Lisboa - O Ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança da Presidência da República, general Manuel Hélder Vieira Dias Júnior “Kopelipa”, reuniu-se com os principais responsáveis pelo assassinato do activista Alves Kamulingue, precisamente um dia antes do crime ter acontecido, assim descreve, uma competente “assessement”, indicando que este é o único dado que não consta na instrução do processo da PGR por considerarem “segredo de Estado”.
Fonte: Club-k.net
Casa Militar sabia de tudo
Ao tomar conhecimento sobre a alegada pretensão de se realizar uma manifestação de antigos combatentes, a porta do palácio presidencial, o general “Kopelipa” convocou o então delegado do SINSE de Luanda, António Gamboa Vieira Lopes e o responsável da polícia de Luanda, a comparecerem, na Casa de Segurança da PR, a 26 de Maio daquele ano de 2012.
Elizabeth Ramos Frank, a então comandante da policia de Luanda, estava ausente do país, por razões de saúde e em seu lugar participou na reunião, o seu adjunto para as questões operacionais, o Comissário Dias do Nascimento Fernando Costa, na qualidade de comandante em exercício da Policia Nacional de Luanda.
Reunidos na presença do general Leopoldino Fragoso do Nascimento e de um outro oficial general da PR, identificado por “Filomeno”, o general “Kopelipa” teria dado orientações aos dois responsáveis convocados (Vieira Lopes e Dias do Nascimento) no sentido de abortarem a pretensa manifestação detendo os seus principais organizadores.
Porém, no dia em que ocorreu a operação, e após terem localizado os mentores da manifestação, o então delegado do SINSE de Luanda, António Vieira Lopes, tratou de repassar para o comandante provincial em exercício Dias do Nascimento Fernando Costa, solicitando que Alvés Kamulingue fosse capturado e entregue às autoridades competentes, conforme as orientações recebidas da Presidência da Republica. Este por sua vez, terá contactado o director da investigação provincial de Luanda (DPIC), Amaro Neto que colocou os seus homens a disposição para auxiliar a operação.
De lembrar que Manuel Miranda, na altura dos factos chefe do departamento de investigação criminal da Ingombota revelou em Tribunal que nas vésperas dos preparativos do assassinato de Kamulingue, ele recebeu um telefonema de Amaro Neto orientando-o a criar uma equipa e contactar o delegado do SINSE em Luanda para auxilia-lo numa missão, todavia não especificada.
Contrariando as orientações que lhes foram dadas pela Casa de Segurança, o activista Alves Kamulingue acabaria por ser assassinado por dois disparos efectuados por um agente da policia nacional, Francisco Tenda Daniel “Kiko”, que em tribunal revelou ter apenas recebido orientações superiores.
Conforme ja avançado, a ocorrência da reunião do dia 26 de Maio de 2012, orientada pelo Chefe da Casa de Seguranca da PR, general “Kopelipa” foram omitidas no processo de instrução da Procuradoria Geral da República sob alegação de constituir “segredo de Estado”.
Por outro lado, os executores do crime foram superiormente instruídos a assumirem o crime em tribunal - embora com algumas alterações - com a garantia de que viriam a sua “situação resolvida” (entenda-se soltos mesmo após serem condenados). De entre as orientações, os executores foram instruídos a não implicarem o então comandante em exercício de Luanda, Dias do Nascimento Fernando Costa por se tratar de um comissário que no ver das autoridades causaria embaraços a imagem do Estado. O comissário Dias do Nascimento entra no processo apenas como declarante e não como arguido, como está o seu colega do SINSE, António Vieira Lopes.
Francisco Tenda Daniel “Kiko”, foi também orientado a assumir o crime de forma fria – mas com detalhes falsos - para facilitar o andamento do julgamento e causar a impressão de que as autoridades estão devidamente comprometidas em ver o caso resolvido.
Em Tribunal, o agente “Kiko”, alegou que fez apenas um disparo e que virou o rosto para não ver o que estava a fazer, quanto que na verdade ele efectuou dois disparos; um na cabeça e outro no peito do activista.
Os agentes da policia que forem condenados pela morte de Alves Kamulingue deverão cumprir alguns meses na prisão para de seguida serem soltos e provavelmente despachados para as províncias de forma a não serem vistos. Para além da soltura que os mesmos beneficiarão, há conhecimento de que receberam cada 50 mil dólares, uma casa para cada no bairro Zango, e uma viatura de marca Prado, que já se encontram com os seus familiares.