país onde os limites do Executivo, que é o dono da companhia de bandeira, são praticamente inexistentes.

Conseguirá a Emirates colocar um travão nesta “dinâmica”, que já tem barbas brancas?

Sinceramente, não sei.