Luanda - Um geólogo russo estudava os minerais da quarta maior mina de diamantes do mundo quando encontrou uma pegada fossilizada da era Cretácea Inferior, a que sucede o Jurássico. O paleontólogo português Octávio Mateus viajou para Angola, onde analisou a mina de Catoca e o fóssil. Juntamente com a equipa, fizeram parar os trabalhos de extração. Mas será que chegaram a uma conclusão?

Fonte: Lusa

Foi num estrato de terra com 118 milhões de anos, na mina a céu aberto com mais 300 metros quadrados, que o geólogo Vladimir Pervov encontrou, em dezembro de 2010, a pegada. Esta mina de diamantes tem uma produção anual de mais de seis milhões de quilates.

"Vladimir ficou surpreendido com a forma estranha da pegada e enviou-me fotografias por e-mail", recorda o investigador português da Universidade Nova de Lisboa (UNL). Já no local da descoberta, um buraco semelhante a um estádio gigante com bancadas, Mateus encontrou outra pegada e, depois, outra. No total, deparou-se com mais de 60.


Interrupção da extração

Depois de encontradas quase sete dezenas de marcas de patas, aconteceu o inesperado. A Sociedade Mineira de Catoca – formada pelas empresas mineiras Endiama (Angola), Alrosa (Rússia), LLV (China) e Odebrecht (Brasil) – decidiu interromper a extração de pedras preciosas e parar os trabalhos na mina.

"É uma história fantástica. As minas de diamantes em África não têm boa reputação. É a primera vez que acontece algo assim", afirmou o paleontólogo português. "Com isto, a empresa optou por parar a atividade, não por obrigação da lei, mas porque se deram conta do valor que tem a descoberta para o património cultural angolano", acrescentou Mateus.


"Desconheço os moldes concretos, mas interromper a extração de diamantes pode por em causa centenas de milhares de euros", disse o investigador da UNL citado pelo El País. Ainda assim, o grupo de investigadores PaleoAngola, que se dedicou ao estudo destas pegadas, ficou satisfeito com a decisão da empresa.

Marcos Marzola, o mais novo paleontólogo da equipa, considerou "excecional que a empresa Catoca detivesse toda a atividade mineira durante uns oito meses". Às centenas de milhares de euros de eventual prejuízo, talvez venha a ser preciso acrescentar alguns números no futuro, uma vez que os estudos foram feitos apenas à superfície.

De quem são as pegadas?

O paleontólogo holandês Anne Schulp, do museu de história natural Naturalis, afirma que ainda há uma grande quantidade de trabalho para fazer, porque até agora só se procurou à superfície e não se identificou ainda o animal que deixou as pegadas.

Octávio Mateus anunciou, no encontro anual da Sociedade de Paleontologia de Vertebrados que decorreu na passada quarta-feira em Berlim, que algumas das pegadas eram de "um mamífero do tamanho de um guaxinim, de uma época em que a maioria era pequena como ratos".

Os especialistas não sabem qual foi o animal que passou pelo local há 118 milhões de anos, até porque nunca se encontrou um mamífero de tamanho suficiente para deixar uma pegada com tais dimensões. "Oxalá soubéssemos o que é", assinalou o paleontólogo Schulp.

Dinossauro, mamífero ou crocodilo?

A única pista que têm é os restos de um mamífero, pouco mais alto do que meio metro, que viveu na China cerca de cinco milhões de anos depois. Tendo em conta a distância geográfica e temporal, não se acredita que haja relação.


"Das pegadas de Catoca não podemos dizer muito mais além de que foram feitas por um animal com forma de mamífero, sobretudo porque algumas estão mal conservadas", lembrou o italiano Marzola.

Foi ele quem primeiro se deu conta de que algumas das marcas cretáceas na mina não era nem de mamífero nem de dinossauro. "Descobri que algumas das pegadas, inicialmente atribuídas a mamíferos, na realidade pertenciam a um animal do Cretáceo relacionado com os modernos crocodilos", assinalou.