Luanda - António Francisco, inspector-chefe da DPIC, está a ser acusado, tanto pelos familiares quanto pelos amigos da vítima, de ter mandado o seu filho disferir um tiro ao jovem que em vida respondeu pelo nome de Manuel Lourenço. O facto ocorreu no bairro Grafanil, zona do Capolo II, no último Sábado. A população daquele bairro está revoltada, não apenas por este facto, mas também pelos constantes abuso de poder por parte daquele oficial.

Fonte: O Pais
Efectivos da policia.jpg - 64.23 KBApesar de se depararem com várias versões do ocorrido, os familiares e amigos do jovem Manuel Lourenço, de 19 anos, acreditam que a sua morte tenha sido ordenada pelo inspector-chefe da DPIC (Direcção Provincial de Investigação Criminal) do Cacuaco, mesmo sem a vítima lhe ter dado motivos para tal, uma vez que, alegam, era um indivíduo que “não arranjava problemas”.

“Uma das versões que temos é que, na tal festa, houve tiroteio e enquanto os amigos do meu filho fugiram por um lado, ele fugiu para o outro. Foi apanhado, deram-lhe pontapés, um tiro do coração e atiraram o seu corpo no lixo”, conta Mateus Lima, o pai da vítima.

O disparo que apontam ter sido feito pelo cidadão identificado por Osvaldo Francisco, filho do supracitado inspector, não provocou a morte imediata daquele jovem, mas a população não teve como o ajudar. Por ter perdido muito sangue, uma vez que tinha sido muito espancado, não aguentou mais tempo.

Morto e atirado numa vala que se encontra próximo ao mercado da Rua da Guarita, o grupo que o agrediu, que era alegadamente liderado por Osvaldo Francisco, um militar da UGP (Unidade de Guarda Presidencial), teria colocado ao lado do corpo da vítima grandes quantidades de estupefacientes, segundo nos contam os familiares.

“Diz-se que a pistola (Makarov) é do pai, estava no carro, o filho usou-a e voltou a colocar no lugar em que encontrou. Isto tudo é uma coisa ‘cozinhada’, não se acredita. Puseram liamba à volta do corpo do meu filho para o acusarem de traficante. Um menino educado, comportado e estudioso (estava a fazer a 12ª classe)”, lamentou o pai, que tentava conter as lágrimas.

Segundo informações obtidas no local do crime, o pai do jovem acusado de ter feito o disparo teria aparecido minutos depois e ameaçado os que presenciaram o homicídio, alegando que quem abrisse a boca acabaria do mesmo jeito que acabou Manuel.

‘Quase seria morto também’

Tão logo recebeu a notícia de que o seu sobrinho tinha sido morto, José Mendes, de 33 anos, deslocou-se ao local para constatar a verdade. Para a sua surpresa, mesmo depois da triste notícia, foi recebido com uma carga de surra, pelo mesmo grupo que agrediu Manuel.

“O pai do jovem queria matar-me também, aliás fez dois tiros contra mim, não fosse a minha prima intervir… Com a ajuda dos outros membros do grupo do filho dele, me bateram também”, disse ele que quando entrevistado ainda mostrava sinais da alegada agressão no braço direito.

O pai do jovem Manuel acredita que quem matou o seu filho é “o próprio inspector-chefe e não o filho deste”, pois quando a polícia apareceu para remover o corpo, prendeu-o, mas “por ser inspector-chefe e ter influência, preferiu colocar o filho no seu lugar, para depois tirá-lo da cadeia”.

Na 48ª esquadra, conta, o filho do inspector assumiu a autoria do crime. Osvaldo Francisco, diz-se no bairro, é polícia da UGP, já uma vez foi expulso daquela corporação e ficou preso durante muito tempo no Bentiaba, acusado de ter falsificado documentos que lhe permitissem andar armado, segundo informações dadas pelos familiares da vítima.

‘Eles foram orientados a nos matar’

Segundo um amigo da vítima, que se identificou como Domingos – um dos jovens que também sofreu agressão, inclusive está gravemente ferido, uma vez que o seu corpo ainda reflecte os golpes com catana e cacos de garrafa – os jovens organizadores da rave foram orientados, por aquele que chamou de “mano FAA”, a matar os elementos do seu grupo.

Os porteiros estavam todos armados na altura em que o grupo daquele jovem queria entrar na festa sem convite. Sem dizer ao certo o que terá levado o porteiro a se desentender com o seu amigo, Domingos conta que passados poucos minutos o porteiro fez disparos contra o seu amigo, não o atingindo, porém.

“Nós tentamos intervir, o nosso amigo começou a atirar garrafas dentro da festa, e quando os porteiros saíram agarraram logo eu. Começaram a me bater e queriam me levar à casa do FAA. O Manú (Manuel Lourenço) e os outros intervieram e eu consegui fugir. Posto em casa vieram me dizer que mataram o Manú”, conta.

Não se sabe o paradeiro do jovem que se desentendeu primeiramente com o porteiro, mas, segundo o nosso entrevistado, o desentendimento não constitui facto suficiente para que o porteiro tivesse o direito de matar o seu companheiro. “Nós estávamos a andar 5 e o grupo que organizou a festa já dizia que iam matar um dos elementos do nosso grupo. O mano FAA é do grupo que organizou a festa”, sublinhou.

A raiva surgiu dos panfletos

As ameaças de morte surgiram devido ao facto de algumas vezes ter havido desentendimento entre os dois grupos, relativamente ao modo e local de colocação dos panfletos das festas. Um grupo colava o seu panfleto (cartaz publicitário) por cima de um outro cartaz – sem antes a festa ter vencido. “Sempre que os ‘Aranhas’ colavam panfletos, eles (os Não Trabalham e Vestem Bem) colavam o deles por cima. Nós somos os Mini- Aranha, apenas acompanhávamos a discussão e não temos nada a ver com isso”, conta Domingos.

Gilberto Bartolomeu, de 19 anos, também amigo da vítima, contou a mesma história que a de Domingos, acrescentando apenas que depois daquela confusão “fugi para a direita e o Manú foi pela esquerda. Apanharam o Manú e lhe deram um tiro”, disse ele, que também sublinhou nunca terem tido conflitos com aquele grupo, a não ser aquele dos panfletos.

“Eles mesmo só queriam matar um de nós e não paravam de falar isso. Quando tem festa o pai do organizador dá sempre armas nos porteiros. Aqui já apareceram grandes músicos e nunca vimos os porteiros armados, mas quando é festa daquele grupo há sempre armamento” disse.

Filho do inspector assume a autoria do crime

Segundo informações obtidas junto da polícia, o filho do inspector-chefe, Osvaldo Francisco, que neste momento se encontra preso na 48ª esquadra da Divisão de Viana, assumiu a autoria do crime, aquando da abertura do processo-crime.

O nosso jornal tentou contactar o inspector-chefe, que neste caso está a ser acusado de mandatar o crime, mas não tivemos sucesso. Por outro lado, o inspector desapareceu do bairro e abandonou a sua residência. Entretanto, tomamos conhecimento de que depois de terem realizado o funeral do jovem Manuel, os vizinhos e amigos deste invadiram a casa do inspector e destruíram toda mobília.

“A população está frustrada e nem os mais de 50 efectivos que mandaram no local conseguiram conter todo o mundo. Não é aconselhável que o inspector apareça no bairro porque senão será pior para ele”, disse a nossa fonte.